Pioneira no Extremo Oriente dos tempos modernos
Este sábado, 23 de Janeiro, a diocese de Macau celebra 445 anos de existência. Com recurso a um breve artigo publicado na edição inglesa d’O CLARIM, a 22 de Janeiro de 2016, intitulado “Diocese de Macau – 440 anos de Fé”, lembramos hoje um pouco dessa história e o percurso da Igreja Católica na “Cidade do Nome de Deus”, assim oficialmente intitulada em 1586. Neste mesmo ano, o jesuíta Manuel Teixeira escrevia: “Há aqui cinco ou seis mil almas cristãs”.
O referido artigo publicado n’O CLARIM, em formato infográfico com base no “boletim” Aurora, sobre a fundação da Diocese Católica Romana de Macau, lembra-nos que esta foi estabelecida a 23 de Janeiro de 1576 pelo Papa Gregório XIII, através da Bula Super Specula Militantis Ecclesiae. Foi a primeira diocese criada no Extremo Oriente dos tempos modernos.
O breve apontamento histórico adianta que a primeira diocese do Extremo Oriente – a arquidiocese de Pequim – foi implementada na China dois séculos antes, no ano de 1307, durante o reinado do Imperador Yuan Chengzong. Já em 1313, afirma o citado artigo, durante o reinado do Imperador Yuan Renzong a diocese de Quanzhou, em Fujian, era estabelecida; apesar do vigor das duas dioceses, o trabalho estagnou, infelizmente por falta de missionários para continuar a missão.
De acordo com o monsenhor Manuel Teixeira, “a História da Igreja em Macau e sua Diocese está de tal modo ligada à História do Território, que é difícil separar as duas”.
Nos primeiros anos, a diocese de Macau foi responsável por uma ampla faixa da Ásia, incluindo a China, Coreia, Japão, Tonquim (Vietname do Norte) e as ilhas ao redor do Extremo Oriente continental. No livro “Os Mistérios da Fachada Mater Dei em Macau”, o autor Louis Berchier narra que Macau era neste período a maior diocese do mundo, pela sua extensão territorial.
O primeiro Administrador Apostólico da Diocese foi o padre D. Belchior Carneiro SJ. Fundou a Santa Casa da Misericórdia de Macau, o Hospital São Rafael e o Leprosário perto da actual igreja de São Lázaro.
A par dos mercadores portugueses e dos jesuítas, a cidade contava também com outros missionários católicos, nomeadamente franciscanos, agostinhos e dominicanos, e as freiras de clausura de Santa Clara, que aqui se estabeleceram durante os Séculos XVI e XVII.
A NOTÁVEL MISSÃO DA COMPANHIA DE JESUS
O grande missionário jesuíta São Francisco Xavier, enaltecido por Berchier na sua obra como “provavelmente o maior missionário individual que a Igreja alguma vez conheceu, desde São Paulo”, é um dos fundadores da Companhia de Jesus, tendo falecido a 3 de Dezembro de 1552, na ilha de Sanchoão, não longe de Macau, com 46 anos de idade.
Volvidos pouco mais de dez anos, em 1565 os jesuítas já haviam estabelecido no território a sua própria residência, tal como uma pequena igreja, esta dedicada a Nossa Senhora Madre de Deus, “Mater Dei”.
Foi neste ambiente particular – refere Louis Berchier – “que os jesuítas estabeleceram os seus primeiros contactos com os mandarins e os letrados chineses, ficando surpreendidos por descobrirem que a cultura chinesa era muito avançada e mais antiga que a sua. Os jesuítas, de facto, mostraram-se muito respeitosos e souberam adaptar a sua missão às tradições e aos costumes dos seus anfitriões: estudaram a sua filosofia e aprenderam a sua língua na perfeição, passando mesmo a vestir-se como os letrados do Império.”
O autor descreve que deste modo ganharam a confiança e a estima dos chineses e a Companhia de Jesus foi, em pouco tempo, autorizada a penetrar no Império do Meio. “De facto, Matteo Ricci e Michele Ruggieri entram na China em 1583 e criam a primeira missão católica em Siu Hing (Zhaoqing)”, aponta Berchier.
Finalmente, em 1594, a Companhia de Jesus fundou o prestigioso Colégio de Nossa Senhora Mãe de Deus, a primeira universidade de modelo europeu no Extremo Oriente. Desta célebre instituição – realça Berchier – dependia a magnífica igreja “Mater Dei”, verdadeira basílica com três naves. Em 1623 – adianta o autor – o reverendo padre Alexandre de Rhodes SJescreveu a propósito: “Uma igreja tão bela, que nunca vi nada que se lhe iguale, mesmo entre todas as belas igrejas de Itália; com excepção de São Pedro, em Roma. O seu frontispício é admirável, o interior da igreja espaçoso e dotado de uma excelente arquitectura, sendo todo decorado a ouro de ducados de cima a baixo, com pinturas muito raras”.
A igreja, ex-libris do território, seria destruída duas vezes pelo fogo. O que restou do incêndio de 1835 são agora as famosas Ruínas de São Paulo.
Segundo Bercheir, os primeiros missionários da Companhia de Jesus, formados na Europa e “aperfeiçoados” neste Colégio de Macau, foram não só mestres em teologia, mas também eminentes sábios. “Naquela época, no campo da astronomia e da matemática, os jesuítas ocupavam verdadeiramente um lugar de vanguarda”.
Louis Berchier dá-nos ainda uma imagem da importância e seriedade da missão jesuíta à luz de Macau e do quanto bem se preparavam intelectualmente e espiritualmente estes missionários de Cristo: “A Companhia dava uma grande importância à disciplina, à cultura geral e ao estudo das ciências. Deste modo, a par da teologia, do latim, do chinês e do japonês, aqui se ensinavam também as sete artes liberais: a gramática, a dialéctica, a retórica, a matemática, a geometria, a astronomia e a música”.
O escritor francês François-René Chateaubriand, citado por Berchier no seu livro, descreve numa das suas obras: “O jesuíta que partia para a China munia-se de telescópio e de compasso. Desenrolando mapas, fazendo girar globos, traçando esferas, ensinava aos mandarins, admirados, o verdadeiro curso dos astros, bem como o verdadeiro nome d’Aquele que os dirige nas suas órbitas”.
PONTO CATALISADOR DE MISSÃO E EVANGELIZAÇÃO
Logo após a criação da diocese de Macau esta tornou-se o ponto de partida para os missionários que iam para diferentes partes do Extremo Oriente. O Auroraregista que Santa Catarina de Sena e São Francisco Xavier foram os santos padroeiros da diocese de Macau desde o início, evidenciando o carácter missionário do território. Mas, além de divulgar o Evangelho, ela também deveria promover o intercâmbio científico e a retidão moral; daí o lema diocesano “Scientia et Virtus” (conhecimento e virtude).
Após quatrocentos anos, as diferentes áreas administradas pela Diocese cresceram e desenvolveram-se em mais de cem circunscrições autónomas, regista o Aurora. O boletim eclesiástico sublinha que em 2016 a diocese de Macau contava no território com seis paróquias, três quase-paróquias, 31 estabelecimentos de ensino, e 23 instituições de serviço social. Além disso, dirige o Centro Diocesano para os Meios de Comunicação Social, O CLARIM, outros meios de divulgação junto da população e vários centros pastorais. Em 2016, a Diocese contava com 81 sacerdotes, 29 irmãos, 199 religiosas e cerca de trinta mil fiéis leigos.
Miguel Augusto
com Aurora, J.M.M. e livro “Os Mistérios da Fachada Mater Dei em Macau”.