Papa diz que Igreja precisa de um «processo de cura»
A 16ª assembleia geral do Sínodo dos Bispos vai durar até Outubro de 2023, englobando um processo alargado de consulta às comunidades católicas, decorrendo este de forma descentralizada, pela primeira vez, com assembleias diocesanas e continentais. A reunião-magna convocada pelo Papa Francisco tem como tema “Por uma Igreja sinodal: comunhão, participação e missão”. A abertura do Sínodo aconteceu no início desta semana, no Vaticano, sob a presidência do Papa. Nas dioceses católicas de todo o mundo a abertura do Sínodo tem lugar este Domingo, sob a presidência do respectivo bispo.
O Papa disse no último Domingo, no Vaticano, que a Igreja Católica precisa de um «processo de cura», falando na missa que inaugurou oficialmente o processo sinodal que decorre até 2023.
Perante centenas de pessoas reunidas na Basílica de São Pedro, Francisco sublinhou que o Sínodo deve conservar a sua dimensão espiritual, «para que não seja uma convenção eclesial, um congresso de estudos ou um congresso político, para que não seja um Parlamento, mas um evento de graça, um processo de cura conduzido pelo Espírito Santo».
Simbolicamente, a procissão de entrada contou com a presença de um grupo de 25 pessoas “representando todo o povo de Deus e os diferentes continentes”, informou a Santa Sé.
O Papa defendeu que, tal como Jesus Cristo, a Igreja deve seguir pelas «estradas por vezes acidentadas da vida» ao encontro dos outros, porque «Deus não habita em lugares assépticos, em lugares pacatos, distantes da realidade».
«Ao abrir este percurso sinodal, comecemos todos (Papa, bispos, sacerdotes, religiosas e religiosos, irmãs e irmãos leigos) por nos interrogar: nós, comunidade cristã, encarnamos o estilo de Deus, que caminha na história e partilha as vicissitudes da humanidade?», declarou.
Francisco precisou que o Sínodo implica «caminhar pela mesma estrada, em conjunto».
«Permitimos que as pessoas se expressem, caminhem na fé – mesmo se têm percursos de vida difíceis –, contribuam para a vida da comunidade sem serem estorvadas, rejeitadas ou julgadas?», questionou.
A reflexão apontou três verbos centrais para este processo de consulta às comunidades católicas: «encontrar, escutar, discernir».
O Papa convidou os católicos a «dar espaço à oração, à adoração, àquilo que o Espírito quer dizer à Igreja», deixando-se «tocar pelas perguntas das irmãs e dos irmãos».
«Jesus chama-nos a esvaziar-nos, a libertar-nos daquilo que é mundano e também dos nossos fechamentos e dos nossos modelos pastorais repetitivos, a interrogar-nos sobre aquilo que Deus nos quer dizer neste tempo e sobre a direcção para onde Ele nos quer conduzir», prosseguiu.
Francisco admitiu que aprender a escuta recíproca, entre bispos, padres, religiosos e leigos é «um exercício lento, talvez cansativo», mas sublinhou que é necessário evitar «respostas artificiais e superficiais».
«Fazer Sínodo é colocar-se no mesmo caminho do Verbo feito homem: é seguir as suas pisadas, escutando a sua Palavra juntamente com as palavras dos outros», referiu.
O Papa presidiu no sábado, também no Vaticano, à sessão de abertura da 16ª assembleia geral do Sínodo dos Bispos, com o tema “Por uma Igreja sinodal: comunhão, participação e missão”.
UMA IGREJA DIFERENTE, MAIS ABERTA E DIALOGANTE
Na sessão de abertura da 16ª assembleia geral do Sínodo dos Bispos, o Papa pediu uma Igreja «diferente», que supere «visões verticalizadas, distorcidas e parciais», com mais abertura e diálogo.
«Quando falamos de uma Igreja sinodal, não podemos contentar-nos com a forma, mas temos necessidade também de substância, instrumentos e estruturas que favoreçam o diálogo e a interacção no Povo de Deus, sobretudo entre sacerdotes e leigos», disse, perante centenas de participantes reunidos na Sala do Sínodo.
Francisco defendeu a mudança estrutural para uma Igreja «sinodal», como «um lugar aberto, onde todos se sintam em casa e possam participar».
«O Sínodo oferece-nos a oportunidade de nos tornarmos uma Igreja da escuta: uma Igreja da proximidade, que estabeleça, não só por palavras mas com a presença, maiores laços de amizade com a sociedade e o mundo», indicou na ocasião.
O discurso destacou a diversidade de proveniência dos participantes, vindos de vários países, incluindo Portugal, e convidou a um «discernimento» sobre o tempo actual que torne a Igreja solidária com os «cansaços e anseios da humanidade».
Recorrendo às três palavras-chave do Sínodo: “comunhão, participação, missão”.
«Comunhão e missão correm o risco de permanecerem termos algo abstractos, se não se cultivar uma práxis eclesial que exprima a sinodalidade no concreto de cada etapa do caminho e da actividade, promovendo o efectivo envolvimento de todos e cada um», acentuou.
Para o Papa, está em causa a necessidade de promover um modo de agir «caracterizado por verdadeira participação» de todos os baptizados.
«Todos somos chamados a participar na vida da Igreja e na sua missão. Se falta uma participação real de todo o Povo de Deus, os discursos sobre a comunhão arriscam-se a não passar de pias intenções», precisou.
O Papa falou do Sínodo como uma «grande oportunidade para a conversão pastoral em chave missionária e também ecuménica», mas admitiu que também existem «riscos», pedindo que este não seja um acontecimento de «fachada» ou uma espécie de «grupo de estudo».
«Reforço que o Sínodo não é um Parlamento, um inquérito de opinião, o Sínodo é um momento eclesial, o protagonista do Sínodo é o Espírito Santo», declarou.
A intervenção apelou ainda à superação do «imobilismo», que levaria a aceitar«soluções velhas para problemas novos».
«É importante que o caminho sinodal seja verdadeiramente tal, que seja um processo em desenvolvimento; envolva, em diferentes fases e a partir da base, as Igrejas locais, num trabalho apaixonado e encarnado, que imprima um estilo de comunhão e participação orientado para a missão», apontou.
In ECCLESIA