Matthew Friedman sobre o tráfico de seres humanos

«A polícia não está preparada»

O director-executivo do Mekong Club, Matthew Friedman, disse na passada terça-feira a’O CLARIM que a polícia de Macau não está preparada para combater o tráfico de seres humanos destinado à exploração sexual.

«O problema da polícia é não estar treinada para distinguir entre o criminoso e a vítima. Se uma pessoa não estiver na posse dos papéis de imigração, ou se fizer a solicitação de sexo de forma errada, é detida.

A polícia não está habituada ao facto dessa pessoa até poder ser uma vítima [do tráfico de seres humanos]», referiu o responsável pelo movimento de combate ao negócio da escravatura.

Friedman sustentou que «é preciso muito treino policial e educar a autoridade para perceber a diferença entre o criminoso e a vítima». Por outro lado, defendeu «a necessidade de mulheres polícias a lidar com este tipo de situações, de modo a ser criado um ambiente seguro para quem esteja em situação fragilizada e lhe permita transmitir assim a sua história real».

«Na indústria do sexo há em qualquer parte do mundo uma certa percentagem de pessoas forçadas a prostituir-se. Varia entre os 10% e os 20%. Por isso é de esperar que num local onde há muito jogo e um grande número de turistas, mediante determinadas circunstâncias, também possa haver prostituição forçada», vincou, em alusão a Macau.

Matthew Friedman mostrou-se ciente que o assunto até é abordado pelo Governo da RAEM, mas que este não estará a dar o devido ênfase à problemática por forma a assegurar o trabalho com as ONG, e destas com o sector privado. «Há lugar para muito mais coordenação entre as partes», justificou, acrescentando que «falta ao Governo tomar a liderança e fazer a diferença».

No seu entender, também muitos empresários desconhecem a verdadeira dimensão do problema e ficam chocados ao saberem que, em pleno século XXI, ainda há escravidão laboral. De igual forma abordou o caso das saunas: «Podem saber que as mulheres se prostituem, maioritariamente de forma voluntária, mas o problema é saber a que tipo de voluntariado estão sujeitas? Se são enganadas para contraírem um empréstimo e são forçadas, contra a sua vontade, a prostituírem-se numa sauna, então estamos perante um caso de tráfico humano».

«Se alguém as quiser encontrar, pode encontrá-las [às vítimas]. Se passar algum tempo com estas mulheres irá perceber que muitas delas estão em situações nas quais não querem viver. A reacção inicial é dizerem que gostam de estar nas saunas, mas estão a mentir por causa das ameaças que lhes são feitas», descreveu.

As prostitutas não são as únicas vítimas, pois também haverá «empregadas domésticas que provavelmente estarão em situações difíceis», frisou, adiantando que «até haverá escravos humanos que estarão mediante determinadas circunstâncias a trabalhar nas obras de construção civil».

«Macau tem um plano de acção, leis, anúncios, procedimentos e abrigos, mas como em qualquer parte do mundo pode-se desenvolver um trabalho ainda com mais profundidade sobre o que é realmente necessário fazer para combater o problema», concluiu.

As declarações de Matthew Friedman foram feitas à margem da cimeira de um dia sobre a “Liderança Empresarial para Terminar com o Tráfico Humano e a Escravidão Moderna”. O evento, organizado pelo Centro do Bom Pastor, decorreu no MGM.

PEDRO DANIEL OLIVEIRA

pedrodanielhk@hotmail.com

 

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