André Couto II

Os Fórmula e a vitória na Guia

André Couto estava agora “lançado aos bichos”. O mundo do karting, com as suas políticas, rivalidades e, por vezes, deslealdades, ficava para trás, mas não se comparava em nada com o ambiente no qual o piloto macaense se preparava para entrar.

Um mundo onde as fábricas de automóveis, de pneus e acessórios criavam (e criam) heróis, pilotos e mitos, que se podem desfazer com uma simples rescisão de contrato, independentemente das qualidades ou falta delas de um piloto, onde os patrões e ou os proprietários das equipas podem, a seu bel-prazer, fazer ou desfazer um piloto, com ou sem qualidades, dependendo muitas vezes da nacionalidade, ou da quantidade de dinheiro que possam trazem para a equipa.

Estávamos no ano de 1995 e André entrou com “o pé direito” no mítico mundo dos Fórmula. A Fórmula Opel foi a escolhida para a sua iniciação. Com a equipa Vergani, de Itália, tem prestações muito consistentes e no seu ano de estreia classificou-se no 5º lugar da classificação geral do Campeonato Europeu de Fórmula Opel, depois de algumas melhores voltas e de pelo menos uma “pole position”. À mistura venceu o Grande Prémio do Estoril dessa categoria a contar para o campeonato, e com Manuel Gião, filho de um nome grande do desporto motorizado português, vence a Taça do Mundo de Fórmula Opel, disputado no Circuito de Magny Cours, em França.

Ainda nesse ano, e se bem que sem ter qualquer experiência de Fórmula 3, vem a Macau patrocinado por uma tabaqueira local, decidido a enfrentar o Circuito da Guia. Foi o primeiro, e até hoje, o único piloto a participar no Grande Prémio de Fórmula 3 de Macau no exigente asfalto da Guia, sem ter qualquer experiência nessa Fórmula. Apesar desse facto, liderou a prova por várias voltas antes de abandonar. O vencedor dessa edição foi Ralf Schumacher, que teve que se empenhar “a sério” contra o novato, e que se declarou espantado com a prestação do piloto macaense.

Regressou à Europa, desta vez com destino ao competitivo Campeonato de Fórmula 3 Alemão, onde enfrentou vários problemas de ordem técnica. Ainda teve tempo para um salto a Itália onde venceu uma corrida do Campeonato Italiano de Fórmula 3. A necessidade de mostrar serviço levou-o a mudar-se do campeonato alemão para o italiano no ano seguinte. Ficaram famosas as batalhas travadas entre André Couto de Macau e Paolo Montin de Itália. Ambos poderiam ter vencido, mas calhou ao piloto italiano essa honra, e o piloto de Macau ficou-se pelo segundo lugar.

O Grande Prémio de Macau voltou a ser um “must” e André foi novamente uma força a ter em conta, mas o tal sonho de vencer o “seu” Grande Prémio ainda teria que esperar mais uns anos. Regresso à Europa em 1998 e passa à Fórmula 3000. Primeiro com a Prema Power Team e depois com a Prost Racing.

Se bem que assinando algumas boas prestações, a passagem por essa Fórmula não foi a mais desejada. Especialmente as provas corridas com a equipa do tri-campeão do mundo de pilotos Alain Prost não foram as mais auspiciosas. Ele, macaense, era preterido em favor de Steffan Sarrazin, francês, o outro piloto da equipa, ao ponto do chefe de equipa uma vez ter trocado o carro do piloto de Macau pelo do francês, depois de ter sido muito mais rápido nos treinos do que o seu companheiro de equipa.

André manteve-se na Fórmula 3000, de 1998 até ao ano 2000. Na sua última época na Fórmula 3000 o piloto de Macau veio ao Circuito da Guia, pela sexta vez. De novo, e sempre, em perseguição do tal sonho de vencer o Grande Prémio de Macau. Era agora um piloto mais completo e experiente. Com uma prestação quase perfeita, e um pouco de sorte, viu os seus mais directos competidores ficarem pelo caminho, e esse ano foi o do sonho concretizado e venceu o Grande Prémio de Macau.

Com a vitória na terra que o viu crescer apareceu um convite para pilotar no Japão. Convite aceite. No seu primeiro ano no Japão disputou corridas de GT, carros de turismo, na sua maioria japoneses, alterados segundo regras próprias e exclusivas do automobilismo do “País do Sol Nascente”, e Fórmula Nippon, que eram uns carros muito parecidos com os Fórmula 3000 europeus, só que mais velozes. Teve um sucesso relativo, mais nos GT que nos Fórmula, e no fim desse primeiro ano passou apenas a tripular carros de GT do All Japan GT Championship.

Ainda foram ventiladas possibilidades de poder ir para os Estados Unidos da América, e disputar o Campeonato CART americano, que, na época, utilizava carros da Fórmula Indyanapolis. O facto dessa categoria americana ser muito perigosa e com vários acidentes graves, no ano de 2001, levou a que desistisse do projecto e continuasse no Japão.

Manuel dos Santos

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