O sacrifício de Joana
«O sacrifício é só aparente: porque ao viver assim – com sacrifício – livra-se de muitas escravidões e consegue, no íntimo do seu coração, saborear todo o amor de Deus»
Josemaría Escrivá
A maestrina Joana Carneiro esteve na passada sexta-feira na Escola Portuguesa de Macau, para uma conversa com miúdos e graúdos. O sacrifício, ou a ausência dele, foi um dos temas focados, não só no auditório daquele estabelecimento de ensino, como nas entrevistas concedidas a alguns órgãos de comunicação locais.
Para Joana o sacrifício não existe; o que há é uma enorme vontade de alcançar objectivos, sem nunca desviar do caminho que conduz à concretização dos mesmos. A receita aplica-se no trabalho, na família, na vida em geral. Só assim se explica que aos 22 anos de idade tenha conduzido, pela primeira vez com contrato assinado, uma orquestra profissional. Tudo se passou em Macau, em 1999, no último Festival Internacional de Música organizado pela Administração Portuguesa. A Orquestra de Macau convidou alguns músicos da Orquestra de Pequim para um concerto e o maestro principal convidou a jovem maestrina para conduzir uma das passagens.
Sendo Portugal um país pequeno em termos de dimensão artística, Joana emigrou para os Estados Unidos, onde estudou com alguns dos melhores mestres. Desses tempos recorda o muito que aprendeu e o convívio com profissionais de renome internacional, mas também a distância à família e a Portugal – «o meu país». Se sacrifício houve, foi imposto pela Saudade, esse sentimento exclusivo de um povo.
Hoje, quase a entrar no clube dos “entas”, esta embaixadora de Portugal no mundo continua a sonhar, pois ainda há muito por cumprir, como reger as orquestras filarmónicas de Dresden, Berlim… e dedicar-se a Wagner. Por agora o mais importante é aperfeiçoar o trabalho quem vem desenvolvendo em Portugal e nos Estados Unidos, principalmente em Berkeley e no Teatro Nacional de São Carlos… sem descurar o lado pessoal. À Rádio Macau disse mesmo que a maternidade há-de vir no momento oportuno, sendo uma pessoa mais reservada do que há uns anos, fruto do mediatismo.
Talvez um dia Macau possa voltar a ver Joana Carneiro em cima de um palco. Nada que não esteja a ser pensado. A origem macaense da família fala alto – «é a cultura, a gastronomia».
Para já ficou uma passagem pela Escola Portuguesa, que foi uma inspiração para os mais jovens. E que permitiu aos alunos revelarem os seus dotes musicais, ficando a convidada com vontade de regressar.
José Miguel Encarnação
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