A MESA DA ÚLTIMA CEIA

A MESA DA ÚLTIMA CEIA

A Relíquia Altar

Sobre ela estiveram pousadas as mãos de Jesus e dos Apóstolos, e tudo o que serviu para a instituição da Eucaristia na Última Ceia. Foi o primeiro altar eucarístico da História. A tradição diz que está na Basílica de São João de Latrão, em Roma, há mil anos. Como lá foi parar é uma história ainda por descobrir.

A Última Ceia com os seus discípulos, onde Jesus instituiu a Eucaristia, aconteceu numa mesa, como nos narram os Evangelhos de Mateus, Marcos e Lucas. Tomemos o texto segundo São Mateus: «Ao cair da tarde, Jesus pôs-Se à mesa com os doze discípulos. Enquanto comiam, Jesus tomou um pão e, tendo pronunciado a bênção, partiu-o, distribuiu-o aos discípulos e disse: “Tomai e comei, isto é o meu corpo”. Em seguida, tomou um cálice, deu graças e deu-lho, dizendo: “Bebei dele todos, pois isto é o meu sangue, o sangue da aliança, que é derramado em favor de muitos, para a remissão dos pecados”» (Mt., 26,20.26-28).

Pouco se sabe da história da relíquia da mesa da Última Ceia, mas a Basílica de São João de Latrão (a primeira catedral do mundo), em Roma, reclama a sua posse há mais de mil anos. Na capela do Santíssimo Sacramento, por cima do altar onde está o sacrário, no transepto sul da basílica, por detrás de um precioso baixo relevo da Última Ceia, de prata maciça dourada, da autoria de Curzio Vanni, do Século XVI, estão guardadas duas tábuas desta mesa, de madeira de cedro, com cerca de 60 centímetros de largura e 1,20 metros de cumprimento cada uma. Segundo a tradição, estas teriam sido levadas para Roma pelo imperador Tito no ano 70, juntamente com outros objectos litúrgicos preciosos, depois da primeira guerra judaica e da destruição do Templo de Jerusalém. Não se sabe ao certo quando e em que circunstâncias esta relíquia chegou à basílica. Nicoletta De Matthaeis, no seu blogue “reliquiosamente.com”, considera que não foram feitos estudos sérios que determinem o percurso desta relíquia de Jerusalém até à Basílica de São João de Latrão. Mas graças à Tabula Magna Lateranensissabemos que antes do Século XIII esta já fazia parte do tesouro da basílica.

Tabula Magna Lateranensisé um painel em mosaico do Século XIII onde estão elencadas todas as relíquias presentes na basílica lateranense e na Santa Sanctorum (ou capela de São Lourenço, no cimo da Escada Santa), escrito em Latim, que actualmente se encontra à esquerda da porta de entrada da sacristia da Basílica de São João de Latrão. Antes este painel estava por detrás do altar maior da basílica constantiniana, onde o Papa Leão X o fez colocar. A escrita do mosaico diz assim: “Basílica dedicada ao Salvador, a São João Baptista e a São João Evangelista. Altar de madeira que os santos pontífices possuem desde os tempos dos Apóstolos e sobre o qual celebravam as missas nos subterrâneos e em diferentes lugares escondidos por causa das violentas perseguições. Por cima desse está a mesa do Senhor sobre a qual Cristo ceou com os discípulos no dia da Última Ceia. Neste altar existem duas ampolas que contêm o sangue e a água que brotaram do costado de Cristo. Ali está também a manjedoura de Cristo. A sua túnica sem costura e o manto púrpura. Está ainda o sudário de linho colocado sobre a sua cabeça e o pano com que lavou os pés aos discípulos. Estão ainda restos dos cinco pães de cevada; das cinzas e do sangue de São João Baptista, e das suas vestes de pele de camelo; um pouco do maná do túmulo de São João Evangelista e da sua túnica. Também uma parte das correntes com que foi algemado e levado para Éfeso. A tesoura com que lhe foi cortado o cabelo por ordem do imperador Domiciano. Precisamente debaixo deste altar está a Arca da Aliança dentro da qual estão duas tábuas da Lei. O bastão de Moisés e o bastão de Aarão; aqui está o castiçal de ouro, o turíbulo de ouro cheio de incenso e uma urna de ouro cheia de maná e dos restos dos pães da oferta. Tito e Vespasiano fizeram-nos trazer de Jerusalém para a urbe [Roma] juntamente com as quatro colunas ainda presentes, como ainda hoje se pode ver no arco do triunfo que foi erigido pelo Senado e pelo povo romano junto da Igreja de Santa Maria Nova, depois da vitória para sua perpétua memória”.

