Igreja evoca “singularidade genial”
O director do Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura (SNPC), organismo da Igreja Católica em Portugal, evocou na terça-feira a escritora Agustina Bessa-Luís pela sua “singularidade genial, eticamente norteada e esteticamente criativa”.
“O universo romanesco de Agustina é atravessado pela volúpia ante o sentido trágico da vida, mas também por um sentido de orgulho perante o insondável abismo da morte”, escreve José Carlos Seabra Pereira, professor associado da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, num texto divulgado pelo SNPC, assinalando o falecimento da vencedora do Prémio Camões em 2004.
O responsável destaca referências a figuras como Santo António ou Santo Inácio de Loiola, bem como uma “aura de predestinação e sortilégio com conotação bíblica ou mítica”.
“Essa é a componente profética, sibilina, do discurso de Agustina: de facto, não é a tia Quina a verdadeira Sibila, mas sim a escrita agustiniana, configurada como vindo do acesso a (ou conhecimento de) uma verdade superior, que depois lhe cabe cifrar para os leitores”,sublinha o director do SNPC.
Já o director do semanário da diocese do Porto, Voz Portucalense, assina um texto de homenagem à falecida escritora, que considera “um nome cimeiro da literatura portuguesa”.
“Agustina de Bessa-Luís é uma figura tutelar do nosso universo cultural. Ela soube estar em cima ou ao lado, de todos os dramas humanos, com o mais profundo sentido das nossas limitações. Pela sua escrita passam as generosidades e as dúvidas, as transgressões e as fraquezas humanas”, escreve Manuel Correia Fernandes.
O bispo do Porto presidiu às exéquias da escritora que faleceu na passada segunda-feira aos 96 anos de idade.
Agustina Bessa-Luís, natural de Vila Meã, no Concelho de Amarante, recebeu em 2004 o Prémio Camões, cujo júri destacou uma obra que “traduz a criação de um universo romanesco de riqueza incomparável, contribuindo para o enriquecimento do património literário e cultural da língua comum”.
Em comunicado, o Presidente da República Portuguesa, Marcelo Rebelo de Sousa, prestou homenagem à figura de “criadora” e “cidadã”, como “retrato da força telúrica de um povo”.
O Governo, por indicação do Primeiro-Ministro, António Costa, decretou um dia de luto nacional.
In ECCLESIA