Listas étnicas partem em vantagem.
Miguel de Senna Fernandes, Fernando Gomes e José Luís Sales Marques falaram a’O CLARIM sobre o tipo de legislativas que este ano podemos esperar no sufrágio directo. As listas de pendor étnico vão dar cartas.
Miguel de Senna Fernandes, candidato em 1992, disse que as legislativas, pela via directa, «vão ser as mais concorridas de sempre», devido ao «número de listas concorrentes», na sua maioria «de pendor étnico e social», tendo acrescentado que «as listas de natureza empresarial não terão grande sucesso», pois «vão concentrar-se mais na via indirecta».
«Vai haver grande concentração de votos nas listas étnicas, repetindo o que já aconteceu há quatro anos» com as candidaturas ligadas às comunidades de Fujian e de Jiangmen, referiu o advogado, sublinhando que «são listas com bastante peso». Prevê, por outro lado, «um grande desgaste das listas ditas tradicionais», até porque «mesmo a lista tradicional dos “casineiros”, embora de matriz empresarial, tem vindo a abraçar causas mais sociais».
«É um panorama bastante diversificado. O número de votantes aumentou, podendo prejudicar uma lista afecta aos trabalhadores da Função Pública. Não tenho dúvidas sobre a eleição do cabeça de lista, mas não estou tão certo quanto ao número dois», considerou.
Fernando Gomes, candidato em 2001, sustentou que a época das eleições «começou com uma grande baralhada, por causa da Comissão Eleitoral, sobre o que deve ou não ser redigido, falado e emitido no período da pré-campanha e durante a campanha eleitoral». Frisando que «são estas as regras do jogo», disse esperar que as legislativas «sejam isentas o quanto possível», embora saiba que «haja listas a trabalhar na rectaguarda, ou na penumbra, para não serem tão evidentes [a cativar votantes] e não ultrapassarem, no fundo, o que é controlado pela Comissão Eleitoral».
Fernando Gomes levantou ainda «a dúvida», que considerou ser «notória», se uma lista conotada com a Função Pública conseguirá ou não eleger dois deputados. «O segundo será difícil», previu o médico, alertando que «uma lista empresarial – a dos casinos – está a fazer tudo, mas tudo mesmo, para tentar retirar, já para não dizer extorquir, o eventual apoio dos funcionários dos casinos, retirando apoiantes à tal candidatura identificada com a Função Pública».
José Luís Sales Marques, candidato em 2004, referiu que «a generalidade das listas foca a questão da fiscalização ao Governo, postura que surge da leitura que tem sido a prestação do Executivo em vários campos», lembrando, a propósito, que «o programa político oficial das candidaturas apenas será conhecido quando se iniciar a campanha eleitoral».
«Há também a divisão das listas segundo um certo tipo de nomenclatura tradicional das diversas famílias políticas existentes em Macau», assinalou Sales Marques, com a ressalva de que «vão ser substituídas pessoas que são referências muito fortes no campo tradicional», razão pela qual «praticamente desaparecem da Assembleia aquelas figuras que mais se identificam com esse campo, do ponto de vista dos interesses laborais em Macau».
No mesmo âmbito, sublinhou que «os candidatos são obviamente muito mais jovens e têm uma postura política mais associada à defesa de certos interesses económicos, com um certo esforço para aumentar a fiscalização da Assembleia sobre o trabalho do Governo, mas o campo já não é tão tradicional como num passado recente, porque esse tradicionalismo já deixou de existir».
PEDRO DANIEL OLIVEIRA