Saber se esta é ou não a verdadeira mesa onde Jesus celebrou a Última Ceia com os seus discípulos não é assim tão fundamental, porque não são as relíquias que fazem a fé, mas é a fé que faz as relíquias. E o mais importante é que a mesa da Última Ceia de Jesus com os discípulos remete para o dom mais precioso que Ele deixou à sua Igreja. Na Exortação Apostólica Sacramentam Caritatis, Bento XVI escreve: “No sacramento eucarístico, Jesus continua a amar-nos ‘até ao fim’, até ao dom do seu corpo e do seu sangue. Que enlevo se deve ter apoderado do coração dos discípulos à vista dos gestos e das palavras do Senhor durante aquela Ceia! Que maravilha deve suscitar, também no nosso coração, o mistério eucarístico!” (n. 1).

Outra curiosidade é que no altar papal da basílica está outro pedaço de madeira igualmente importante que a tradição diz ser a mesa onde São Pedro e os Papas sucessivos celebraram a Eucaristia em Roma. Há certamente aqui uma espécie de ligação entre a mesa da Última Ceia e a mesa onde o primeiro Papa e os seus sucessores celebraram a Eucaristia, juntas no mesmo local, como que a testemunhar um sacrifício iniciado e nunca acabado em benefício de toda a Humanidade.

JOSÉ CARLOS NUNES

Família Cristã

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Outras relíquias associadas

Na capela do Sancta Sanctorum (ou de São Lourenço), que se acede pela Escada Santa, no edifício ao lado da Basílica de São João de Latrão, em Roma, na parede à esquerda para quem olha o altar, está pendurada numa moldura parte do banco onde Jesus Se sentou na Última Ceia. Nessa moldura está escrito: “Pars lectuli in quo D.N. feria V. in Coena recubit” (parte do banco em que nosso Senhor esteve sentado na Ceia da Quinta-feira Santa). Mas mais dados históricos sobre o mesmo não se conhecem.

A catedral de Coria-Cáceres, em Espanha, guarda o que se diz ser a toalha que cobriu a mesa na Última Ceia. Trata-se de uma relíquia única no mundo, uma toalha de linho com bandas decorativas azuis, com 4,42 metros de cumprimento e 92 centímetros de largura. A tradição conhece-a como Toalha da Última Ceia, e que foi encontrada muito perto do ano 1370, e certamente antes do ano 1400, guardada num dos cofres desenterrados durante as obras sob o piso da catedral de Coria. Sabe-se que até 1791 foi apresentada para a veneração dos fiéis, mas para “preservar a relíquia da crescente barbárie, o Cabido viu-se obrigado a suspender todos os actos públicos de veneração. Ao fim de várias décadas, com o cessar das exposições, a relíquia caiu no esquecimento. Ainda assim, todos os bispos da diocese de Coria, segundo a sua denominação histórica, e de Corja-Cáceres a partir de 1959, mantiveram uma especial veneração ao Sagrado Mantel, utilizando-o para colocar sobre o altar no dia de Quinta-feira Santa ou expondo-o em datas dedicadas à devoção popular”, refere o site da catedral.

LEGENDA:

A toalha que – supostamente – cobriu a mesa da Última Ceia.

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