Uma injecção de esperança num país em crise
Uma injecção de esperança para os timorenses face à crise política em que a mais jovem nação do continente asiático se encontra mergulhada. É desta forma que Agostinho Martins, um dos membros mais destacados da pequena comunidade timorense radicada em Macau, se refere à elevação de D. Virgílio do Carmo da Silva ao estatuto de cardeal.
O actual arcebispo de Díli, de 54 anos, é o primeiro filho de Timor-Leste a receber a púrpura cardinalícia. Depois de ter sido empossado cardeal a 27 de Agosto, na Praça de São Pedro, naquele que foi o oitavo consistório do pontificado do Papa Francisco, D. Virgílio do Carmo da Silva foi na passada terça-feira recebido em clima de apoteose no Aeroporto Internacional Nicolau Lobato, em Díli, depois do Governo timorense ter declarado tolerância de ponto. Entre os muitos que o receberam esteve o Presidente do País e Prémio Nobel da Paz, José Ramos Horta.
Para Agostinho Martins, que viveu por dentro os trágicos acontecimentos do Massacre de Santa Cruz, a recepção de que foi alvo D. Virgílio do Carmo da Silva explica-se não apenas pelo contributo dado pela Igreja Católica durante o processo que levou à independência do País, mas também pela esperança numa liderança forte e consensual, numa altura em que Timor-Leste se encontra mergulhado numa longa crise política. «Olhando para aquilo que a Igreja fez no passado, a Igreja sempre foi um pilar importante para o povo timorense. Foi um pilar importante para a luta timorense. Agora, a nomeação de D. Virgílio do Carmo pode ajudar a reforçar a nossa posição e tenho esperança que possa unir mais os políticos e unir mais os timorenses», salienta Agostinho. «Esta nomeação é também um “puxão de orelhas”, através do nosso cardeal. Em grande medida agora vai depender de D. Virgílio. Ele vai ter que saber envolver os políticos e vai ter que saber gerir as mensagens, para que a classe política se lembre que foi eleita para trabalhar para todos os timorenses», acrescenta.
Radicado em Macau desde 1993, Agostinho Martins considera que a elevação de D. Virgílio do Carmo da Silva ao cardinalato constitui mais uma prova do grande carinho que a Igreja Católica sempre demonstrou pela causa do povo timorense. Do apelo feito por D. Martinho da Costa Lopes à união do povo timorense à visita do Papa João Paulo II a Timor-Leste, em 1989, passando pelo Massacre de Santa Cruz e pela atribuição do Prémio Nobel da Paz a D. Carlos Ximenes Belo, a Igreja Católica – considera ainda Agostinho – esteve em todos os grandes momentos do processo de autodeterminação do povo timorense. «O Vaticano nunca nos esqueceu. Quando visitou a Indonésia, o Papa João Paulo II também visitou Timor e isto também foi um triunfo para a nossa luta. Agora, esta nomeação de D. Virgílio do Carmo da Silva significa que não estamos sozinhos», sublinha o antigo combatente. «Quando foi o Massacre de Santa Cruz, os jovens rezavam o Terço. Em vez de terem medo dos militares indonésios, rezavam o Terço, com as armas todas apontadas para eles a uma distância de cinquenta metros. Estavam ali com as armas apontadas para eles e eles ali a rezar», conclui.
Marco Carvalho