ASSENTE NA ROCHA DE PEDRO, A IGREJA – COMPOSTA POR “PEDRAS VIVAS” – É TEMPLO DO ESPÍRITO SANTO

Assim na Terra como no Céu

ASSENTE NA ROCHA DE PEDRO, A IGREJA – COMPOSTA POR “PEDRAS VIVAS” – É TEMPLO DO ESPÍRITO SANTO

No passado Domingo, terceiro da Quaresma, na leitura do Evangelho foi dada – também aos fiéis de Macau – a narrativa de Jesus no Templo, às portas da Páscoa dos judeus. Aqui o Senhor mostra o Seu profundo desagrado pelo que viu e zelou pela Casa do Pai; indignando-se disse: «Não façais da casa de meu Pai uma casa de comércio!». Os judeus então perguntaram a Jesus: «que sinal nos mostras para agir assim?». Ele respondeu: «destruí este Templo, e em três dias eu o levantarei», (João, 2:13-25). Do muito que se pode meditar nesta passagem, somos levados a reflectir sobre o que é o Templo, a Igreja, assente sobre uma fundação humana, por vontade divina, na “pedra” de Pedro (Mateus, 16:18), onde nasce a sucessão apostólica, os ministros dos Sacramentos, da Palavra, Doutrina e Missão.

A Igreja é composta por um corpo místico e cada cristão é membro desse corpo, “pedra viva” do Templo. A cabeça do corpo, da Igreja, é Jesus Cristo (Colossenses, 1:18), a pedra angular (Actos dos Apóstolos, 4:11) que tudo sustenta. Deste modo, o Templo universal da Igreja Católica Romana é guiado e nutrido pelo próprio Corpo do Senhor, onde Ele habita não só no corpo arquitectónico, presente na Sagrada Eucaristia, como no templo de cada homem criado à imagem e semelhança de Deus, templo do Espírito Santo (1 Coríntios, 6:19).

Os primeiros cristãos entendiam que somente nas Igrejas que tinham origem na legítima sucessão dos Apóstolos é que se conservava fielmente a Doutrina Apostólica. As primeiras edificações cristãs dedicadas ao culto litúrgico foram as casas dos primeiros nazarenos seguidores de Cristo que ficaram conhecidas como Domus Eclesiae, e após o fim do Século II, e início do Século III, viriam a chamar-se, em Latim, de Domus Dei – edifícios destinados ao culto cristão entre outras actividades catequéticas.

Santo Inácio de Antioquia (Século II) falava sobre a presença da Instituição “Igreja”, correlacionando-a aos bispos sucessores dos Apóstolos: “onde quer que se apresente o Bispo, ali esteja também a comunidade, assim como a presença de Cristo Jesus nos assegura a presença da Igreja Católica”. É de realçar que Santo Inácio converteu-se ao Cristianismo em idade avançada, graças à pregação de São João Evangelista.

O Catecismo da Igreja Católica (CIC) dá-nos uma breve explicação sobre a palavra “Igreja”: “a palavra ‘Igreja’ (‘ekklesía’, do verbo grego ‘ek-kalein’ = ‘chamar fora’) significa ‘convocação’. Designa as assembleias do povo em geral de carácter religioso. É o termo frequentemente utilizado no Antigo Testamento grego para a assembleia do povo eleito diante de Deus, sobretudo para a assembleia do Sinai, onde Israel recebeu a Lei e foi constituído por Deus como seu povo santo. Ao chamar-se ‘Igreja’, a primeira comunidade dos que acreditaram em Cristo reconhece-se herdeira dessa assembleia. Nela, Deus ‘convoca’ o seu povo de todos os confins da terra. O termo ‘Kyriakê’, de onde derivaram ‘church’, ‘Kirche’, significa ‘aquela que pertence ao Senhor’” (CIC nº 751).

Ainda citando o CIC, observamos um sentido mais universal da palavra “Igreja” na alínea seguinte: “na linguagem cristã, a palavra ‘Igreja’ designa a assembleia litúrgica, mas também a comunidade local ou toda a comunidade universal dos crentes. Estes três significados são, de facto, inseparáveis. ‘A Igreja’ é o povo que Deus reúne no mundo inteiro. Ela existe nas comunidades locais e realiza-se como assembleia litúrgica, sobretudo eucarística. Vive da Palavra e do Corpo de Cristo, e é assim que ela própria se torna Corpo de Cristo” (CIC nº 752).

