Família e Fé

Educar bem!

Era jovem e, por esse simples motivo, profundamente rebelde. Pensava dar uma volta nessa noite com os amigos. Ao dirigir-se para a porta, deu de caras com o seu pai. Só lhe faltava esta.

Preparou o estômago para o “diálogo-combate” que seria necessário travar. Pôs a cara mais enjoada que conseguiu e, com ar de desafio, afirmou como quem dispara:

«– Vou sair».

«– Ah sim! Para onde?».

«– Para um lugar onde possa respirar liberdade, coisa que não consigo nesta casa».

«– E a que horas pensa, sua excelência, regressar desse paradisíaco local?».

«– A que horas me apetecer».

«– Está bem. Mas que fique claro desde já: nem um minuto mais tarde!».

Todos nós estamos de acordo em afirmar que a juventude necessita de educação. Também concordamos em dizer que essa educação é o melhor investimento de uma família, porque é o seu futuro.

A própria sociedade sabe que, sem a formação dos mais jovens, acaba por desmoronar-se. E essa formação corresponde em primeiro lugar à família. O Estado tem consciência de que, por muito que se esforce, não consegue nem lhe compete amamentar os seus cidadãos.

O problema começa quando tentamos pôr-nos de acordo sobre o que significa esse investimento familiar.

O que é educar? Em que consiste esse processo que visa o desenvolvimento harmónico da pessoa? Será que os diferentes modos de educar, entre outros motivos porque todos somos diferentes, não possuem nada em comum?

Educar é uma acção complexa, difícil de definir. Não é somente ensinar coisas novas a quem não as sabe. Isso propriamente não é educar, mas sim instruir.

Educar é ensinar o homem precisamente a ser verdadeiramente homem. Educar humaniza as pessoas.

E quem é o homem? Como saber o que lhe convém, sem antes saber quem é ele? – perguntava-se, Platão, há tantos anos atrás.

Da ideia que temos de quem é o ser humano, depende directamente o modo como o educamos. Não é a mesma coisa educar pensando que a vida desaparece com a morte, ou educar com a ideia de que estamos aqui de passagem, a caminho da pátria futura.

Por isso, a educação não é possível se falta um sentido para a vida. A instrução sim, e é uma tarefa específica da escola. Mas só a família, em primeiro lugar, é capaz de transmitir com eficácia valores fundamentais que dão sentido, que ajudam o jovem a conduzir a sua própria vida. Valores que estão unidos a verdades, não a meras opiniões.

Porque também não existe propriamente educação se não se possui verdades a transmitir, se tudo é mais ou menos verdade dependendo das circunstâncias.

Não basta educar. É preciso educar bem!

É preciso ensinar o que é, para que serve e como usar correctamente esse dom que todos temos chamado liberdade.

Pe. Rodrigo Lynce de Faria 

Doutor em Teologia

Leave a Reply

Your email address will not be published. Required fields are marked *