Ele nos amou “até ao fim”
«Com o coração repleto de alegria tirareis água pura das fontes da salvação!» (Is., 12:3). Em 1956, o Papa Pio XII intitulou a sua Encíclica sobre o Sagrado Coração de Jesus com duas palavras desse texto: Haurietis Aquas(“Bebereis águas”, título da edição portuguesa).
A fonte de água viva é o Coração do Redentor. A maior manifestação do amor de Deus encontra-se na Cruz quando do lado de Cristo jorrou sangue e água (Jo., 19,34). A espiritualidade e devoção ao Sagrado Coração, que foi promovida particularmente por Santa Margarida Maria Alacoque no Século XVII, encontra neste texto uma significativa raiz bíblica.
Tertuliano associou o lado aberto de Cristo com a rocha de Meribá (Núm., 20,11), que Moisés golpeou com o seu cajado e de onde jorrou água para matar a sede do povo. Por isso, afirma que o lado trespassado de Cristo é a fonte do Baptismo (“De Baptismo” 4,4 SCh 35,70). Santo Ambrósio foi ainda mais longe ao indicar que, tendo Eva sido criada a partir do lado adormecido de Adão, então a Igreja nasceu do coração traspassado de Cristo que acabara de morrer na cruz (Lc., 2, 85-89, PL 15 ,1666-1668). De facto, o coração do Salvador é o maior símbolo desse “mais terno, clemente e paciente amor de Deus” (HA 29).
A espiritualidade do Sagrado Coração requere que desejemos extrair desta fonte de salvação o maior Dom de todos, entre os quais Jesus falou à Samaritana: «Se conhecesses o dom de Deus» (Jo., 4,10). Este é o mesmo Dom que Ele entregou quando morreu na cruz: «Então, assim que experimentou o vinagre, exclamou Jesus: “Está consumado!” E, inclinando a cabeça, entregou seu espírito» (Jo., 19,30). É o dom do amor e a missão de reconciliação que o Ressuscitado confiou aos seus discípulos: «Soprou sobre eles e disse-lhes: “Recebei o Espírito Santo. Aqueles a quem perdoardes os pecados ser-lhes-ão perdoados”» (Jo., 20,22-23).
Como discípulo amado, que testemunhou a passagem de Jesus na Cruz, também Tomé viveu a profunda experiência do amor de Jesus, quando o Senhor o desafiou: «“Estende tua mão e coloca-a no meu lado”» (Jo., 20,27). Este episódio suscitou a mais ousada confissão de fé de todos os Evangelhos: «Meu Senhor e meu Deus!» (Jo., 20:28).
A espiritualidade e devoção ao Sagrado Coração não tem nada a ver com sentimentalismo (cf. HA 8); pelo contrário, exige coragem e empenho total para crescer em comunhão e intimidade com Jesus. Cristo capacita-nos a amar como Ele faz através do dom do Espírito: «Da mesma maneira como me enviaste ao mundo, Eu os enviei ao mundo» (Jo., 17,18). Também eles são chamados a dar a vida num “amor de doação e sacrifício” (cf. Jo 15,12). Assim, no final do Evangelho de João, o Senhor confirma Pedro no seu ministério, que deve ser baseado no seu amor a Jesus, um amor «até o fim» (Jo., 13,1). Compartilhando o mesmo amor de Cristo, Jesus antevê que Simão Pedro “glorificará a Deus” por meio de sua própria morte (Jo., 21:19).
Pe. Eduardo Emilio Agüero, SCJ