Na Praça de São Pedro, a 26 de Junho de 2013, o Papa Francisco transmitiu-nos uma imagem que nos ajuda a compreender o mistério da Igreja: a do Templo. O Santo Padre afirmou então: «no que nos faz pensar a palavra templo? Faz-nos pensar num edifício, numa construção… Em Jerusalém, o grande Templo de Salomão era o lugar do encontro com Deus na oração; no interior do Templo encontrava-se a Arca da Aliança, sinal da presença de Deus no meio do povo; e a Arca continha as Tábuas da Lei, o maná e a vara de Araão: uma referência ao facto de que Deus sempre esteve no seio da história do seu povo». Na ocasião, o Papa Francisco referiu que Cristo é o Templo vivo do Pai, e é o próprio Cristo que edifica a Sua “casa espiritual”. O apóstolo Paulo, lembrou o Pontífice, diz aos cristãos de Éfeso: «vós sois edificados sobre o fundamento dos apóstolos e dos profetas, tendo por pedra angular o próprio Cristo Jesus. É nele que todo o edifício, harmonicamente disposto, se levanta até formar um templo santo no Senhor. É nele que também vós entrais conjuntamente, pelo Espírito, na estrutura do edifício que se transforma na morada de Deus» (Efésios, 2:20-22). Francisco enfatizou ainda que somos a Igreja viva, o Templo vivo, e quando estamos unidos, entre nós está também o Espírito Santo, que nos ajuda a crescer como Igreja.

Na continuidade da sabedoria dos vigários de Cristo, o Papa Bento XVI, a 9 de Novembro de 2008, recordava na liturgia diária a celebração da primeira Basílica construída no início do Século IV. A Basílica Lateranense, chamada “mãe e cabeça de todas as igrejas da cidade e do mundo”. De facto, acentuou Bento XVI: «esta Basílica foi a primeira a ser construída depois do edito do imperador Constantino que, em 313, concedeu aos cristãos a liberdade de praticar a sua religião. O templo de pedra é símbolo da Igreja viva, a comunidade cristã, que já os Apóstolos Pedro e Paulo, nas suas cartas, significavam como “edifício espiritual”, construído por Deus com as “pedras vivas” que são os cristãos, sobre o único fundamento que é Jesus Cristo, por sua vez comparado com a “pedra angular”». O agora Papa emérito acrescentou: «a beleza e a harmonia das igrejas, destinadas a prestar louvor a Deus, convida também nós seres humanos, limitados e pecadores, a converter-nos para formar um “cosmos”, uma construção bem ordenada, em estreita comunhão com Jesus, que é o verdadeiro Santo dos Santos».

A IGREJA FAMILIAR

A igreja familiar, assente no matrimónio, é também chamada a ser imagem de Cristo. Uma célula onde se vive e habita o apelo do Senhor a todo o Seu corpo, fundamentado no amor. O homem, a cabeça da sua família pela ordem dada por Jesus (1 Coríntios, 11:3), é convidado a ser “Pedro”, a rocha onde assenta a sua igreja doméstica guiada pelo Espírito Santo; tendo em mente o apelo do Senhor – que ame a sua esposa como Ele amou a Sua igreja (Efésios, 5:25). Na vocação do Sacramento da união conjugal, há um contínuo caminho rumo à conversão e santidade.

O Papa João Paulo I, na sua primeira mensagem emitida na rádio, a 27 de Agosto de 1978, dizia: «as Famílias são “o santuário doméstico da Igreja”, direi até; uma verdadeira e própria “Igreja doméstica”, em que florescem as vocações religiosas, em que se tomam as santas decisões, e onde se prepara o futuro do mundo».

A 3 de Junho de 2012, no Encontro Mundial das Famílias, Bento XVI deixava este belo apelo: «não é só a Igreja que é chamada a ser imagem do Deus Uno em Três Pessoas, mas também a família fundada no matrimónio entre o homem e a mulher».

Nas “pedras vivas” do Templo não podemos deixar de mencionar a Bem-Aventurada Virgem Maria, Ela que foi a primeira morada de Deus feito homem, o primeiro sacrário, a primeira Catedral desenhada pelo Altíssimo; Mãe de Deus, dos homens e da Igreja. Que Nossa Senhora guie e segure cada “pedra”, rumo à eternidade!

Miguel Augusto 

com Felipe Aquino, Canção Nova e Libreria Editrice Vaticana

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