Porque se reza a São Roque nesta pandemia?
Existem vários relatos de que um pouco por toda a Europa, Filipinas e América Latina se invoca e pede a intercessão de São Roque nestes tempos de epidemia. A sua popularidade desde a Idade Média deveu-se à sua protecção durante o flagelo da peste negra.
Nasceu em Montpellier, França, entre 1345 e 1350, e ficou conhecido como peregrino e taumaturgo. A sua festa litúrgica é celebrada no dia 16 de Agosto. É considerado o protector nas epidemias, nas doenças graves e nos terramotos. Homem inteligente, estudou na Universidade de Montpellier e depois entrou na Terceira Ordem Franciscana. Com a morte dos pais deixou de lado a riqueza, distribuiu o que tinha pelos pobres e decidiu peregrinar até Roma.
Terá chegado a Itália durante a epidemia da peste, por volta de 1367, e não só dela não fugiu como até socorreu os contagiados. A convite de um anjo, abençoava os doentes com o sinal da cruz e estes ficavam curados. Em Roma chegou a curar um cardeal, que o apresentou ao Papa, Urbano V, e autorizou que residisse na Cidade Eterna. Depois de alguns anos, um anjo apareceu-lhe em visão e exortou-o a regressar a França.
Passando por Piacenza, ficou alojado num hospital e ali ajudou a cuidar dos doentes. Acabou por ser infectado e, para não contagiar os outros, escondeu-se num bosque fora da cidade. Conta a tradição que um cão, pertencente a Gotardo, nobre e dono do castelo de Piacenza, vinha ter com ele todos os dias, trazendo-lhe um pedaço de pão que retirava da mesa do seu dono. Um dia um servo de Gotardo seguiu o animal e voltando ao castelo contou, com admiração, tudo o que tinha visto. O nobre convidou Roque a ir morar no castelo, ao que este recusou e pediu apenas autorização para construir uma cabana para se abrigar do mau tempo. Ali ficou alguns meses até que foi curado por um anjo.
Retomando o seu regresso a casa, Roque foi apanhado por um conflito dentro do Ducado de Milão e, tendo sido considerado um espião disfarçado de peregrino, ficou prisioneiro em Voghera por cinco anos, onde foi muito maltratado. Terá morrido entre 1376 e 1378, no dia 16 de Agosto, na sua cela, onde se realizou o seu primeiro milagre depois de morto. O carcereiro, que era manco desde o nascimento, ficou curado ao tocar o corpo de São Roque com o pé, para ver se ele estava a dormir ou se estava morto.
Esta notícia rapidamente se espalhou por toda a Itália e muitos ali acorreram para testemunhar o sucedido e observar o corpo de São Roque, que estava envolvido num manto de luz e os olhos voltados para o céu. A sua família foi chamada a reconhecer o falecido e isto só foi possível graças a uma cruz vermelha estampada no seu corpo, sinal que o acompanhou desde o nascimento.
No Concílio de Constança (1414-1418), como a peste ainda ameaçava a população, os dirigentes pediram a protecção e a intercessão de São Roque e a praga acabou. Por isso a sua canonização e o seu culto foram aprovados rapidamente. Inicialmente foi sepultado em Voghera, mas depois os seus restos mortais foram trasladados para Veneza por volta de 1483. Devido à fama pelos inúmeros milagres, as suas relíquias foram distribuídas pelas cidades de Antuérpia, Arles, Montpellier e Lisboa.
São Roque costuma ser representado com o bordão dos peregrinos, uma cabaça de água e um saco às costas ou no braço. Muitas vezes, junto dele, é colocado um anjo e um cão. Diz a tradição que o anjo intervinha anunciando a peste, de que o mesmo São Roque foi contagiado, ou como consolador do doente, ou em atitude de medicar o santo infectado na sua perna. O cão, por sua vez, aparece a lamber-lhe as chagas, mas a maior parte das vezes ao seu lado trazendo na boca ou entre as patas um pão.
ORAÇÃO A SÃO ROQUE
“São Roque, que vos dedicastes com todo o amor aos doentes contagiados pela peste, embora também a tenhais contraído, dai-nos paciência no sofrimento e na dor. São Roque, protegei-me não só a mim, mas também aos meus irmãos e irmãs, livrando-nos a todos das doenças infecciosas. Mas hoje rezo especialmente por uma pessoa muito querida [dizer o nome da pessoa], para que fique livre do seu mal. Concedei-me também a graça e a força de me dedicar aos meus irmãos, ajudando-os nas suas necessidades, aliviando-os nos seus sofrimentos. São Roque, abençoai os médicos, fortalecei os enfermeiros e os auxiliares de saúde e defendei-nos a todos das doenças e dos perigos. Ámen.”
PADRE JOSÉ CARLOS NUNES
Director da Família Cristã