A “dança” dos presidentes

Sem grande novidade ou impacto político, terminaram os congressos do PSD e CDS, destinados a confirmar e/ou a alterar a liderança dos partidos.

Passos Coelho, à falta de um outro candidato disposto a arriscar perder, voltou a ser reeleito presidente do PSD, não tanto pelo seu recente apelo de regresso à social-democracia, enquanto tentativa vã de posicionar o partido ao “centro” do espectro político português, face à “deslocação” do PS para a chamada “esquerda” parlamentar, mas porque convenceu os seus apoiantes de que subiria brevemente ao poder, com a queda do actual Governo socialista. Se tal não vier a acontecer e o actual Governo se mantiver durante toda a legislatura, restará a Passos Coelho (que só concebe ser Primeiro-Ministro na política portuguesa) continuar a agarrar-se aos “cacos” da sua social-democracia, para se tentar limpar da imagem consistente de um liberalismo económico, com que governou Portugal durante os últimos quatro anos e que tantos prejuízos causou, nomeadamente às camadas da população portuguesa mais desprotegidas.

No caso do congresso do CDS, assistimos à “entronização” do irrequieto Paulo Portas, a uma maquilhagem do que foi o seu papel na política portuguesa e a uma encenação da sua “irrevogável” saída da política activa. Sem dizer “ao que vai”, Portas abriu a porta a uma nova líder do CDS, Assunção Cristas, na expectativa de que ela possa assegurar “ao que vem” agora o CDS, ou seja, querer ocupar um lugar (eventualmente vago) no chamado centro-direita da democracia portuguesa, após a “intenção” de Passos em “querer” retornar à social-democracia do centro-esquerda. À espera, no “conforto” de Bruxelas, de um deslize da simpática presidente Cristas, qual Margaret Thatcher (!!!), ficou Nuno Melo, um franco-atirador da jovem direita mais ambiciosa.

O presidente do Conselho de Ministros, António Costa, caminhando no sentido de valorizar que “cada dia é mais um dia”, lá vai governando como pode, entre as pressões de Bruxelas (que não quer admitir um Governo desta natureza), dos seus apoiantes parlamentares (que não perdem a oportunidade de lhe deixar o seu ferrão), e das associações de produtores e transportadores, que “descobriram” agora que podem utilizar a sua força, como os sindicatos dos trabalhadores o fizeram no passado recente. Pena é que não se manifestem em Bruxelas (juntamente com o Governo português), junto dos principais responsáveis pelas questões que os afectam, tal como tantas outras associações europeias aprenderam a fazer.

Por fim, e para desdramatizar esta aritmética presidencial, sediada numa matemática descritiva da intenção dos seus “valetes”, uma palavra para o agora Presidente da República Portuguesa.

Confesso ter ficado com um gosto amargo do comentador Marcelo Rebelo de Sousa. Achei-o, quase sempre, um interveniente político mais destinado a encenar golpes palacianos na política portuguesa, do que a abraçar a portugalidade das nossas gentes, na defesa do nosso património comum.

Pois confesso, igualmente, de que estou francamente bem impressionado com a sua tomada de posse e com os sinais descontraídos, populares e de enaltecimento das qualidades e capacidades do nosso povo, com que nos brindou na sua estreia presidencial.

Não sei se esta impressão positiva para com o novo Presidente se deve ao contraste com a impressão negativa que nos deixou o anterior. Sei, no entanto, que há uma diferença significativa entre falar para o povo (como ele fez durante tantos anos, através de canais televisivos) e conviver com ele e, nesta última relação de proximidade, aprende-se muito mais do que nas escolas dos aparelhos partidários.

Embora todos saibamos que o papel do Presidente da República está circunscrito a deveres não-governamentais e o seu poder esteja limitado à influência que possa exercer na política portuguesa, se a sua actual postura não for um exercício de fachada, julgo poder afirmar que “o Marcelo” tem todas as condições para vir a ser, de facto, o Presidente de todos os portugueses.

Nós, como tantos outros povos, precisamos de um líder que refaça a nossa auto-estima e que, sem nos deixar “encarneirar” num seguidismo ignorante aos seus chefes, valorize a nossa inteligência e criatividade, na procura das melhores soluções para o País.

Saiba o novo Presidente interpretar o que nos vai na alma e o povo saberá corresponder.

LUIS BARREIRA

Leave a Reply

Your email address will not be published. Required fields are marked *