Dia das Mentiras, Moçambique e Air Asia

Dia das Mentiras, Moçambique e Air Asia

No passado 1 de Abril, Dia das Mentiras, aqui por Portugal a “peta” mais badalada teve como referência a estrela de música Madonna. Disseram que ia viver para o Norte, para o Sul, e até em Macau surgiu a ideia dela se mudar para o território, justificando a mudança de ares com a pesada burocracia em Portugal. Tirando isso, a imaginação este ano foi muito fraquinha. Caso para dizer que já não há mentiras como antigamente.

Sendo ou não verdade, achei piada ao anúncio do Hoje Macau, que busca um jornalista de língua portuguesa. A ser verdade, é inovador. Se teve a ver com o Dia das Mentiras, tem a sua piada.

Mentiras à parte, por cá continuamos a trabalhar, tendo em vista recomeçarmos a actividade do food truck o mais rápido possível. Estamos atrasados algumas semanas devido a questões relacionadas com a reparação da camioneta. Os problemas no motor eram mais graves do que inicialmente se suponha, por isso decidimos reconstruir o bloco do motor na totalidade, substituindo todas as suas peças móveis. Na melhor das hipóteses, o veículo está na estrada daqui a duas semanas.

Este contratempo já fez com que perdêssemos a oportunidade de participar num evento de grande envergadura: a etapa portuguesa do Campeonato Europeu de Surf, em Espinho. Mas continuamos optimistas e esperamos estar prontos para trabalhar na segunda ou terceira semana de Abril. Para já temos aproveitado para realizar diversas melhorias no nosso “restaurante ambulante”. Como vos disse na semana passada, colocámos um piso novo de alumínio, e mais recentemente instalámos uma nova iluminação no exterior, prateleiras, pintámos o interior e retocámos a pintura exterior, assim como encontrámos forma de instalar um pequeno balcão para os molhos que acompanham a comida tailandesa – açúcar, piri-piri, nam pla prik e molho de soja. Assim, quem quiser condimentar ainda mais a comida, pode fazê-lo à discrição.

Apesar destes dias estarem a ser muito relaxados, pouco tempo livre nos sobra. Entre tarefas, temos conseguido arranjar um dia por semana para fazermos a nossa caminhada anual de fé para Fátima. Estamos a pouco mais de trinta quilómetros do destino. Devemos terminar já numa próxima oportunidade.

Claro está que os dias não têm sido apenas dedicados ao trabalho. Também tem havido tempo para nos encontrarmos com amigos. Há dias, tivemos a oportunidade de dar um abraço de felicitações a Licínio Pimentel, meu amigo de infância e conhecido em Macau como atleta do Sporting. Ficou combinado que em breve nos iremos sentar à mesa do café, para falarmos sobra as suas participações nas corridas de atletismo no território.

Licínio é um par de anos mais novo do que eu (o que também não faz dele um rapaz muito novo…), mas ainda recentemente sagrou-se vice-campeão nacional pelo Sporting. Um feito que para a sua idade e para os quilómetros que já leva nas pernas é de salientar. Pelo que nos disse, não tem qualquer intenção – nem o seu clube – de abrandar o ritmo.

Falando de algo bem menos positivo, temos vivido o drama dos nossos amigos moçambicanos, especialmente da Beira. Temos vários amigos, de várias nacionalidades, afectados pela catástrofe, e outros envolvidos na mega-operação de apoio que se desencadeou. Um deles viveu alguns anos em Macau, desempenhando o cargo de representante de Timor-Leste no Fórum para a Cooperação Económica e Comercial entre a China e os Países de Língua Portuguesa. António Veladas, mais conhecido pelo seu papel como jornalista da Antena 1, viveu todo o drama do povo timorense antes e depois da independência e está agora envolvido nesta acção humanitária através da Cruz Vermelha Portuguesa.

Sabendo que Macau é por natureza solidário com todas as vítimas de catástrofes naturais, foi sem surpresa que vi – e continuo a ver – a mobilização que se vai notando por todo o território.

Moçambique e os moçambicanos, mais do que nunca, precisam de todos nós. Aqui em Portugal, a população tem-se desdobrado em iniciativas e a ajuda está no terreno em todas as vertentes.

Ainda relativamente a Macau, foi com surpresa que li que a Air Asia pondera instalar na RAEM uma base para servir os clientes chineses. A notícia parece uma cópia da que fôra avançada no primeiro ano de actividade da “low-cost” no território. Ou Tony Fernandes anda esquecido, ou fala por falar. É que já quando começou a apresentar resultados positivos em Macau anunciou que a companhia, ou a sua sucursal Thai Air Asia, estariam a ponderar criar em Macau um “hub” para os clientes chineses. Na época a Air Asia ainda nem sonhava em voar para a China, pelo que Macau era uma possível porta de entrada para o continente chinês. Quem não se lembra das filas infinitas de turistas chineses que através das Portas do Cerco iam apanhar os voos da Air Asia em Macau. Volvidos mais de dez anos a estratégia da empresa sediada em Kuala Lumpur continua igual. Se fosse 1 de Abril, passaria por uma mentira mal contada.

Nos próximos dias vamos andar entre os preparativos para o reinício do nosso negócio, umas idas a Coimbra e Aveiro para adquirirmos produtos e equipamentos, e umas idas ao médico. A Maria tem de fazer um exame aos olhos, pois ultimamente têm andado muito vermelhos. Inicialmente pensámos que fosse do Sol nas Bahamas, mas o problema persiste. Por sua vez, a NaE queixa-se de uma dor nas costas que a anda a aborrecer desde os últimos dias vividos no barco. O médico oncologista aconselhou-a a falar primeiro com a médica de família. Como não há duas sem três, desde o mau tempo que apanhámos entre Cuba e o Haiti que ando com uma mancha vermelha no pulso direito. Surgiu depois de passar uma noite inteira, molhado, com o elástico do punho do casaco a roçar na pele. Desde então nunca mais desapareceu, e o que começou por ser do tamanho de uma moeda de dez avos está agora do tamanho de uma moeda de uma pataca. Está a crescer em valor… mas começa a ser tempo de visitar um especialista antes que o investimento acabe por sair fracassado!

João Santos Gomes

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