20º DOMINGO COMUM – Ano B – 18 de Agosto

20º DOMINGO COMUM – Ano B – 18 de Agosto

Verdadeiro pão para a vida do mundo

Na nossa comunidade religiosa dehoniana em Macau temos uma amiga chamada Irene, que mostra o seu amor por nós quando entra em nossa casa todos os anos, no Ano Novo Chinês, para a decorar de vermelho com grinaldas, balões e fitas com caracteres chineses a rezar pela paz e felicidade. Ela e outros bons amigos também partilham comidas típicas chinesas em cada época festiva: Festival da Primavera, Festival do Meio Outono, Festival do Barco-Dragão, Festival do Solstício de Inverno…

Algo de semelhante acontece durante o Advento, quando a Irene passa dias a preparar o Presépio na nossa sala-de-estar e a conceber belos arranjos florais para a nossa capela.

Na Primeira Leitura de hoje, do Livro dos Provérbios (9, 1-6), a Sabedoria é personificada e apresentada como uma mulher, tão cuidadosa como a Irene, que constrói uma casa com sete colunas, prepara um jantar e envia os seus servos a convidarem quem não tem experiência. Na Bíblia, a Sabedoria é um dom de Deus cultivado no discernimento quotidiano da sua vontade. A Palavra de Deus precisa ser actualizada no aqui e agora de cada pessoa e comunidade que é chamada a experimentar a bondade do Senhor e as suas maravilhas, e a aceitar as correcções e os castigos de Deus como um caminho de maturidade e purificação.

A virtude que acompanha a Sabedoria é a prudência, que se opõe à insensatez. Os jovens e os adolescentes “carecem” de sabedoria porque ainda não têm experiência. Essa experiência consegue-se com acompanhamento – uma espécie de orientação espiritual – e com o exemplo dos “sábios” que se “alimentaram” desse dom de Deus. Os sábios do Antigo Testamento tinham os pés bem assentes no chão para enfrentar os desafios da vida familiar e comunitária, nas circunstâncias sociopolíticas do seu tempo. São Paulo VI diria: “ler os sinais dos tempos”.

Podemos interpretar os sete pilares da casa construída por aquela mulher como os sete dons do Espírito Santo: Sabedoria, Entendimento, Conselho, Fortaleza, Conhecimento, Piedade e Temor ao Senhor (cf. Is., 11, 2).

Esta mulher, a Sabedoria, é uma figura bíblica que antecipa a apresentação do “Verbo de Deus” que “era Deus e estava com Deus” no prólogo do Evangelho de João (cf. Jo., 1, 1). Embora o evangelista não apresente a instituição da Eucaristia na Última Ceia, ela é vivida como fonte de vida para a comunidade joanina. À semelhança da Sabedoria no Livro dos Provérbios, Jesus, o Cordeiro de Deus, convida-nos a comer o seu corpo e a beber o seu sangue, fonte de vida eterna. Ele é a Palavra de Deus, o verdadeiro pão descido do céu, o enviado do Pai que manifestou a Glória de Deus na sua “hora”, a hora da sua “Páscoa”. Foi então que, tendo cumprido tudo o que as Escrituras haviam anunciado, entregou o seu espírito (Jo., 19, 30). Trespassado pela lança do soldado, do seu lado aberto jorrou sangue e água, símbolos da nova e eterna aliança e do Espírito Santo que renova toda a Criação.

A Eucaristia é um banquete. Mas é preciso recordar que é um banquete que o Senhor Jesus preparou, oferecendo-se a si mesmo na cruz; altar onde nos deu o seu corpo e sobre o qual derramou o seu precioso sangue.

Este Sacramento do corpo e do sangue de Cristo não é um alimento exclusivo para nós, católicos. Não, de modo algum! A Eucaristia é o dom de Deus para a vida do mundo; ela deve impregnar toda a nossa vida: Jesus na Eucaristia transforma-nos num dom para o mundo, para os nossos colegas de trabalho, para os turistas que percorrem as nossas ruas, para as crianças e jovens das nossas escolas católicas, para os nossos escuteiros, para os muitos idosos e doentes que estão em lares servidos por freiras desconhecidas da maioria das pessoas, para os presos que recebem a visita de irmãos e irmãs preocupados das nossas comunidades… Sim, a Eucaristia é fonte de vida para o mundo, e em Macau, Cidade do Nome de Deus, mãe de tantos missionários, somos chamados a torná-la presente e actuante no nosso aqui e agora, a partir das pequenas igrejas das nossas famílias e das nossas comunidades paroquiais, na situação sociopolítica em que vivemos, com coragem, com a força que este alimento nos dá.

Pe. Eduardo Emilio Agüero, SCJ

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