15º DOMINGO COMUM – Ano B – 21 de Julho

15º DOMINGO COMUM – Ano B – 21 de Julho

Férias: um tempo para descobrir a preciosidade da nossa vida

«Os apóstolos reuniram com Jesus para lhe relatar tudo quanto haviam realizado e ensinado. Então convidou-lhes Jesus: “Vinde somente vós comigo, para um lugar deserto, e descansai um pouco”» (Mc., 6, 30-31)

Começaram as férias de Verão e muitos estudantes (e adultos sortudos) terão a oportunidade de gozar um merecido descanso. O Evangelho deste Domingo (Mc., 6,30-34) mostra Jesus a encorajar os apóstolos a tirarem algum tempo de descanso depois da sua primeira experiência de missão. Depois de terem relatado com entusiasmo a Jesus o que tinham dito e feito, Jesus deve ter-se apercebido do seu cansaço. Por isso, o convite era para irem para um lugar sossegado, sozinhos, para descansarem.

No nosso estilo de vida hiperativo, consideramos o descanso um luxo. Podemos até sentir-nos culpados por descansar. Mas a Bíblia, que nunca negligencia nem nega as nossas autênticas necessidades humanas, sublinha desde as primeiras páginas a necessidade do repouso e o seu significado espiritual. Deus descansou no sétimo dia depois de ter criado o mundo, e abençoou e santificou esse tempo. (cf. Gn., 2, 2-3). No livro do Êxodo, o tempo de repouso tornou-se mesmo um mandamento (cf. Ex., 23, 12).

De acordo com a Bíblia, o descanso não é apenas algo que fazemos para restaurar as nossas energias físicas. É um tempo de reencontro com Deus e de revitalização dos nossos relacionamentos, especialmente com a família e os amigos. É um tempo sagrado em que redescobrimos o lugar que ocupamos no plano de Deus e reflectimos sobre as motivações que estão por detrás das nossas escolhas. Não é de admirar que outro termo Inglês para férias seja “holidays” (dias santos).

Mesmo quando estamos sozinhos num lugar solitário, e especialmente quando estamos num retiro espiritual, o descanso é sempre relacional, porque a presença de Jesus é o que regenera os nossos corações e restaura a integridade das nossas vidas fragmentadas: “Vinde a mim, todos vós que estais cansados e carregais fardos pesados, e eu vos aliviarei” (cf. Mt., 11,28).

Cerca vez li uma reflexão de D. Luigi Giussani, que dizia aos jovens para não esquecerem que as férias são, de facto, um “tempo livre”, um tempo que se pode passar como se quer e fazer algo com total “gratuidade”, ou seja, não por causa de um dever ou por uma recompensa material, como um salário ou créditos. O que fazemos durante o nosso tempo livre, quando não somos obrigados a fazer nada por factores externos, mostra claramente o que realmente desejamos na vida e espelha os valores que acalentamos no nosso coração. Se, durante as férias, nos limitarmos a desperdiçar o nosso tempo e a gastá-lo de forma insignificante, tal significa que não amamos a nossa vida. Infelizmente, é exactamente isso que acontece a muitos de nós. Mas, apesar deste perigo, não é bom obrigar os jovens a participarem em actividades ou a serem produtivos durante as férias, porque o aspecto da “liberdade” deve ser protegido e promovido se quisermos descobrir com honestidade aquilo que realmente nos interessa.

Por estas razões, as férias são um período importante porque nos ajudam a recordar o que inflama o nosso coração, o que torna a nossa vida preciosa e o que faz do mundo um bom lugar para viver e investir as nossas energias. Uma viagem ao estrangeiro, o contacto com a natureza, o desporto, a leitura de bons livros ou o visionamento de bons filmes – mais tempo passado com amigos importantes –; mas também algum serviço voluntário, mais oração – tudo isto, feito em liberdade e através de escolhas conscientes –, abre a nossa vida a uma dimensão mais profunda e enriquece-a.

A este respeito, é bom lembrar que um bom tempo de descanso nunca nega ou reprime a realidade e as suas exigências. Um dos maiores perigos da nossa época moderna é considerar as “férias” como o único tempo que vale a pena viver, o único em que somos verdadeiramente nós próprios. A maneira cristã de descansar nunca nos deve levar a esta conclusão.

O Evangelho deste Domingo mostra-nos isso mesmo. Depois de chegarem ao que pensavam ser um lugar deserto para descansar com Jesus, os apóstolos descobrem que as pessoas das cidades vizinhas chegaram antes deles, a pé, à sua procura. O que fazer nesta situação? “Jesus desembarcou, viu uma grande multidão e teve compaixão, porque eram como ovelhas sem pastor; e começou a ensinar-lhes muitas coisas” (cf. Mc., 6, 34).

Nas poucas horas do seu “tempo livre”, o que havia de mais precioso no coração de Jesus e o que dava sentido à sua vida emergiu com clareza: a sua compaixão pelo povo. Por isso, não foge, não se queixa, nem afasta a multidão com raiva. Com liberdade, com consciência, agiu de acordo com o que sentia no fundo do seu coração.

Suponho que os apóstolos fizeram o mesmo durante as férias com Jesus. Podem não ter descansado muito, mas foram, sem dúvida, umas férias inesquecíveis, se ainda as recordamos passados dois mil anos. E certamente voltaram à sua vida normal recarregados e prontos para continuar com entusiasmo o seu percurso de vida com Jesus. Que mais podemos pedir de umas férias?

Pe. Paolo Consonni, MCCJ

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