O CLARIM OUVIU QUATRO MISSIONÁRIOS RADICADOS EM MACAU NO ÂMBITO DO DIA MUNDIAL DAS MISSÕES

O CLARIM OUVIU QUATRO MISSIONÁRIOS RADICADOS EM MACAU NO ÂMBITO DO DIA MUNDIAL DAS MISSÕES

Ordem para evangelizar

Domingo celebra-se o Dia Mundial das Missões e as igrejas de Macau vão realizar uma colecta extraordinária com o intuito de angariar dinheiro para as actividades missionárias da Igreja Católica. Outrora um posto avançado da evangelização no Extremo Oriente, Macau é hoje em dia território de acolhimento e incubadora de vocações. O CLARIMesteve à conversa com quatro missionários sobre os desafios da missionação no início do Terceiro Milénio.

A diocese de Macau assinala este Domingo o Dia Mundial das Missões com um apelo à dádiva e à generosidade dos católicos. A Cúria Diocesana vai destinar a segunda colecta realizada em todas as missas paroquiais à Congregação para a Evangelização dos Povos e encoraja os fiéis a contribuírem para as missões com benevolência. O montante angariado, assegura a Diocese, vai ser enviado através da Câmara Eclesiástica para a Santa Sé a título de contributo para as actividades missionárias da Igreja Católica, um desígnio que é particularmente grato a Macau.

A RAEM acolhe actualmente dezenas de missionários e missionárias – a que acresce um número quase tão grande de seminaristas – provenientes de países como a Índia, Brasil, México, Argentina, Polónia, Indonésia, Filipinas ou a Itália.

Nascidos em margens desavindas do mundo, os religiosos e as religiosas que os desígnios da fé trouxeram até Macau têm todos algo em comum: o facto de a determinado momento terem sentido “um chamamento pessoal” que os fez partir ao encontro dos outros. «A vocação missionária é um espírito que desperta a vida na Igreja e é fruto de uma comunidade de fé, de comunidades nas quais o Senhor toca o coração das pessoas. Mas é, também, um chamamento pessoal», admite o padre Eduardo Aguero, missionário da Congregação dos Sacerdotes do Sagrado Coração de Jesus. «O chamamento à missão é para todos, baptizados e confirmados, mas quando Jesus chama, o Espírito suscita essa resposta missionária em pessoas que têm esta intimidade com Jesus e se sentem chamadas a responder. São pessoas que se sentem tentadas a deixar tudo como Abrãao e ir além das fronteiras: fronteiras culturais, nacionais, raciais, com o propósito de anunciar Cristo. A missão, hoje na Igreja, não é uma missão que se faz de pessoas a agir sozinhas, não se faz de aventuras pessoais. Hoje a missão da Igreja é realizada em comunidades de fé», assinala o sacerdote dehoniano.

Nascido na Argentina, o padre Eduardo Aguero integrou o grupo dos missionários da Congregação dos Sacerdotes do Sagrado Coração de Jesus que fundaram, em 1989, a missão dehoniana nas Filipinas, país onde permaneceu largos anos. Mais do que capacidade de desenraizamento e de coragem para galgar fronteiras, o padre Aguero diz que a única qualidade imprescindível quando se parte em missão é a humildade. «A qualidade mais importante do missionário é a humildade. A humildade para aceitar que somos fracos e que somente a força de Deus em nós nos consegue alentar e nos consegue ajudar. A humildade e o discernimento – a capacidade de discernimento espiritual – são qualidades importantes», defende. «A capacidade de discernir os caminhos de Deus, os caminhos do espírito, porque a missão é suscitada pelo espírito. O missionário tem que ter essa capacidade de escutar a voz de Deus e de rejeitar, de recusar aquilo que não é de Deus, a concupiscência da carne e das paixões», acrescenta o actual responsável pela comunidade católica de língua portuguesa na paróquia de Nossa Senhora do Carmo.

Missionário da Congregação do Verbo Divino, o padre José Ángel Hernández afina pelo mesmo diapasão. O actual pároco da igreja de Nossa Senhora de Fátima considera que o maior desafio com que os missionários se deparam é o de permanecerem atentos aos sinais do Espírito Santos e centrados na missão que lhes foi confiada por Deus. «O aspecto mais difícil, a meu ver, é o de permanecer focado em Jesus Cristo», assume o sacerdote mexicano. «Hoje em dia, devido a esta situação que estamos a viver, não é difícil perceber que as pessoas vivem com medo. A economia está a colapsar, os negócios a fechar portas. Perante estas circunstâncias, creio que a ideia de missão ganha um novo significado. E ganha porquê? Porque num cenário que se configura como sendo cada vez mais exigente, ser-se missionário é ser uma testemunha de Jesus. Este é o aspecto mais importante», explica.

Nascido em Loikaw, na antiga Birmânia, o dominicano Lawrence The Reh lembra que a ideia de missão não é exclusiva do clero e nem sempre implica ir ao encontro do desconhecido. O sacerdote birmanês, professor na Escola São Paulo, garante que todos os católicos podem ser missionários e que a missão, por vezes, passa por algo tão simples como dar a conhecer Deus a quem ainda não o conhece. «Todos os católicos podem ser missionários e honrar os ensinamentos de Jesus e a Palavra de Deus. Para isso basta que se mantenham todos os dias fiéis ao compromisso assumido no baptismo. O principal desafio é o de proclamar a mensagem de Cristo no seio de sociedade globais nas quais o materialismo e a tecnologia são rampantes», defende o padre Reh. «Através das escolas católicas temos a oportunidade de proclamar a Boa Nova junto dos não católicos. Esta é um dos métodos a que os missionários sempre recorreram para proclamar a Boa Nova junto das pessoas. Se a missão é ou não bem-sucedida, isso está nas mãos de Deus. Como missionários, fazemos o que podemos e o resto deixamos nas mãos de Deus. Eu sinto-me muito grato e muito privilegiado por ser missionário numa escola onde a maioria dos professores e dos estudantes não são católicos», diz o missionário dominicano.

Seja através do ensino ou da prática da caridade, da acção social ou do acompanhamento de quem necessita de conforto espiritual, o desígnio da missão, explica o padre Peter Lee In Ho, deve passar sempre pelo fomento da aceitação voluntária do Evangelho. «A evangelização, a missão do missionário, não pode ser alcançada através de ensinamentos unilaterais. O que é necessário, antes de qualquer outra coisa, é ajudar as pessoas a aceitar voluntariamente o Evangelho. É isso que é suposto que os missionários façam. As pessoas devem ser capazes de sentir e de compreender o valor do Evangelho por elas próprias, a partir do contacto com os missionários. Se alguém vem para a Ásia e tenta apenas ensinar as tradições da Igreja como é vivida no Ocidente, as pessoas em Macau – ou em qualquer outro ponto da Ásia – nunca serão completamente evangelizadas», considera o sacerdote sul-coreano.

O missionário da Congregação Clerical dos Beatos Mártires Coreanos – uma organização que veio para Macau em 2011 e tem quatro sacerdotes a trabalhar no território – diz que o sucesso dos desígnios missionários está, num continente como a Ásia e em grande medida, dependente da capacidade de diálogo da Igreja e dos seus representantes. «O diálogo com as outras religiões é essencial e muito importante. Devemos, basicamente, respeitá-las e dialogar com elas. A missão não implica o confronto com os outros. Implica, isso sim, alcançar o coração dos outros através dos ensinamentos de Jesus Cristo, a exemplo do que fizeram os Apóstolos e muitos mártires da Igreja», conclui o padre Peter Lee.

Marco Carvalho

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