Macau de coração aberto
A Igreja Católica dedica o mês de Junho ao Sagrado Coração do Senhor. Hoje, precisamente, celebra-se a Solenidade do Sagrado Coração de Jesus – esta tem sempre lugar na sexta-feira após a Festa de Corpus Christi (ver registo na página 8).
Amanhã, 12 de Junho, a Igreja celebra a Festa do Imaculado Coração de Maria. O horário das missas de hoje e de amanhã mantém-se inalterado.
Mas concentremo-nos, para já, na devoção ao Sagrado Coração de Jesus. Trata-se de uma devoção muito antiga; os Padres da Igreja já falavam dela nos primeiros tempos: tudo brota daquele Coração “manso e humilde” que por nós foi trespassado pela lança do soldado romano Longino, na Cruz do Calvário. Dele saiu sangue e água, símbolos do Baptismo e da Eucaristia, e também da Igreja, Esposa de Cristo.
Sobre esta festividade, o Papa Bento XVI afirmou: «a contemplação do lado trespassado pela lança, na qual resplandece a vontade infinita de salvação por parte de Deus, não pode ser considerada, portanto, como uma forma passageira de culto ou de devoção: a adoração do amor de Deus, que encontrou no símbolo do “coração trespassado” a sua expressão histórico-devocional, continua sendo imprescindível para uma relação viva com Deus».
O Senhor falou do Seu coração a Santa Catarina de Sena (1347-1380), italiana e doutora da Igreja. Catarina perguntou-Lhe: «– Doce Cordeiro sem mancha, Tu estavas morto quando o Teu peito foi aberto. Por que então, permitiste que o Teu Coração fosse ferido e aberto com tanta violência?». Jesus respondeu: «– Eu tinha várias razões, mas vou dizer-te a principal. O Meu amor pelo género humano era infinito, enquanto os tormentos e os sofrimentos que Eu suportava eram finitos… Já que o Meu amor é infinito, Eu não podia por este sofrimento manifestar o quanto te amo. Por isso, mostrando o Meu lado aberto, Eu queria que vissem o segredo do Meu coração: que Eu vos amava muito mais do que Eu podia mostrar com o Meu sofrimento finito».
Passados alguns séculos, a 16 de Junho de 1675, Jesus apareceu a Santa Margarida Maria Alacoque (1647-1690) e mostrou-lhe o Seu Coração rodeado por chamas de amor, coroado por espinhos, com uma ferida aberta da qual brotava sangue e, do interior do mesmo, saia uma cruz. Santa Margarida escutou o Senhor: «Eis o Coração que tanto amou os homens, que não poupou nada até esgotar-Se e consumir-Se, para manifestar-lhes o Seu amor. E como reconhecimento, não recebo da maior parte deles senão ingratidões, desprezos, irreverências, sacrilégios, friezas que têm para comigo neste Sacramento de amor».
Em 1856, o Papa Pio IX instituiu a festa litúrgica do Sagrado Coração de Jesus, propondo, segundo a recomendação dos santos, a consagração do mundo ao Coração de Jesus.
Em Portugal, a Basílica da Estrela, em Lisboa, também designada como Basílica do Coração de Jesus, foi a primeira igreja no mundo a ser consagrada ao Sagrado Coração de Jesus. Foi mandada edificar em cumprimento de um voto feito pela rainha D. Maria I, ao dar à luz um filho varão, D. José (que viria a morrer ainda criança).
A piedade ligada ao Coração de Jesus está em união com a devoção ao Imaculado Coração de Maria.
DOIS CORAÇÕES INSEPARÁVEIS
Como já referimos, amanhã a Igreja celebra a Festa do Imaculado Coração de Maria. Pois Jesus e Maria nunca se separaram. Disse o Papa João Paulo II que Maria foi a que mais cooperou com a Redenção. Ela gerou o Verbo humanado e aos pés da Cruz oferecia-o em sacrifício pela nossa salvação. Os dois corações estão entrelaçados e são inseparáveis.
Nossa Senhora, tendo feito parte da primeira comunidade da Igreja primitiva, foi também uma alma Eucarística.
“É impossível imaginar os sentimentos de Maria, ao ouvir dos lábios de Pedro, João, Tiago e restantes apóstolos as palavras da Última Ceia: «Isto é o meu corpo que vai ser entregue por vós» (Lucas, 22:19). Aquele corpo, entregue em sacrifício e presente agora nas espécies sacramentais, era o mesmo corpo concebido no seu ventre! Receber a Eucaristia devia significar para Maria quase acolher de novo no seu ventre aquele coração que batera em uníssono com o d’Ela e reviver o que tinha pessoalmente experimentado junto da Cruz”, enaltece São João Paulo II, na sua Encíclica Ecclesia de Eucharistia.
Ao contemplar-se a Eucaristia, o Santíssimo Sacramento – “o centro de toda a vida cristã” –, contempla-se o coração do Senhor: fonte do amor salvífico e redentor; inimaginável e inatingível ao coração do homem.
Miguel Augusto
com Felipe Aquino e Acidigital