28º DOMINGO COMUM – Ano C – 9 de Outubro

28º DOMINGO COMUM – Ano C – 9 de Outubro

O profundo poder de alcance do amor curador de Jesus (Lucas 17:11-19)

Uma vez fui visto por um dermatologista e saí da consulta com a receita de uma pomada para aplicar numa erupção cutânea. Fiquei surpreendido quando o médico me perguntou sobre os meus hábitos alimentares, o meu padrão de sono e, acima de tudo, o meu humor geral e estado emocional. Este médico ajudou-me a perceber que há uma forte ligação entre a pele e as emoções.

A pele é o maior órgão do corpo, cuja principal função é proteger-nos de factores externos que podem danificar as nossas células. Sob a pele, vasos sanguíneos e suor regulam a temperatura do corpo. Os terminais de muitos nervos também estão conectados à pele, que fornecem informações “em primeira mão” ao cérebro quanto a dor, prazer, temperatura e outros factores ou pressões vindas de fora.

A ligação entre a nossa pele e o nosso humor, especialmente o “stress”, está bem documentada na literatura médica: há uma correlação entre as doenças de pele e a modo como lidamos com os limites emocionais e relacionais, ou seja, como vivemos os nossos relacionamentos. Pensemos nisto: uma única palavra errada ou uma acção tola, sem sentido, pode fazer com que todos os vasos sanguíneos da pele se abram, fazendo com que nosso rosto fique vermelho.

Esta conexão entre mente, emoções e corpo torna-se mais evidente nas doenças de pele mais graves: o nosso estado psicológico afecta o nosso sistema imunológico e, portanto, a condição da nossa pele, portanto, a doença daí resultante causa-nos problemas psico-sociais que afectam a nossa vida, causando solidão e dor. O actual surto de “Monkeypox”, por exemplo, está a causar em alguns países graves problemas de discriminação.

A lepra é o exemplo mais poderoso do que acabei de explicar. Curiosamente, esta doença é causada por um bacilo que primeiro danifica o sistema nervoso próximo à superfície da pele, e não a própria pele como poderíamos esperar!

No passado, o estigma social causado por esta doença infecciosa, agravado pela desfiguração dos membros e principalmente da face, fazia com que a pessoa acometida por esta doença se tornasse um pária social, obrigado a viver isolado e afastado de qualquer religião e actividade social. Um leproso era simplesmente considerado como alguém amaldiçoado por Deus. Felizmente, agora sabemos que a hanseníase não é facilmente transmissível, sendo perfeitamente curável se detectada nos estágios iniciais.

Não é à toa que no Evangelho deste Domingo (Lucas 17, 11-19) Jesus está mais do que disposto a curar os dez leprosos que gritavam de longe: «Jesus, Mestre, tende piedade de nós». Jesus tornou-se homem para remover todas as barreiras que existiam entre as pessoas e Deus, incluindo a maldição da lepra. Ele convidou os leprosos a nEle iniciarem um caminho de fé e confiança, enviando-os a ver os padres, conforme exigido pela lei, que acabariam por certificar a sua cura e reintegrá-los na vida social e religiosa.

A cura deu-se enquanto os leprosos estavam a caminho com o objectivo de enfatizar que é preciso fazer uma viagem interior, que tem diferentes etapas, para que a cura de Deus alcance os níveis mais profundos do nosso ser e permeie toda a nossa vida.

Caso em questão: nove dos leprosos não continuaram a sua jornada de encontro com Jesus. Apenas um do grupo, o samaritano, «observando que fora curado, retornou, louvando a Deus em alta voz. E, prostrando-se, com o rosto em terra aos pés de Jesus, muito lhe agradeceu» (versículos 15 e 16). Ao fazê-lo, o samaritano demonstrou que a graça que recebeu através do milagre de Jesus trespassou a pele e atingiu profundamente o seu coração. Depois de curado, por e simplesmente voltou ao seu antigo modo de vida, mas tornou-se uma pessoa diferente, pois fora transformado. Entendeu que Jesus era a fonte de um poder mais forte do que qualquer doença, mal e morte: ou seja, a Misericórdia e o Amor de Deus. Somente ao agarrar-se a Jesus poderia ter deixado para trás uma existência dominada pelo medo da morte, isolamento dos outros e separação de Deus. Esta é a verdadeira cura. Este é o verdadeiro milagre.

Quanto aos outros nove leprosos, permaneceram ao nível da pele, isto é, não quiseram ir ao fundo da questão, mas há que compreender as suas razões. Quando a vida se torna desconfortável, quando nada acontece como desejamos, apenas nos viramos para Deus no sentido de obter algum alívio que nos possa ajudar a viver um pouco mais confortavelmente a nível físico, emocional, espiritual, social e financeiro. Mas este é apenas um bem-estar superficial, que não traz felicidade duradoura, porque outros problemas acontecem inevitavelmente. Pelo contrário, o samaritano continuou o seu caminho espiritual que o levou à verdadeira cura e salvação: «Levanta-te e vai», disse-lhe Jesus no final da passagem, recorrendo a este poderoso verbo que nos lembra a Ressurreição. O samaritano tornou-se uma nova pessoa, detentora de uma nova vida.

Na minha oração desta semana quero evitar pedir a Jesus (como fiz com o meu médico) apenas uma pomada milagrosa para aliviar os meus sofrimentos internos e externos, mas pedir-Lhe a força e a gratidão necessárias para continuar a minha jornada, juntamente com Ele, a caminho da minha Jerusalém, da minha verdadeira e profunda cura. Espiritualmente falando, não adianta limpar as folhas de uma planta, se não regarmos também as suas raízes.

Pe. Paolo Consonni, MCCJ

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