Mais de 1700 utentes e funcionários com a vida em suspenso
Um total de doze valências geridas pela Cáritas de Macau estão a ser operadas em regime de circuito fechado. Mais de mil e 700 pessoas – entre utentes e funcionários – estão totalmente confinadas, num esforço que tem por objectivo evitar que o Covid-19 se espalhe entre grupos de risco. A transição para o novo modelo de gestão obrigou a sacrifícios financeiros e humanos, mas Paul Pun aplaude, ainda assim, a medida.
Os quatro centros de reabilitação geridos pela Cáritas de Macau juntaram-se na quarta-feira aos oito lares de idosos da organização que desde 23 de Junho estão a operar em regime de circuito fechado, estando os idosos, outros utentes e os funcionários isolados preventivamente.
Com o propósito de salvaguardar a saúde dos utentes e dos trabalhadores, o Instituto de Acção Social ordenou que 24 lares e casas de repouso passassem a ser geridos em regime de circuito fechado. À lista foram acrescentados esta semana onze lares de reabilitação e um centro de desintoxicação e reabilitação. Nas instalações abrangidas pela medida, as visitas estão suspensas indeterminadamente e a entrega de bens de subsistência apenas pode ser efectuada «sem qualquer tipo de contacto físico».
No caso específico da Cáritas de Macau, este regime afecta cerca de mil e 700 pessoas, mais de quinhentas das quais funcionários da instituição que se viram obrigados a sacrificar o conforto doméstico e a privacidade em prol da saúde e do bem-estar dos utentes com quem trabalham. «Oito lares começaram a seguir esta política a 23 de Junho. E esta semana, na quarta-feira, quatro centros de reabilitação também começaram a operar em regime de circuito fechado», explicou Paul Pun. «Em modos gerais, estamos a falar de mil e 200 utentes nos lares e nos centros de reabilitação. Temos oitocentos idosos nos lares e cerca de quatrocentos e tal pacientes nas unidades de reabilitação, que estão a ser acompanhados por mais de quinhentos funcionários», acrescentou o secretário-geral da Cáritas, em declarações a’O CLARIM.
Segundo Paul Pun, a transição para o regime de gestão preventiva em circuito fechado não se fez sem desafios. O responsável reconhece que a adopção da nova política profilática deixou a Cáritas com escassez de recursos. Do ponto de vista humano, alguns funcionários depararam-se com maiores dificuldades para se adaptar às novas circunstâncias. «Tivemos de encontrar meios para dar apoio aos nossos funcionários. Eles têm de permanecer dentro das instalações e algumas destes trabalhadores nunca se tinham ausentado de casa, pois sempre viveram com a própria família. Esta é a primeira experiência deste género a que tiveram que se submeter e alguns tiveram mais problemas para se adaptar ao início», referiu. «Por outro lado, devido à adopção desta nova política, os nossos recursos são agora muito limitados, dado que tivemos de usar muitos dos nossos recursos. Tivemos de comprar comida suficiente para os utentes e funcionários; tivemos de comprar bens para os idosos, e em grandes quantidades de uma vez, o que é bastante dispendioso. Tivemos de encontrar uma forma de lidar com isto; foram necessários muitos recursos», sublinhou Paul Pun.
EVITAR OS ERROS DE HONG KONG
Apesar do esforço financeiro e humano que a transição para o regime de gestão preventiva em circuito fechado representou para a Cáritas, Paul Pun aplaude a decisão das autoridades de Macau. Para ele, apesar de drástica, a medida é fundamental para que o território possa evitar o mesmo cenário que assombrou Hong Kong. «Na vizinha Hong Kong, durante a fase mais severa do surto, muitas pessoas faleceram e, se não estou em erro, cerca de metade dos que morreram eram utentes de lares de idosos e de casas de repouso. Em Hong Kong houve muitas mortes nos lares», recordou. «Acontece que cerca de dois por cento dos lares de idosos de Hong Kong optaram por fazer o mesmo que estamos a fazer agora e foram poupados a essa vaga de mortalidade. Os idosos foram protegidos e esses lares evitaram uma tragédia», acentuou ainda.
Na opinião do secretário-geral, mais do que apenas salvaguardar os idosos e os funcionários, a opção tomada é também uma forma de proteger a sociedade, uma vez que pode impedir que os idosos monopolizem camas e valências hospitalares: «Na verdade, esta política é uma forma de proteger não apenas os idosos e os trabalhadores, mas também a sociedade de uma forma geral. Imagine-se que alguns lares eram afectados e que os utentes contraíam a doença. O mais certo seria que esses pacientes fossem considerados casos severos e fossem ocupar camas nas Unidades de Cuidados Intensivos. Se isso acontecesse, os Serviços de Saúde de Macau teriam um grande problema em mãos».
A Cáritas submete diariamente os utentes e os funcionários das doze valências que se encontram confinadas a testes de ácido nucleico, com o objectivo de garantir que a estratégia de combate à pandemia de Covid-19 é bem-sucedida. Os testes, realizados com os próprios recursos da instituição, representam um esforço financeiro adicional, mas essa não é a principal preocupação com que se deparam, neste momento, os responsáveis pela organização. «As nossas preocupações são outras. Temos de encontrar uma forma de encorajar a população a não andar de um lado para o outro, de modo a que a epidemia possa ser controlada. Se as pessoas se continuarem a movimentar e a viajar, as pessoas que neste momento se encontram fechadas nos nossos equipamentos terão que lá ficar, até não se sabe bem quando. A longo termo, esta opção não é praticável», alertou Paul Pun. «Se por qualquer razão as pessoas deixarem de trabalhar, teremos que contratar novos funcionários. E recrutar novos funcionários é muito difícil. É uma tarefa cada vez mais árduas. Por isso, a nossa prioridade é pedir à população que faça um esforço para se manter em casa», concluiu.
Marco Carvalho