Cáritas monitoriza saúde mental da comunidade filipina
Chama-se “Kumusta, Kabayan!”, foi desenvolvida pela Universidade de Macau e pela Cáritas tendo por base critérios definidos pela Organização Mundial de Saúde, e tem por objectivo fornecer pistas que possam ajudar a traçar um retrato da saúde mental dos imigrantes filipinos que trabalham em Macau. Lançada no passado Domingo, a aplicação já foi descarregada por mais de uma centena e meia de pessoas. No futuro, a organização liderada por Paul Pun quer estender o projecto às demais comunidades de trabalhadores não-residentes radicados no território.
A Igreja Católica em Macau associou-se à promoção de uma nova aplicação para telemóvel desenvolvida pela Cáritas e pela Universidade de Macau que tem como principal propósito ajudar a traçar um retrato da saúde mental dos trabalhadores não-residentes de nacionalidade filipina radicados no território.
No último Domingo, a igreja de Santo Agostinho, muito frequentada por imigrantes oriundos das Filipinas, foi palco de um apelo para que os membros da comunidade “pinoy” de Macau se associem ao projecto. A solicitação deve ser repetida ao final do próximo Domingo, na igreja da Sé Catedral, revelou o secretário-geral da Cáritas, Paul Pun, em declarações a’O CLARIM. «No Domingo, dia em que foi lançada, a aplicação foi descarregada por 164 pessoas. O processo de divulgação da aplicação vai continuar ao longo dos próximos três Domingos. Vamos promover novas acções de divulgação», explicou o dirigente. «No último Domingo a aplicação foi divulgada na igreja de São Domingos. Este Domingo, às cinco da tarde, o mesmo vai acontecer na Catedral. O sacerdote que lá celebra missa contactou-nos sobre a possibilidade de poder apresentar a aplicação aos fiéis. É uma forma de podermos perceber quem poderá ter interesse na instalação e utilização desta aplicação», acrescentou Paul Pun.
Desenvolvida pela Universidade de Macau, tendo por base os critérios definidos pela Organização Mundial de Saúde no Programa de Intervenção para Trabalhadores Migrantes, a aplicação é o resultado de um memorando de entendimento assinado entre a maior instituição de Ensino Superior local e a Cáritas com o propósito de tomar o pulso à saúde mental dos imigrantes. «A aplicação pode ser posteriormente adaptada a outras nacionalidades. Decidimos começar com a comunidade filipina porque a maior parte dos imigrantes não-sinófonos de Macau são filipinos, mas mais tarde tencionamos fazer algo similar com os imigrantes vietnamitas e indonésios», referiu o secretário-geral da Cáritas.
Financiado pela Fundação Macau, o projecto conta com o apoio do Consulado Geral das Filipinas em Macau e de diversas outras entidades, como a Universidade Livre de Berlim ou a Universidade de La Salle, de Manila. A instituição de Ensino Superior filipina vai facultar apoio aos utilizadores da aplicação. «Organizações como a Universidade de La Salle, nas Filipinas, ofereceram-se para estar em contacto com os utilizadores da aplicação e para lhes facultar apoio. Este é um aspecto único da aplicação. Os investigadores da Universidade de La Salle vão prestar apoio e, caso seja necessário, vão referenciá-los para que possam obter tratamento médico ou psicológico. Depois cabe aos pacientes procurar esse tratamento. A aplicação, por si só, não será capaz de os ajudar», alertou Paul Pun.
A aplicação “Kumusta, Kabayan!” pauta a primeira colaboração activa entre a Universidade de Macau e a Cáritas e para a organização liderada por Paul Pun prefigura também o estreitamento das relações institucionais com o mundo universitário. A Cáritas assinou protocolos e memorandos de entendimento com três instituições de Ensino Superior do território e uniu esforços com a Universidade de São José para a criação de um novo centro de investigação, o Observatório para o Desenvolvimento Social de Macau. «Foi-me dado a entender que a Universidade de São José queria fazer algo em conjunto com a Cáritas e este Observatório cumpre esse desígnio», disse Paul Pun. «A Universidade tem investigadores e especialistas e nós temos o pessoal da linha da frente, aqueles que cuidam e tratam das pessoas. É uma boa combinação. Nós não temos investigadores, nem capacidade de investigação e para a Universidade não é muito fácil fazer trabalho de campo, por exemplo com os sem-abrigo ou em outras áreas de intervenção social. É bom para eles e é bom para nós. Somos muito afortunados por podermos trabalhar juntos», esclareceu ainda.
CAIXA
UMA PLATAFORMA DE SALVAÇÃO PARA IMIGRANTES
O novo coronavirus afecta, directa ou indirectamente, desde há seis meses milhões de pessoas em todo o mundo e Macau, por razões económicas, não é excepção. Os trabalhadores não-residentes estão entre os mais vulneráveis e para muitos a Cáritas foi ao longo dos últimos seis meses uma plataforma de salvação. A organização liderada por Paul Pun ajudou, desde os primeiros dias da pandemia, mais de duas centenas de imigrantes de várias nacionalidades em situação precária, quer através da distribuição de alimentos, quer da distribuição de pequenas remessas de ajuda financeira. «Até ao momento, fizemos chegar ajuda a 209 pessoas: 103 filipinos, onze indonésios, 85 vietnamitas, cinco nepaleses, duas pessoas do Myanmar e três de outros países», especificou o secretário geral da Cáritas. «Os números abrangem 127 casos de pessoas que nos pediram ajuda devido a dificuldades económicas, 34 a problemas de saúde ou porque queriam regressar a casa e dez outros que foram despedidos ou que tiveram problemas laborais. Concedemos apoio emocional a sete pessoas e apoio logístico a quatro, para que fossem tratar de vistos e de outros documentos», sublinhou Paul Pun.
No total, e desde o início do surto epidémico do Covid-19, a Cáritas já gastou mais de cem mil patacas em iniciativas de apoio aos trabalhadores não-residentes que foram mais afectados pela pandemia. O montante não abrange, ainda assim, os géneros alimentares que foram doados por entidades privadas e por outras organizações. Desde o início da crise de saúde pública a Cáritas ofereceu mais de um milhar de cabazes alimentares a imigrantes em situação precária, um gesto que tarda a fazer parte do passado. «Os pedidos de ajuda continuam a chegar. Nunca pararam», acentuou o responsável.
Marco Carvalho