Padre Pedro Chong

«Esta paragem é o “sabbath” das Escrituras», padre Pedro Chong

PARÓQUIA DE MONG-HÁ ADIOU BAPTISMO DE DOZE ADULTOS PARA A FESTA DE CRISTO REI

O surto epidémico do novo coronavírus obrigou mais de metade da população mundial a permanecer em casa ou a submeter-se a medidas de contenção da propagação da doença, mas o flagelo não criou apenas dissabores, defende o padre Pedro Chong. Para os católicos constituiu também uma oportunidade para a reflexão e introspecção. Em Mong-Há, a pandemia impediu que doze novos fiéis se iniciassem nos Sacramentos da Igreja Católica. Antes agendados para a Vigília Pascal, doze baptizados deverão ser celebrados a 22 de Novembro, dia da Festa de Cristo Rei.

Todos os anos, cerca de 120 adultos são baptizados nas paróquias de Macau. Para muitos, as portas da Igreja e da fé católica abrem-se na Vigília Pascal, realizada no sábado anterior ao Domingo de Páscoa, em que é simbolicamente assinalada a Ressurreição de Jesus Cristo. Este ano, devido ao surto epidémico, os rituais de iniciação dos fiéis adultos na fé católica acabaram por não se concretizar na data prevista, mas não estão esquecidos.

A 9 de Agosto, na paróquia de São Lourenço serão baptizadas catorze pessoas e o Sacramento da Confirmação (Crisma) imposto a onze outras, disse o padre James Ryu Hyoung a’O CLARIM, em meados do mês passado.

São Lourenço não é, no entanto, caso único. Uma cerimónia similar deverá decorrer a 22 de Novembro, dia da Festa de Cristo Rei, se até então o quadro pandémico não se vier a agravar, revelou o padre Pedro Chong. «As cerimónias foram canceladas este ano devido ao coronavírus, mas na paróquia de São Francisco Xavier, em Mong-Há, os baptismos devem decorrer a 22 de Outubro», avançou o pároco de São Francisco Xavier, em declarações a’O CLARIM. «Doze novos fiéis vão receber o Sacramento do Baptismo no dia da Festa de Cristo Rei, se até lá a pandemia não se agravar. O surto epidémico deu às pessoas a oportunidade de pensarem sobre a forma como vivem as suas vidas e lembrou-nos a todos que devemos estar preparados para tempos de incerteza», defendeu o sacerdote.

O número total de novos fiéis que serão baptizados em ambas as paróquias é uma evidência concreta de que a Religião Católica, apesar de amplamente minoritária, está a ganhar raízes no território. O padre Pedro Chong considera que os números podiam ser mais expressivos, mas mais do que a quantidade de novos fiéis, o que importa mesmo é o desejo que expressam em responder ao apelo da Palavra de Deus: «As pessoas vêm até nós e nós ajudamo-las a compreender a fé e a doutrina da Igreja. E é isso. Todos os anos, na diocese de Macau, são baptizados cerca de 120 adultos. Não é um número muito grande. Na Vigília Pascal, apenas na noite da vigília, são baptizadas cerca de 120. Podiam ser mais, mas é esta a situação actualmente. De qualquer forma, as pessoas que vêm até nós para aprender sobre a fé católica são recebidas de braços abertos».

UM DESAFIO, MAS TAMBÉM UMA OPORTUNIDADE

A exemplo do que sucedeu nas demais paróquias do território, no auge da pandemia as actividades pastorais e litúrgicas na igreja de São Francisco Xavier em Mong-Há acabaram por ser suspensas por completo. A paróquia tem vindo aos poucos, desde meados de Maio, a recuperar a dinâmica perdida, mas a catequese só será reatada em Setembro, caso o cenário epidemiológico assim o permita. «Suspendemos os encontros da catequese. Já desde o Ano Novo Lunar que as nossas crianças não têm catequese. Esperamos poder voltar a promover os encontros da catequese em Setembro, mas vai depender da situação», referiu o padre Pedro Chong. «Como dizia, também não celebrámos a Vigília Pascal e não promovemos os ritos de iniciação dos adultos, como estava previsto. Tivemos de adiar estes procedimentos para Novembro», acrescentou.

Em linha com as medidas promovidas pelo Governo, as deliberações colocadas em prática pela Diocese revestiram-se de contornos draconianos, mas foram bem aceites pela generalidade dos católicos que procuram alimento espiritual na paróquia de São Francisco Xavier. «No que diz respeito às diferentes disposições promovidas pela Diocese, em Mong-Há, aquilo que eu percebi foi que os paroquianos fazem questão de cooperar e de respeitar o que lhes é exigido. Por exemplo, sempre que há Missa fazem questão de chegar mais cedo, com tempo suficiente para se submeter ao controlo de temperatura. Fazem-no não só com tempo de sobra, mas também com boas maneiras», ilustrou o padre Pedro Chong. «Por outro lado– continuou –encorajei os meus paroquianos a escrever alguns artigos durante o período em que as igrejas permaneceram fechadas e os fiéis não tiveram a oportunidade de assistir presencialmente às missas dominicais. Foi-lhes dada a oportunidade de partilhar a sua visão da fé na nossa página de Facebook e no portal electrónico dos paroquianos de Mong-Há e isso também ajudou. As pessoas estavam desejosas de poder fazer algo novo durante o período de confinamento».

Para o também director do Centro Pastoral Diocesano da Juventude, organismo que tem a sua sede na paróquia, a paragem induzida pela pandemia criou dissabores, mas também oportunidades, sobretudo por oferecer às pessoas uma chance para repensarem a vida, a forma como se relacionam com os outros e com Deus: «Estamos sempre muito ocupados no nosso dia-a-dia. Esta pandemia ofereceu às pessoas a possibilidade de terem algum tempo para si ou, pelo menos, de viverem em comunidade no seio da própria família. É uma situação diferente de tudo a que estávamos habituados e eu creio que as pessoas se sentiram convidadas a reflectir sobre a sua própria vida, sobre a forma como vivem a sua fé. A meu ver, foi uma boa oportunidade para mudarmos a forma como vivemos».

Segundo o sacerdote, houve consequências positivas: «Por vezes necessitamos de parar e pensar. E se tivermos capacidade para ver para além do óbvio, esta paragem é o “sabbath” das Escrituras. O “sabbath” é um único dia por semana, mas agora foi-nos dado um período mais vasto de tempo para pensarmos sobre a nossa situação, sobre o nosso estilo de vida. Muitos dos católicos locais partilham esta forma de pensar».

Tenham ou não levado os residentes do território a operar um exame de consciência, as restrições impostas tiveram o condão de fazer com que muitos dos paroquianos da igreja de São Francisco Xavier passassem a encarar a vivência da fé como uma dádiva, sustentou ainda o responsável pela paróquia de Mong-Há. «Sinto que estão felizes. Saúdam-se uns aos outros, expressam aquilo que sentem de uma forma que não acontecia antes de tudo isto ter acontecido», descreveu.

«Muitas vezes, só depois de perdermos algo é que descobrimos a importância que tinha na nossa vida. E parece-me que isto foi uma experiência, nesse sentido, para muitos católicos. Valorizo muito a dedicação e os serviços prestados pelos nossos paroquianos ao longo dos últimos seis meses. Mostraram que se importam verdadeiramente com a vida da Igreja», concluiu o padre Pedro Chong.

Marco Carvalho

Leave a Reply

Your email address will not be published. Required fields are marked *