Seminário de São José propõe um outro olhar sobre a Bíblia
A biblioteca do Seminário de São José expõe, até 30 de Abril, cinco folhas da primeira edição da chamada “Bíblia dos Bispos”, produzida no Século XVI sob a supervisão da Igreja de Inglaterra. As cinco folhas expostas foram oferecidas à Universidade de São José pelo actual reitor da instituição, Stephen Morgan.
Uma oportunidade singular para compreender o percurso feito pela Bíblia até atingir a formato com que chegou até nós. É assim que Antonio Wong, responsável pela Biblioteca de Estudos Religiosos da Universidade de São José (USJ), se refere à exposição que se encontra nas instalações da biblioteca do Seminário de São José até ao final do presente mês.
A mostra tem como elemento de maior destaque cinco folhas de um exemplar da primeira edição da “Bíblia dos Bispos”, uma das primeiras traduções da Sagrada Escritura para língua inglesa, produzida em 1568 sob a autoridade da Igreja de Inglaterra. As cinco folhas foram doadas à biblioteca da Universidade de São José por Stephen Morgan, actual reitor da instituição de Ensino Superior.
«A exposição apresenta cinco diferentes folhas de uma das mais antigas edições da “Bishops’ Bible”. Apesar de terem sido doadas à Biblioteca sem documentos oficiais de certificação, após uma comparação detalhada, conduzida tendo por base recursos confiáveis, acreditamos que as folhas em questão pertencem a um exemplar da primeira edição da Bíblia, datada de 1568», explica Antonio Wong, em declarações a’O CLARIM. «As cinco folhas são, antes de mais, um testemunho da forma como a Bíblia evoluiu durante o período da Reforma, na Dinastia Tudor. Por outro lado, esta Bíblia em concreto permite-nos um olhar sobre os aspectos mais notáveis do desenvolvimento da imprensa no início do Século XVI. Xilogravuras, iluminuras ou mesmo a escolha dos caracteres tipográficos são características que ajudam a contar a história da arte religiosa e da produção de livros no mundo ocidental», complementa o responsável pela Biblioteca de Estudos Religiosos da USJ.
Mas o interesse da “Bíblia dos Bispos” suplanta os aspectos de natureza meramente estética ou histórica. Revista em 1572, a “Bishops’ Bible” foi escolhida, trinta anos depois, como ponto de partida para a Bíblia do Rei Tiago (King James Bible, na designação original), a versão da Sagrada Escritura reconhecida como oficial pela Igreja Anglicana. A “Bíblia dos Bispos” é, por isso, um documento fundamental para compreender melhor as relações entre a Igreja e as autoridades seculares nas Ilhas Britânicas durante o período da Reforma.
«Sendo uma das mais antigas traduções para língua inglesa das Sagradas Escrituras, a “Bíblia dos Bispos” é uma boa representação da complexa realidade entre as autoridades religiosas e seculares no período Tudor. Os primeiros anos da Igreja de Inglaterra, como a História nos mostra, foram um período de adequação da autoridade da Igreja às disposições seculares. A “Bíblia dos Bispos” permite-nos olhar para esse processo, se procurarmos perceber a história por detrás da razão pela qual foi produzida», salienta Antonio Wong. «O estudo da “Bíblia dos Bispos” também nos permite olhar para a forma como a língua inglesa era utilizada na Inglaterra medieval. Como parte da cadeia de acontecimentos que explica a evolução da Bíblia em Inglaterra, a “Bishops’ Bible” estabelece as fundações do processo que culmina com a versão do Rei Tiago. De certo modo, é uma Bíblia de transição que contém algumas das melhores traduções das Sagradas Escrituras à época», remata o bibliotecário.
Marco Carvalho