SANTA CATARINA DE SENA (29 DE ABRIL) E SÃO ATANÁSIO (2 DE MAIO), OS DOIS NOVOS PADROEIROS D’O CLARIM

SANTA CATARINA DE SENA (29 DE ABRIL) E SÃO ATANÁSIO (2 DE MAIO), OS DOIS NOVOS PADROEIROS D’O CLARIM

Fé e tradição plenas

Padroeira da Itália e da Europa, Santa Catarina de Sena, religiosa terciária dominicana, nasceu no dia 25 de Março de 1347, na cidade de Siena, em Itália. A 24.ª filha de um humilde tintureiro é a gémea sobrevivente de uma gravidez difícil, no seio de uma família pobre, mas devota. Teve uma infância igualmente difícil, debilitada e doente, sem hipóteses de ter uma formação escolar mínima. Na sequência de uma infância plena de visões e marcada por uma devoção intensa, Catarina entrou aos quinze anos para a Ordem Terceira Dominicana, mas como leiga. Ainda assim, entregou-se a uma vida de clausura, em quaresma perpétua, com rigorosos jejuns e mortificações, uma prática que já trazia da sua vida secular, ainda que criticada pela família.

Tomava-se de um estado de êxtase e arrebatamento quando estava em oração e contemplação, numa ascese extraordinária, de acordo com os relatos da época. Esta fama de santidade atraiu muitos curiosos, mas também crentes à procura de estímulos de fé. De acordo com a tradição, Catarina era portadora das mesmas chagas corporais adquiridas por Jesus durante a Paixão, numa espécie de estigmas. Estas chagas debilitavam o seu organismo, além de provocar dores intensas.

Em 1374, deixou a clausura e foi em socorro dos empestados, deixando uma forte impressão de serenidade e clarividência em momentos de grande aperto, o que mais uma vez aclarou a fé dos que a seguiam. Era analfabeta, mas ditava cartas e textos, dirigidos a todos, de reis e príncipes ao clero, e a várias lideranças. Paz e tolerância eram o cerne das suas mensagens, tendo vindo a ter um papel importante para a paz e a unificação da Igreja, em época de Cisma do Ocidente (1378-1417, entre Roma e Avinhão). Um dos textos ditados plasmou-se na obra “Diálogo sobre a Divina Providência”, uma obra de grande devoção e de uma mente superior. Recorde-se que em 3 de Outubro de 1970, Catarina foi proclamada Doutora da Igreja pelo Papa Paulo VI. Uma Doutora da Igreja leiga e analfabeta, mas dotada de uma inteligência e fé portentosas.

De regresso a Siena, sofre um derrame cerebral, vindo a falecer no dia 29 de Abril de 1380, aos 33 anos de idade. Foi canonizada em 29 de Junho de 1461, por Pio II, sendo uma das figuras de santidade mais veneradas na Igreja Católica.

ATANÁSIO DE ALEXANDRIA

Foi o 20.º Bispo de Alexandria (como Atanásio I de Alexandria), tendo nascido por volta do ano 296 e falecido a 2 de Maio de 373. É considerado santo em várias Igrejas (Católica, Copta, Ortodoxa…), além de iminente teólogo, sendo considerado um Padre da Igreja e um dos principais doutores da Igreja (desde 1568, no Ocidente). Atanásio destacou-se como um dos maiores defensores da ortodoxia cristológica proclamada no Concílio de Nicéia (325). O seu episcopado durou 45 anos (entre 8 de Junho de 328 e 2 de Maio de 373), dos quais dezassete foram no exílio. É recordado como um astuto e preclaro defensor do trinitarismo contra o arianismo (heresia), além de vigoroso líder da comunidade cristã de Alexandria no Século IV.

Atanásio nasceu na cosmopolita Alexandria, onde recebeu formação filosófica e teológica. Por volta de 320, temos as primeiras notícias de Atanásio, ao ordenar-se diácono. Pôde assim acompanhar o seu bispo, Alexandre de Alexandria (313-328), ao Concílio de Nicéia I, em 325. A partir dessa data, Atanásio tornou-se num ferrenho defensor do credo de Niceia e um ferrenho inimigo dos arianos.

Em 328, com a provável idade de 35 anos, foi eleito Bispo de Alexandria, sendo o vigésimo Patriarca de Alexandria, o título que antecede o de Papa da Igreja Copta ou Patriarca da Igreja Ortodoxa, na forma anterior ao cisma do ano de 451 (após o desacordo do Concílio de Calcedónia). No sólio episcopal de Alexandria, sofreu constante assédio e ataques dos arianos, resistindo e combatendo-os, mesmo quando aqueles tinham apoio do imperador. Foi por isso preso e exilado cinco vezes por ordem imperial (335-337, em Trier, sob Constantino I; 339-345, em Roma, sob Constâncio II; 356-361, no deserto egípcio, sob Constâncio II; 362-363, sob Juliano, o Apóstata; 365, sob Valente). Apesar destas intermitências, deve-se-lhe o arranque da evangelização do Sul do Egipto e mesmo a missionação da Etiópia. Mas o destaque irá sempre para a sua feroz luta contra as heresias, fosse na forma intelectual e nos debates, fosse na repressão mais incisiva, às suas ordens como prelado alexandrino. Todavia, é a luta teológica que perpassa a sua obra que marca indelevelmente o seu episcopado e que o distingue como autor e Doutor da Igreja. Os ortodoxos denominam-no como “Pai da Ortodoxia”, dada a sua luta contra a heresia, mesmo quando esta influenciava o império, o que lhe valeu a alcunha de Athanasius Contra Mundum, ou “Atanásio contra todos”. Os coptas apelidam-no de “Coluna da Fé”, “Farol do Oriente”, ou o “Apostólico”.

Vítor Teixeira 

Universidade Fernando Pessoa

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