Santo Niño de Cebu enche Macau de alegria
Cerca de trezentas pessoas são esperadas este Domingo no centro da cidade de Macau para as comemorações do Sinulog, o festival em honra do Santo Niño com que a comunidade filipina assinala a introdução do Cristianismo nas Filipinas. A Festa do Menino Jesus de Cebu arranca na igreja de Santo Agostinho, às 11:00 horas da manhã, com celebração de Eucaristia Solene.
É uma das mais vibrantes e expressivas manifestações de fé da mais católica das nações asiáticas, mas também – e cada vez mais – um cartão-de-visita das comunidades filipinas espalhadas pelo mundo. E Macau não é excepção! No próximo Domingo, às 11:00 horas da manhã, a igreja de Santo Agostinho acolhe uma Eucaristia Solene em honra do Senyor Santo Niño. O ponto alto das celebrações da Solenidade do Menino Jesus de Cebu está, no entanto, reservado para a parte da tarde, quando dezenas de devotos, vestidos com graciosos trajes, vão percorrer a Avenida da Praia Grande, em ritmo de dança, para louvar o Deus Menino – “Viva Pit Senyor! Viva Senyor Santo Niño!” – e agradecer-lhe as graças concedidas ao longo do último ano.
O ritual, com origem em Cebu, no centro das Filipinas, é um elemento crucial do Sinulog, certame religioso e cultural que comemora a introdução da Fé Cristã no arquipélago em 1521, desígnio para o qual o navegador português Fernão de Magalhães teve um papel fundamental. «O Sinulog é uma celebração especial, antes de mais, por causa da sua riquíssima história. A origem remonta a 1521, quando Fernão de Magalhães ofereceu a imagem do Santo Niño a Hara Amihan, a esposa de Rajah Humabon, depois de ambos terem sido baptizados. Hoje, o Sinulog é celebrado pelos devotos através da dança, como uma forma de agradecimento pelas graças concedidas pelo Santo Niño, tal como faziam os nativos há quinhentos anos. Esta ligação histórica é o que torna o Sinulog uma celebração tão especial», explica Angelo Miguel Magat, vice-presidente da Associação do Santo Niño de Cebu em Macau, a organização que desde há mais de vinte anos é responsável por promover a devoção ao Deus Menino no território.
COMO ÁGUA QUE FLUI
Ainda que não se conheça ao certo a data em que foi esculpida, a imagem oferecida por Fernão de Magalhães a Hara Amihan é o artefacto cristão mais antigo das Filipinas. Esculpida em estilo flamengo, a estatueta, de madeira escura, mede aproximadamente trinta centímetros de altura – retrata o Menino Jesus, com semblante sereno e com a atitude e a trajadura de um monarca espanhol. Está adornada com as insígnias imperiais, incluindo uma coroa de ouro, orbe e vários ceptros; usa vestimentas finas e possui vários juntos de jóias, oferecidas pelos devotos ao longo dos séculos.
A exuberância das vestimentas dos devotos que dançam e desfilam em louvor ao Senyor Santo Niño reflectem a opulência material e espiritual da imagem, de um mesmo modo que os passos ritmados das multidões de fiéis que o louvam – em Cebu, Macau e um pouco por todo o mundo – procuram recriar uma corrente de fé que desagua na promessa de salvação. «Os passos do Sinulog são caracterizados por um padrão fundamental: dois passos para a frente, um para trás. A expressão “sinulog” tem origem no vocábulo “sulog”, que significa “a fluidez do caudal de um rio”. A dança ritual do Sinulog simula a corrente de um rio, quando é conduzida em simultâneo por uma grande multidão», ilustra Angelo Magat.
A meio termo entre a fé e a cultura, a história e a devoção, o Sinulog é desde inícios da década de 1980 uma festa, um festival, um ritual e uma celebração. Para além da componente religiosa, o modelo promovido pelas autoridades de Cebu – e adoptado pela diáspora filipina nos quatro cantos do globo – contempla ainda uma parada e um concurso, que elege o grupo com melhor desempenho na dança-ritual de louvor ao Deus Menino. Em Macau, onde as festividades do Santo Niño ganharam expressão pública em 2003, a celebração do Sinulog é um momento de união e de grande devoção para uma comunidade que se habitou a fazer da fé uma fonte de esperança, perante as dificuldades do dia-a-dia. «Eu diria que é importante para todos – católicos e não católicos – e não apenas para os filipinos. É uma oportunidade mais para que nos lembremos de que Nosso Senhor Jesus Cristo nasceu para nos salvar, para salvar a Humanidade e para redimir os nossos pecados, seja nas Filipinas, seja em Macau ou em qualquer outro lugar», acrescenta Danilo Perez Ngo, fundador e membro do grupo coral que anima as celebrações eucarísticas em língua inglesa na Sé Catedral. «É uma celebração muito especial, de contornos únicos, porque celebra o nascimento do Menino Jesus, a segunda pessoa da Santíssima Trindade», refere o engenheiro civil de nacionalidade filipina.
SANTO NIÑO É UNIÃO
Em Macau, à semelhança das Filipinas, as comemorações da Festa do Senyor Santo Niño começam imediatamente na quinta-feira após a Solenidade da Epifania do Senhor, dia em que tem início, na igreja de Santo Agostinho, uma novena em honra do Menino Jesus de Cebu. A preparação do Sinulog, explica Angelo Magat, arranca, contudo, muito antes do Natal: «A comunidade filipina dá início às celebrações com uma novena na igreja de Santo Agostinho, coordenada pela Cruzada do Santo Niño. No décimo dia, que é quando o Festival do Sinulog tem lugar, realiza-se a procissão e a competição da dança-ritual. Este ano vamos ter um total de quatro grupos em competição. Normalmente, os grupos participantes começam a ensaiar a sua rotina de dança dois meses antes do início das celebrações».
A terminar, o dirigente sublinhou ainda: «A devoção ao Santo Niño está muito difundida nas Filipinas e o Sinulog é visto como o maior e mais aguardado festival do País. A celebração do Sinulog é importante para os filipinos em Macau porque promove a união da comunidade, que se reúne para professar a sua devoção ao Santo Niño. Por outro lado, é um período que convida a uma certa nostalgia, durante o qual os filipinos que estão em Macau professam a sua fé e cumprem as suas tradições quase como se estivessem em casa».
Em Macau, as celebrações do Santo Niño terminam com a eleição da Rainha do Sinulog, o mesmo acontecendo noutros países e territórios.
Marco Carvalho