19º DOMINGO COMUM – Ano A – 13 de Agosto

19º DOMINGO COMUM – Ano A – 13 de Agosto

A humildade é um salva-vidas melhor do que um ego excessivamente confiante

«Pedro, deixando o barco, andou por sobre as águas e foi na direcção de Jesus. Todavia, ao reparar na força do vento, teve medo, e começando a afundar, gritou: “Senhor! Salva-me!”. Jesus estendeu imediatamente a mão, segurou-o e lhe disse: “Homem de pequena fé, por que duvidaste?”» (Mt., 14, 29-31).

No noticiário de hoje falou-se da inundação devastadora em Pequim, que fez pelo menos vinte mortos e muitos desaparecidos. O dano foi catastrófico. Numa altura em que as mudanças climáticas têm forte impacto no planeta, não é de surpreender todos os eventos devastadores que vêm acontecendo em todo o mundo. Ninguém pode mais sentir-se seguro. Alguns dias atrás, na minha cidade natal, em Itália, uma chuva de granizo danificou telhados, carros e tudo o mais que estava ao ar livre. As pedras de granizo eram do tamanho de laranjas, algo nunca visto. Felizmente, não houve vítimas. Tempestades repentinas são de facto um acontecimento que tem vindo a multiplicar-se no presente.

O povo de Israel teve sempre medo de grandes massas de água, pois na sua mente estas simbolizam a força incontrolável do desconhecido. A última incógnita é a própria morte. Não é de admirar que os discípulos parecessem um pouco relutantes em embarcar na travessia do lago naquela noite; Jesus teve de os “obrigar”. Alguns deles eram pescadores experientes e sabiam dos riscos da travessia. O Evangelho deste Domingo (Mateus 14, 22-33) descreve vividamente como todos nós reagimos quando as tempestades da vida nos atingem.

Em primeiro lugar, todos nos sentimos abandonados por Deus. A ausência de Jesus, que «subiu sozinho a um monte para orar» (versículo 23), representa verdadeiramente a condição da Igreja depois da Ascensão de Jesus. Não sentimos Jesus com os nossos sentidos, mas, no entanto, somos chamados a acreditar no seu poder sobre a morte e sobre outros conceitos “desconhecidos”, e confiar na sua presença providencial.

O barquinho dos discípulos, que simboliza a Igreja, é uma estrutura que não visa segurança e conforto. Deve ser um trampolim que nos permite fazer escolhas pessoais de fé, especialmente em tempos críticos que podem parecer como também estarmos a andar sobre as águas. Enquanto seres humanos, confiar em nós mesmos não é muito natural.

No passado mês de Maio, nós, os Missionários Combonianos, reunimo-nos em Manila. No último dia, tirámos uma folga e fomos para uma praia não muito longe da capital filipina. Tentei convencer um irmão, que não sabe nadar, a tentar boiar de barriga para cima, assegurando-lhe que se relaxasse totalmente a água suportaria o seu peso. Apesar de eu o estar a segurar, não conseguia relaxar o suficiente: as muitas ondas batiam-lhe no rosto, dificultando-lhe a respiração. Tivemos que desistir. Embora a teoria esteja correcta, a prática é muito mais complicada: simplesmente não podemos controlar o movimento do mar, e isso também é verdade nas nossas vidas. Nem sempre encontramos águas calmas e ventos favoráveis na nossa jornada de vida, mesmo seguindo Jesus, sendo irreal esperarmos que um dia o possamos fazer.

Daí que a saída de Pedro do barco, apesar dos ventos e das ondas, seja admirável: sabia muito bem no que se estava a meter. Como ele, somos chamados a dar um salto pessoal de fé várias vezes durante a nossa vida. Por exemplo, quando percebemos que o nosso casamento precisa de grandes ajustes. Ou quando depois de fazermos os votos, começamos a viver as dificuldades da vida em comunidade. Tenho uma amiga que está prestes a dar à luz; hoje nascerá o seu primeiro filho. Ao pedir-me que orasse por ela, consegui perceber que estava com medo. Isto já para não falar de outras situações, como quando recebemos um relatório do nosso médico que nos deixa preocupados. Há momentos na vida em que de repente não temos o controlo da situação e sentimos que estamos também nós a afundar.

A questão é que a fé não é ausência de medo. Até Jesus estava assustado e angustiado no jardim antes de ser preso. O medo é um sentimento; a fé é uma escolha. A fé é estar atento ao vento e às ondas, bem como à fragilidade das nossas circunstâncias, mantendo os olhos fixos em Jesus e orientados para Ele. Na hora do naufrágio, a fé é reconhecer a nossa incapacidade de nos virarmos sozinhos, e clamar: “– Senhor, salva-me!”. Mesmo quando estamos com medo, a fé é continuar a agir de acordo com o que entendemos ser a coisa certa a fazer e confiar que não estamos sozinhos nas águas turbulentas.

Dúvidas e medo acompanham a fé. Mas negar que existem é prova de “pouca fé”. Ao observarmos o percurso de vida de Pedro, vemos muito claramente que o excesso de confiança e um ego pesado e egocêntrico é mais perigoso do que o medo. A humildade é o melhor salva-vidas para enfrentar as tempestades de nossa vida.

Pe. Paolo Consonni, MCCJ

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