SÉ CATEDRAL CELEBRA AMANHÃ INÍCIO DA FASE DIOCESANA

SÉ CATEDRAL CELEBRA AMANHÃ INÍCIO DA FASE DIOCESANA

D. Stephen Lee abre Sínodo dos Bispos em Macau

A fase diocesana da 16ª Assembleia Geral do Sínodo dos Bispos – o primeiro descentralizado – arranca amanhã, na igreja da Sé Catedral, com a celebração de missa e com um encontro entre o bispo de Macau, os párocos e membros da Cúria Diocesana. Com a ideia de “comunhão, participação e missão” como mote, o processo agora iniciado tenciona tomar o pulso, ao longo dos próximos dois anos, às expectativas dos católicos de todo o mundo.

D. Stephen Lee preside amanhã, na igreja da Sé Catedral, à Missa Solene que marca o início dos trabalhos de preparação para a fase diocesana do primeiro Sínodo dos Bispos descentralizado da história da Igreja Católica. Depois da Eucaristia, agendada para as 15:00 horas, D. Stephen Lee vai reunir com os párocos e os membros da Cúria Diocesana, num encontro que deverá servir para discutir e planificar o desenvolvimento dos trabalhos.

O processo sinodal, aberto no fim de semana passado pelo Papa Francisco, decorre entre Outubro de 2021 e Outubro de 2023 e procura questionar a Igreja sobre a sua própria sinodalidade. A diocese de Macau, garante o padre Daniel Ribeiro, está empenhada no cumprimento dos procedimentos solicitados pelo Santo Padre às dioceses de todo o mundo, no âmbito da primeira etapa do Sínodo Geral da Igreja. O vigário paroquial da Sé Catedral para a comunidade de língua portuguesa considera que o convite a um maior envolvimento dos fiéis na deliberação das grandes questões da Igreja constitui um passo decisivo, ainda que se prefigure como um desafio de monta para boa parte das dioceses. «A abertura dos trabalhos do Sínodo em Macau vai decorrer no sábado[N.d.R.: em quase todo o mundo católico terá lugar no Domingo]com uma Missa Solene, presidida pelo dispo diocesano. Depois da missa há uma reunião do bispo com os párocos, para que se possa coordenar o desenvolvimento dos trabalhos na Diocese. Com certeza que vai ser feita uma oração especial, mas não tenho detalhes em relação à liturgia», explica o padre Daniel Ribeiro. «Existe o desafio de coordenar todo este processo nas dioceses. É necessário recolher muitas opiniões, processar muita informação e até tudo isto ser sistematizado, até chegar ao Vaticano, teremos pela frente um trabalho muito grande. O tempo vai mostrar em que medida é que este processo é válido, mas a ideia é muito positiva», defende o sacerdote em declarações a’O CLARIM.

Subordinado ao tema “Por uma Igreja sinodal: comunhão, participação e missão”, o Sínodo dos Bispos terá a sua sessão final em Outubro de 2023. No entender do padre Jijo Kandamkulathy, o processo prefigura-se como um dos momentos mais cruciais do Pontificado de Francisco pela renovação a que pode abrir portas. «É um momento crucial e o Papa, parece-me, sabe isso melhor do que ninguém. Desde o Concílio Vaticano II, com as mudanças na Comunicação Social; com a forma como as pessoas se relacionam; com a polarização ideológica e política; os desafios em termos de clima… vimos surgir uma conjuntura crucial. O Papa é um observador atento dos movimentos do mundo e identificou este momento como um momento de “kairos”, um momento significativo para a Igreja», sustenta o actual responsável pela subsidiária de Macau das Publicações Claretianas.

Apresentado em Setembro, o documento preparatório da 16ª Assembleia Geral do Sínodo dos Bispos refere que a Igreja Católica deve olhar de frente para desafios e problemas como a sua falta de fé interna, a corrupção e “o sofrimento que experimentam os menores e as pessoas vulneráveis devido a abusos sexuais” cometidos pelo clero. Para o padre Jijo Kandamkulathy, os procedimentos agora iniciados pelo Papa Francisco colocam a Igreja Católica na rota de um processo de renovação que há muito se prefigura como inevitável, com os católicos e membros do clero a serem convidados a enfrentar e a reflectir sobre os seus fantasmas e as suas limitações. «O processo de consulta vai ser muito doloroso em algumas dioceses, em particular nos locais onde esses escândalos chegaram ao domínio público. A Igreja ouviu de forma muito pró-activa as queixas das vítimas, mas necessitamos de líderes inspirados por Deus para que estas pessoas continuem a ser ouvidas. Só a capacidade para ouvir tem o efeito cirúrgico de remover o tumor cancerígeno que se apoderou de algumas comunidades. Estes problemas têm de ser encarados e encontradas soluções», defende o sacerdote. «A renovação é inevitável, se a Igreja quiser ser aquilo que Jesus Cristo idealizou, uma Igreja capaz de ler os sinais dos tempos e de lhes responder com criatividade divina. Bem, há sempre a possibilidade de evitar a renovação e de agir com a hipocrisia de um fariseu. Mas, se for este o caminho, a Igreja vai transformar-se numa peça de museu irrelevante, que precisa apenas de conservação. As pessoas vão olhar para ela com quem olha para uma montra de vidro num qualquer museu», avisa o missionário claretiano.

Na missa inaugural do Sínodo dos Bispos, o Papa propôs uma Igreja «não asséptica», mas sim apegada à realidade e aos seus problemas. O apelo do Pontífice, reconhece o padre Jijo Kandamkulhaty, pode não ter o mesmo tipo de aceitação junto de todos os católicos e gerar desilusão junto de vozes dissonantes, mas mais do que uniformidade, o processo sinodal que agora se inicia deve procurar gerar comunhão. «O Sínodo concentra-se mais na ideia de comunhão do que de uniformidade. As pessoas nos dias de hoje sentem-se empoderadas e procuram formas pessoais de expressão da fé. A uniformidade desafia e bloqueia o mais das vezes expressões locais e pessoais da vivencia da fé. A uniformidade pode criar descontentamento entre pessoas que retiveram e encarnaram o corpo da Igreja, mas não conseguiram manter o seu espírito. A comunhão encoraja as diferenças de expressão, mantendo os traços essenciais da vivência comum da fé», conclui o missionário.

Marco Carvalho

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