17º DOMINGO COMUM – Ano A – 30 de Julho

17º DOMINGO COMUM – Ano A – 30 de Julho

A alegria que ninguém nos pode tirar

«O Reino dos céus assemelha-se a um tesouro escondido no campo. Certo homem, tendo-o encontrado, escondeu-o novamente. Então, transbordando de alegria, vai, vende tudo o que tem, e compra aquele terreno. A pérola de grande valor. Da mesma forma, o Reino dos céus é como um negociante que procura pérolas preciosas. E, assim que encontrou uma pérola valiosíssima, foi, vendeu tudo o que tinha e a comprou» (Mt., 13, 44-46).

A alegria, sem dúvida, faz parte do sentimento de “apaixonar-se”. Mas os casais mais velhos (e também os conselheiros matrimoniais) sabem muito bem que o casamento não pode depender apenas dos sentimentos. Alguém chegou mesmo a afirmar que o sentimento de “apaixonar-se” nem é “amor de verdade”, porque é tão poderoso e atraente que não requer muitas escolhas bem pensadas. Quando o leitor se apaixona, apenas “segue o coração”: a liberdade e a racionalidade humanas não estão totalmente comprometidas. O centro do relacionamento é o sentimento em si, nem mesmo contam as necessidades da pessoa por quem o leitor se apaixona.

Esta sensação de bem-aventurança, inevitavelmente, vai desaparecer, mais cedo ou mais tarde, e quando tal acontece, até o melhor casamento entra em crise. Mas neste ponto, se uma oportunidade for dada, o verdadeiro amor pode surgir. O verdadeiro amor é baseado na realidade do cônjuge, e não na sua idealização. Manifesta-se por meio de acções e escolhas concretas, às vezes dolorosas, onde todas as nossas faculdades racionais e afectivas estão plenamente engajadas.

A alegria que nasce do amor verdadeiro resiste aos desafios da vida e da fragilidade humana. Essa alegria é muitas vezes um tesouro que descobrimos muito depois que a bem-aventurança de “apaixonar-se” desaparece. O mesmo também é verdade na nossa vida religiosa e profissional.

No Evangelho deste Domingo (Mt., 13, 44-52), Jesus compara o Reino de Deus a um tesouro enterrado no campo e a uma pérola de grande valor. As pessoas que os descobriram “de alegria” venderam todos os seus bens para possuí-los.

Podemos imaginar a adrenalina de quem os descobriu. Como quando alguém se apaixona, o entusiasmo alegre é realmente necessário para nos dar a coragem de assumir os riscos envolvidos na tomada de decisões que mudam a vida.

No entanto, este “aumento de adrenalina” também é perigosamente semelhante ao que faz com que os jogadores percam fortunas em apostas imprudentes, ou ao que os investidores sentem quando buscam grandes recompensas de curto prazo em produtos financeiros de alto risco.

A alegria no centro das parábolas deste Domingo é de outro tipo. Santo Inácio de Loyola classifica-a de “consolo espiritual”. Numa série recente de Catequeses, o Papa Francisco explicou que a consolação espiritual “é uma experiência de alegria interior, que permite ver a presença de Deus em tudo; ela revigora a fé e a esperança, assim como a capacidade de fazer o bem. A pessoa que vive a consolação não se rende diante das dificuldades, pois experimenta uma paz mais forte do que a provação. Portanto, trata-se de um grande dom para a vida espiritual e para a vida no seu conjunto. E viver esta alegria interior.

A consolação é um movimento íntimo, que toca o fundo de nós próprios. Não é vistosa, mas suave, delicada, como uma gota de água sobre uma esponja (cf. Santo Inácio de Loyola, Exercícios espirituais, 335): a pessoa sente-se abraçada pela presença de Deus, de uma maneira sempre respeitosa da própria liberdade. Nunca é algo desafinado, que procura forçar a nossa vontade, mas também não é uma euforia passageira”.

Uma boa decisão nunca se baseia apenas na “adrenalina”, porque sentimentos tão fortes podem ser “falsas consolações”, que são, nas palavras do Papa Francisco, “mais barulhentas e vistosas, são mero entusiasmo, são fogos de palha, sem consistência, levam a fechar-se em si mesmas, e a não se preocupar com os outros. No final, a falsa consolação deixa-nos vazios, distantes do centro da nossa existência” (23 de Novembro de 2022).

As decisões tomadas pelo Reino de Deus não nascem do medo, não nascem de chantagens ou compulsões emocionais, mas nascem da gratidão pelo bem recebido, que move o coração a viver generosamente na relação com o Senhor.

Ao observar velhos casais que passaram por todos os altos e baixos da vida, ainda é possível detectar o brilho daquela alegria inicial que sentiram ao se escolherem, uma alegria que não só persistiu, mas também cresceu a meio de todas as dificuldades que enfrentaram através dos anos. As histórias vocacionais que lemos no Evangelho também descrevem o entusiasmo inicial dos discípulos que, ao seguirem Cristo, se enraizaram mais na realidade, se tornaram mais íntimos e, face às falhas pessoais, ainda mais humildes.

Existe um tesouro enterrado no coração de cada pessoa que espera ser descoberto. Alguns podem dizer que é a nossa fé ou a nossa vocação. Alguém pode dizer com razão que o tesouro é o próprio Cristo e a Sua graça salvadora. Não importa como vivemos, pois lembremo-nos: a alegria necessária para fazer escolhas para adquirir este tesouro é interior e irradia para todos os outros aspectos da nossa vida. Persiste mesmo diante das nossas cruzes. E deixa-nos a convicção de que, apesar da nossa miséria, também nós somos tesouros de Deus, por quem Cristo se doou totalmente para nos procurar e nos fazer Seus.

Pe. Paolo Consonni, MCCJ

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