Empresa quer aproximar Macau e a Terra Santa
A Fé move montanhas e o turismo religioso movimenta cada vez mais pessoas em todo o mundo. Macau não é excepção. O interesse pela Terra Santa e pelos locais mais emblemáticos do Cristianismo aumentou nos últimos anos. Fundada há pouco de doze meses, a Antonio Pilgrimage Company quer aproximar os católicos do território da geografia onde “o Verbo se fez Carne”.
Viajar tendo a Palavra de Deus como guia. É o que propõe uma nova agência de viagens recentemente constituída e especializada em turismo religioso. A Antonio Pilgrimage Company foi fundada há pouco mais de um ano, mas já levou um grupo de peregrinos chineses à Terra Santa e, em Abril, propõe-se conduzir católicos de Macau e de Hong Kong à descoberta dos locais mais emblemáticos da história do Catolicismo no Japão.
O objectivo, explicou Ivy Wu, directora executiva da Antonio Pilgrimage, é proporcionar o reforço da Fé e um conhecimento mais profundo da Palavra de Deus através da visita aos locais onde a narrativa bíblica se materializou. Mais do que uma mera jornada de lazer dotada de uma envolvência religiosa, a Antonio Pilgrimage quer que as peregrinações que organiza sejam entendidas como uma oportunidade para aprofundar a relação pessoal que cada um mantém com Deus. «Quando as paróquias e diferentes comunidades nos convidaram para organizar uma viagem à Terra Santa, o que procurámos fazer foi convencer os participantes a considerar a viagem como um tempo de formação e de fortalecimento da Fé. O objectivo central desta peregrinação foi sempre o de nutrir a relação que cada um mantém com Cristo», esclareceu Ivy Wu. «Um dos aspectos mais significativos desta abordagem é a possibilidade de oferecer aos peregrinos a leitura dos textos bíblicos no exacto local onde esses acontecimentos tiveram lugar há dois mil anos. Estas reflexões bíblicas não nascem de um conhecimento imaturo da Bíblia, mas de uma compreensão sólida da exegese, de informação arqueológica, de reflexões teológicas, da aplicação pastoral desses e de outros conhecimentos relativos aos ensinamentos da Igreja. É isso que a nossa equipa consegue assegurar aos católicos de língua cantonense», salientou.
A primeira – e até, ao momento, a única – peregrinação organizada pela empresa, tendo como destino a Terra Santa, realizou-se no início do último Verão, antes do renascimento do conflito israelo-palestiniano ter mergulhado a região numa nova espiral de violência. O grupo, maioritariamente constituído por católicos locais, percorreu as “labirínticas ruas” de Jerusalém e aventurou-se à descoberta dos mosteiros milenares do deserto da Judeia, numa viagem que ajudou também a revelar a forma como vivem os católicos locais, dois mil anos após a morte e ressurreição de Jesus Cristo.
«Recebemos aconselhamento e orientação por parte de vários sacerdotes de Macau e fizemos a nossa primeira peregrinação à Terra Santa no início do Verão de 2023. Para nos prepararmos para esta peregrinação, visitámos Israel duas vezes antes da partida do grupo. Explorámos a cidade velha de Jerusalém, com os seus becos labirínticos. Atravessámos o deserto da Judeia para visitar mosteiros antiquíssimos, alguns dos quais foram construídos nos primeiros anos da Era Cristã. Comunicámos com os católicos locais, no que foi para nós uma oportunidade para aprender um pouco mais sobre a cultura árabe», recordou Ivy Wu. «Tivemos ainda a oportunidade de ficar num albergue para peregrinos e de descobrir uma nova forma de hospitalidade. Abraçámos as culturas judaica e islâmica: visitámos os bairros onde vivem, comemos a comida que comem, confraternizámos com eles e visitámos os seus locais de culto. Não é propriamente fácil para as pessoas de língua e cultura chinesa ter este tipo de iniciativas nesta região, porque ainda persiste uma enorme lacuna entre religiões e culturas. Este tipo de experiências ajudou-nos a dotar a peregrinação de um maior dinamismo», sustentou a responsável.
O esforço empreendido pela empresa para levar os católicos locais aos pontos nevrálgicos da Cristandade é tanto mais significativo quanto o facto dos responsáveis pelo projecto organizarem as peregrinações no tempo livre que lhes sobra. Segundo Ivy Wu, a Antonio Pilgrimage surgiu com o propósito de suprir uma lacuna e de aproximar os católicos chineses dos locais por onde Jesus andou. «Começámos a edificar esta missão em 2022 e estabelecemos, finalmente, a empresa em 2023. Temos os nossos próprios empregos, mas dedicamos mais de um terço do nosso tempo a gerir esta empresa. Deparámo-nos com algumas dificuldades, não só em termos de tempo, mas também em termos financeiros. Essas dificuldades acabaram, porém, por acentuar a nossa confiança em Deus», disse, acrescentando: «Iniciámos a Antonio Pilgrimage por causa da Terra Santa. Um dos nossos parceiros viveu na Terra Santa durante algum tempo em 2017 e conheceu um frade franciscano que foi um dos pioneiros na organização de peregrinações à Terra Santa direccionadas para católicos chineses. O nosso parceiro aconselhou-se com este frade e com outro especialista em peregrinações à Terra Santa, o Senhor Lee, de Hong Kong, e desde 2017 tem participado de forma consistente em acções de formação. O objectivo primordial dos nossos fundadores foi sempre promover esta peregrinação junto das comunidades católicas de língua chinesa».
Com a escalada de violência entre Israel e o Hamas, a Terra Santa está desde Outubro fechada a peregrinos e a turistas e o conflito levou a Antonio Pilgrimage a sugerir aos católicos de Macau rotas e destinos alternativos. A empresa vai promover, entre 15 e 19 de Abril, uma viagem de cinco dias ao Sul do Japão, à descoberta das raízes históricas do Catolicismo japonês. «Esta peregrinação ao Japão vai estar centrada em Nagasaki, a partir de onde vamos tentar compreender melhor a história dos católicos que praticavam o Cristianismo em segredo. A história dos “cristãos escondidos” proporciona-nos um entendimento mais sólido de conceitos como martírio, sofrimento, indulgência ou da aceitação do “silêncio de Deus”. Vamos procurar descobrir um pouco mais sobre a realidade dos Kakure Kirishitan no futuro», concluiu Ivy Wu.
De acordo com a Organização Mundial do Turismo, em 2022, 340 milhões de peregrinos viajaram para templos, igrejas, mesquitas, sinagogas e outros locais de culto, com o objectivo de reforçarem a vivência da Fé. A organização estima que o turismo religioso tenha gerado receitas de entre 170 a duzentos mil milhões de patacas.
Marco Carvalho