Carnaval golpista.
«É difícil fazer um julgamento, acompanhar todo o circo, todo o carnaval que se passa no País, fruto de muita informação e contra-informação. O Brasil é um país democrático há 31 anos, sendo este o segundo processo de “impeachment” [a um Presidente da República], o primeiro com Collor de Melo, porque havia fortes suspeitas de corrupção. Há agora o de Dilma. Alguma coisa se passa na democracia brasileira», é assim que Vanessa Amaro analisa o processo de impedimento, ou impugnação de mandato, a Dilma Rousseff.
Reiterando ser «difícil responder à questão» sobre se concorda ou não com a destituição de Dilma Rousseff, a luso-brasileira atira: «É a solução? O que vem a seguir será melhor ou pior? Parece não haver alternativa em relação ao País. A questão é se o vice-Presidente [Michel Temer] e todos os outros que votaram a favor do “impeachment” têm ou não a ficha muito limpa».
Para Vanessa Amaro, docente do Instituto Politécnico de Macau, «há muitos interesses em jogo», visto «o País ser muito rico, nomeadamente, em recursos naturais», razão pela qual: «neste circo político [em torno do “impeachment”], parece-me muito ser o jogo da mudança de cadeiras».
Para o jornalista brasileiro Alcimir Antonio do Carmo, «a decisão [a favor do “impeachment”, na Câmara dos Deputados] é mais uma etapa da crise política que se arrasta de há meses e se apresenta mais como uma disputa de grupos políticos na oposição».
«A crise também inclui o componente económico, porque o Governo popular teve que cortar benefícios sociais, conquistados a partir do Governo do Partido dos Trabalhadores, já nos mandatos de Lula da Silva», acrescenta o presidente da Federação dos Jornalistas de Língua Portuguesa (FJLP), da qual faz parte a Associação de Imprensa em Português e Inglês de Macau.
Trata-se de uma «disputa fratricida» que «tem gerado denúncias de parte a parte, com operações de investigação de corrupção que atinge praticamente todos os partidos no Governo e na oposição, o Poder Executivo e o Poder Legislativo», enquanto «o [Poder] Judiciário tem muito trabalho para investigar e instaurar processos que já culminaram em condenações».
Lembrando que «Dilma Rousseff foi acusada de ter feito uso de recursos sem que estivessem previstos no orçamento do ano em curso, e no de 2015», salienta: «a prática é conhecida como antecipação de receita orçamentária, comum entre prefeitos e governadores, inclusive os da oposição».
De igual forma, também lembra que Dilma foi acusada de ter «assinado decretos de programas sociais que utilizaram essa prática, que garantiu recursos à sua execução».
«Os juristas mais renomados do País dizem que não há crime praticado pela “presidenta”. No máximo, um deslize, que pode ser alvo de crítica, mas não de pena de impedimento», vinca o jornalista, atirando em jeito de conclusão: «o impedimento da “presidenta” Dilma é golpe, se for confirmado».
PEDRO DANIEL OLIVEIRA