4º DOMINGO DA QUARESMA – Ano C – 30 de Março

4º DOMINGO DA QUARESMA – Ano C – 30 de Março

Filhos errantes

O Quarto Domingo da Quaresma é chamado Domingo Laetare (que em Latim significa “alegrai-vos”), dado que o tema de hoje nos recorda a infinita misericórdia e paciência de Deus. Alegramo-nos porque nos recordamos que, apesar das nossas fraquezas e falhas, Deus, nosso Pai, está sempre à espera do nosso regresso.

No Evangelho de hoje, vemos o contraste entre dois filhos, nenhum dos quais é perfeito.

Um deles deseja a independência. Quer libertar-se da autoridade do pai. Por fim, apercebe-se de que deixar o pai significa também deixar para trás tantas coisas boas que tinha como garantidas.

É o que nos acontece também quando ofendemos Deus, quando lhe dizemos “não”. Ficamos com uma sensação de vazio. Mas temos a certeza: «Não desprezarás, ó Deus, um coração quebrantado e contrito» (Salmo 51, 17). Quando nos acusamos dos nossos pecados na confissão, tal como o filho mais novo admitiu a sua falta – «Pai, pequei contra o céu e diante de ti; já não sou digno de ser chamado teu filho; trata-me como um dos teus empregados» (Lucas 15, 18-19) –, a misericórdia de Deus acolhe-nos no seu abraço amoroso.

O outro filho, o que ficou em casa, também não está isento de culpa. Talvez pensasse que estava. Mas a ferida revela-se quando o irmão regressa e é acolhido calorosamente pelo pai: «Há tantos anos tenho trabalhado como um escravo para ti sem nunca ter desobedecido a uma só ordem tua. Contudo, tu nunca me ofereceste nem ao menos um cabrito para que pudesse festejar com os meus amigos» (Lucas 15, 29).

Estas queixas surgem quando nos comparamos com os outros. São Tiago chama a esta atitude “inveja amarga” (cf. Tg., 3, 14), que é «terrena; não celestial, mas demoníaca» (versículo 15).

Contraste-se com a atitude de São Paulo: «Agora me alegro nos meus sofrimentos por vós» (Colossenses 1, 24). Alegro-me!

São Tiago diz que «a sabedoria que vem do alto é antes de tudo pura, repleta de misericórdia e de bons frutos, imparcial e sem hipocrisia» (versículo 17).

Pode acontecer-nos que façamos muito pelos outros em casa, no trabalho ou na igreja, que nos cansemos no serviço. Mas é preciso ter cuidado para que o nosso zelo não se torne amargo.

O zelo autêntico vem da caridade. Porque nasce da intensidade da caridade, o zelo apresenta as características que acompanham a caridade: é paciente, bondoso, não é invejoso, não se vangloria, não é arrogante, não é mal-educado, não insiste no seu próprio caminho… (cf. 1 Cor., 13, 4-5.7).

O teste do verdadeiro zelo é exactamente o mesmo que a fonte ou nascente de onde provém: a caridade. Por outras palavras, o verdadeiro zelo nunca vai contra a caridade, porque, se o fizesse, estaria a matar a sua própria fonte.

Quando o verdadeiro zelo é paciente e manso, evita-nos a irritação inútil contra o mal, a indignação vã, o sermão indiscriminado, a amargura, a queixa contra os outros.

Quando o zelo é verdadeiro, aprendemos a alegrar-nos com os outros, mesmo quando o seu caminho é diferente do nosso.

A atitude do Pai para com o segundo filho é também uma atitude de compreensão e de misericórdia. Não ficou à espera que o filho entrasse. Saiu ao seu encontro e escutou-o. Assim é também o amor de Deus, nosso Pai, por nós. Ele conhece-nos, compreende-nos, acena-nos para que regressemos à alegria de casa.

Pe. José Mario Mandía

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