Macau unido à universalidade da devoção
À semelhança de anos anteriores, a devoção à Imaculada Conceição, em Macau, inicia-se com a novena em torno da Mãe de Deus. Os fiéis, nas suas devoções diárias, colocam-se agora também em torno da Imaculada, em súplicas e louvores, rumo à Vigília e Solenidade em que a Igreja celebra o dogma nascido pela tradição e proclamado pelo Papa Pio IX, a 8 de Dezembro de 1854.
A fim de se inteirar sobre o modo como estão a ser conduzidas pela comunidade de língua portuguesa as iniciativas em torno da devoção à Imaculada Conceição, O CLARIMfalou com o padre Daniel Ribeiro, vigário-paroquial da Sé Catedral, que tem vindo a dedicar-se a inúmeros projectos de evangelização, os quais têm chegado além fronteiras, com o auxílio das novas plataformas de comunicação global.
A novena à Imaculada Conceição vem sendo gravada em vídeo e disponibilizada no canal YouTube do padre Daniel, com a designação “padre Daniel Ribeiro, SCJ”. A novena é também partilhada nos grupos do WhatsApp da comunidade de língua portuguesa, estando igualmente presente na página do Facebook da paróquia da Sé Catedral, referiu o sacerdote. Segundo o padre Daniel, «a novena, estando disponível nestes meios, poderá ser feita por cada um, num horário que lhe seja mais conveniente». O “link” para os grupos do WhatsApp surge no início dos vídeos das novenas. O padre Daniel lembrou que no dia 7 de Dezembro a missa das 18:00 horas, na igreja de São Domingos, será uma missa antecipada, em preparação para a Festividade, tendo acrescentado que «no dia 8 de Dezembro a missa Festiva da Imaculada Conceição será realizada às 11:00 horas da manhã[também na igreja de São Domingos]e transmitida pelo canal YouTube da diocese de Macau».
Estando esta celebração inserida no período do Advento, o sacerdote avançou um dado: «É uma festa litúrgica que sobressai no Advento, onde o sacerdote usa neste período a cor roxa nas suas vestes. Neste dia irá usar a cor branca [simboliza alegria cristã]e a Igreja também permite o uso da cor azul, que é uma cor “Mariana” usada nas festas e solenidades de Nossa Senhora».
DA TRADIÇÃO AO DOGMA
Os Santos Padres da Igreja não propõem a pergunta sobre a Imaculada Conceição; no entanto, os louvores que dirigem à pureza de Maria são tais, que caso se propusesse a questão teriam alcançado a verdade pelo próprio caminho que seguiam. E desde logo, o que lhes impulsiona a louvar, de maneira tão unânime e fervorosa, a pureza de Maria, é certamente a existência de uma Tradição que pode ser qualificada como apostólica. É tão constante a doutrina, tão universal o princípio, que não é possível deixar de admitir que tenha nascido da própria Tradição Apostólica.
Santo Agostinho de Hipona (354-430), bispo e doutor da Igreja, dizia nos primeiros séculos do Cristianismo: «Nem se deve tocar na palavra “pecado” tratando-se de Maria; e isso por respeito Àquele de quem mereceu ser a Mãe, que a preservou de todo o pecado por sua graça».
A maternidade divina e a sua pureza sempre foram exaltadas ao longo dos séculos. Mais tarde, Santo Anselmo (1033-1109), também ele bispo e doutor da Igreja, afirmava: «A Mãe de Deus deveria brilhar com tal pureza, que não é possível imaginar [pureza]maior excepto a de Deus».
Um dos grandes defensores da Imaculada Conceição foi o beato Juan Duns Escoto (1265-1308), teólogo e filósofo franciscano, que se destacou em defesa do “dogma” contra uma das maiores figuras da teologia católica, o dominicano São Tomás de Aquino (1225-1274), com ideias contrárias.
O beato Juan Duns Escoto, doutor mariano, na sua doutrina coloca a questão de maneira completamente diferente dos que o precederam: «Maria foi concebida com pecado original?». Este modo de formular a pergunta não pressupõe nem prejudica nada, mas tem um sentido claro e determinante – teve ou não teve o pecado original? E a esta pergunta, responde: «Não!». Razões? A perfeitíssima redenção de seu Filho e a honra do mesmo. Ou seja, à dificuldade que os adversários apresentam, ele combate com um argumento quase único. Em suma: «Afirma-se que em Adão todos pecaram e que em Cristo e por Cristo todos foram redimidos. E nestes “todos”, inclusive ela[Maria]… Como filha e descendente de Adão, Maria deveria contrair o pecado de origem, mas perfeitamente redimida por Cristo, não incorreu nele… Cristo não seria perfeitíssimo redentor se, pelo menos em um caso, não redimisse da maneira mais perfeita possível. Pois bem: é possível prevenir a queda de alguém no pecado original. E se devia fazê-lo em algum caso, o fez no caso da sua Mãe».
A festa da Imaculada Conceição, sabe-se com toda segurança, que já era celebrada no Século IX, no mês de Dezembro, em Nápoles. A data da celebração – a mesma em que celebravam os orientais – indica que a festa foi levada do Oriente, com o qual Nápoles mantinha intensa relação comercial. Mas esta não é a única referência que se tem da celebração litúrgica. Por calendários dos Séculos IX, X e XI, sabe-se que era celebrada também na Irlanda e em Inglaterra.
No dia 27 de Novembro de 1830, Nossa Senhora apareceu a Santa Catarina Labouré, na capela das Filhas da Caridade de São Vicente de Paulo, em Paris, e numa revelação ilustrativa em forma de medalha pediu-lhe para mandar cunhar e propagar a devoção à chamada “Medalha Milagrosa”, precisamente com a seguinte inscrição: “Ó Maria concebida sem pecado, rogai por nós que recorremos a vós”.
Volvidas pouco mais de duas décadas, o Papa Pio IX decidiu dar o último passo para a suprema exaltação da Virgem, definindo o dogma da sua Imaculada Concepção. No dia 8 de Dezembro de 1854, rodeado solenemente por 92 bispos, 54 arcebispos, 43 cardeais e uma imensa multidão, Pio IX definiu como dogma de fé o grande privilégio da Virgem: «A doutrina que ensina que a bem-aventurada Virgem Maria foi preservada imune de toda mancha de pecado original no primeiro instante da sua concepção, por singular graça e privilégio de Deus todo-poderoso, em atenção aos méritos de Jesus Cristo, Salvador do género humano. É revelada por Deus e por isso deve-se crer firme e constantemente por todos os fiéis». Estas palavras, embora pareçam tão simples, foram selecionadas uma a uma, mantendo-se em sintonia com os séculos.
É muito significativo que passados quase quatro anos depois do Papa Pio IX ter proclamado o dogma, Nossa Senhora intitulou-se a Santa Bernadete Soubirous, na Gruta de Lourdes desta forma: «Eu sou a Imaculada Concepção». Bernadete, uma pobre menina camponesa, não sabia o que aquilo significava, mas toda a Igreja já conhecia a proclamação do dogma. Maria, nas suas aparições de Lourdes em França, veio à terra também confirmar a verdade e infalibilidade do Papa.
Imaculada Conceição, rogai por nós!
Miguel Augusto
com Veritatis Splendor e Felipe Aquino