IRMANDADE DE SANTO ANTÓNIO CELEBRA 130 ANOS COM NOVOS ESTATUTOS

IRMANDADE DE SANTO ANTÓNIO CELEBRA 130 ANOS COM NOVOS ESTATUTOS

Novo fôlego para uma devoção secular

A Irmandade de Santo António celebra 130 anos de existência com a aprovação de novos estatutos, medida que lhe confere mais perspectivas de futuro. Entre a principal novidade está a oficialização da entrada de mulheres para a confraria religiosa, uma das mais antigas de Macau.

O bispo D. Stephen Lee preside este sábado à missa e procissão com que a igreja de Santo António assinala a festividade em honra do seu padroeiro. A Eucaristia tem início às 16:00 horas.

Celebrada em Português e Chinês, e organizada pela Paróquia em estreita colaboração com a Irmandade de Santo António, a Festa em honra do taumaturgo português volta a ser conduzida na vetusta igreja, cuja estrutura data de 1638, depois do edifício ter sido alvo de uma demorada empreitada de requalificação ao longo dos últimos três anos.

A Festa é também a primeira dinamizada na Paróquia desde que os novos estatutos da Irmandade de Santo António foram aprovados e publicados em Boletim Oficial. Criada em 1893, a confraria religiosa comemora 130 anos de existência, mas está agora melhor apetrechada para fazer face aos desafios da modernidade, assegura Miguel de Senna Fernandes, presidente da Mesa da Assembleia Geral da agremiação. «A Irmandade de Santo António resolveu refazer-se. Temos novos estatutos, houve uma série de coisas que mudaram e temos pessoas que se decidiram juntar no espírito de uma certa irmandade para professar o culto de Santo António», explica o advogado e dinamizador cultural, em declarações a’O CLARIM. «No fundo, o objectivo primordial é promover o culto de Santo António, quanto mais não seja porque Santo António é um dos padroeiros da cidade. A própria empreitada de refazer os estatutos foi algo que se prolongou durante algum tempo, mas fundamental era relançar o culto a Santo António. Foi um esforço feito em boa altura. A Irmandade tem 130 anos, é das mais antigas de Macau», acrescenta.

A revisão e actualização dos estatutos teve por grande finalidade agilizar o funcionamento da Irmandade, face às transformações drásticas de que o território foi palco ao longo dos últimos 130 anos. Os propósitos fundamentais a que a confraria se propõe permanecem, no entanto, intocados. A Irmandade de Santo António continua a ter como principais objectivos promover “o culto público e o ensino da doutrina cristã em nome da Igreja”, “organizar o culto divino com especial dedicação a Santo António de Lisboa” e socorrer os irmãos necessitados, através da prática de obras de beneficência. A grande alteração introduzida pela reestruturação prende-se com a rectificação estatutária de uma prática que estava há muito normalizada, a do acolhimento de irmãs no seio da Irmandade. «Uma das grandes modificações diz respeito à admissão de irmãs. É uma prática que já se verificava, mas as irmãs não tinhas direito a voto. Agora, com os novos estatutos – e também porque havia a necessidade de os uniformizar com a lei vigente em Macau – naturalmente as irmãs, pelo facto de serem irmãs, têm direito a voto. Esta é uma das grandes modificações que existem nesta reestruturação e eu julgo que é bastante importante. É importante termos a vontade expressa por todos», defende Miguel de Senna Fernandes. Mais: «para além desta alteração, os membros da Irmandade têm o direito e o dever de usar um traje especial, a chamada opa. Há uma opa própria da Irmandade de Santo António e, portanto, tudo isto é posto em prática ao abrigo dos estatutos. A 10 de Junho vamos ter a procissão em honra de Santo António e nós vamos lá estar, trajados a rigor. Vai haver uma certa pompa, mas eu creio que isto é importante, como sinal da revitalização de uma das mais velhas confrarias religiosas de Macau».

CULTO, FÉ E IDENTIDADE

A longa história de devoção a Santo António no território – considera Senna Fernandes – faz do culto ao taumaturgo português uma marca da identidade de Macau que urge preservar: «O culto a Santo António é, efectivamente, uma das características de Macau. É algo que é genuinamente de Macau, porque a tradição de Santo António não existe de forma tão efusiva em Hong Kong, por exemplo. É marca de uma religiosidade forte, com uma grande tradição entre as comunidades portuguesas, e ao mesmo tempo um culto muito de Macau. Eu diria que é um culto quase retintamente de Macau, em contraste com outras tradições católicas que não se conseguiram impor. E nesse sentido, o culto a Santo António, que está muito arreigado não só junto da comunidade macaense, mas também junto da comunidade chinesa, deve ser visto como algo que faz parte da identidade de Macau».

Após a actualização dos estatutos, a Irmandade de Santo António ficou com cerca de meia centena de irmãos, parte significativa dos quais de idade avançada. O grande desafio com que se debatem os responsáveis pela agremiação passa, de resto, por atrair sangue novo à secular instituição. «Há jovens de vinte e tal anos, de trinta. Há dois, pelo menos. Mas, é claro, nestas coisas continua a dominar a “malta” mais velha, mais idosa. Mas há alguns jovens entre nós. Esperamos, no entanto, poder atrair mais alguns, porque no fundo o que está aqui em causa é a importância que têm estas iniciativas comunitárias. Iniciativas como estas têm que ser desenvolvidas, têm que ser acarinhadas e os próprios jovens são, mais do que quaisquer outros, quem deve ter esta percepção», conclui o advogado.

Marco Carvalho

Leave a Reply

Your email address will not be published. Required fields are marked *