A Evolução da Marca CTT ao longo dos tempos
Em 1884, há 136 anos, foram criados os Correios de Macau. Nas primeiras décadas do século XX este serviço passou a denominar-se Correios, Telégrafos e Telefones (CTT), depois de à gestão do correio local se ter juntado os serviços de telégrafos e telefones. Data também desse período a constituição da Caixa Económica Postal. Neste âmbito, o CLARIMpublica um artigo sobre os 500 anos dos Correios em Portugal, empresa-mãe – diríamos – dos CTT de Macau. Estes últimos integram hoje dez serviços: Correios de Macau, Telecomunicações, Serviço do Correio Rápido (EMS), Filatelia, Caixa Económica Postal, Museu das Comunicações, eSignTrust, Electrónicos Postais Seguros, Direct Mail e eLocker.
A quarta emissão de selos evocativa dos 500 anos do serviço postal em Portugal, lançada em 2019, é dedicada à evolução da “marca” dos Correios ao longo dos tempos.
Entre 1520 e 1880 os operadores de correios eram autorizados a arvorar o símbolo real. Os cavaleiros podiam usar as armas reais no seu vestuário, o que lhes conferia o direito de salvo-conduto e de passagem nas estradas e caminhos de todo o País. Igualmente era-lhes concedida a permissão para trazer consigo uma espada e um punhal, para defender a correspondência que transportavam.
Em 1880 cria-se a primeira marca identitária do serviço de Correios: o logótipo da Direcção-Geral dos Correios Telégrafos e Faróis é representado por uma carta ao alto, atravessada de ambos os lados por três raios eléctricos, tendo na parte superior a Coroa Real. Estes elementos pretendiam simbolizar o Correio, através da carta; a tutela do Estado, através da coroa real; e, finalmente, os Telégrafos, através dos raios representativos da electricidade/telegrafia.
Depois de mais uma renovação do logótipo anterior concretizada em 1936, chegamos a 1953 e à génese do mais emblemático símbolo dos Correios em Portugal: o postilhão a cavalo tocando uma corneta. Foi desenhado pelo mestre Jaime Martins Barata e manteve-se na base da identificação dos CTT Correios de Portugal com diferentes modernizações até aos dias de hoje. O mensageiro a cavalo (ou condutor da carruagem de mala-posta) tem em dialecto típico de correios, em todo o mundo, o nome de “Postilhão”. É normalmente representado a cavalo, com uma trombeta (ou uma corneta) na mão.
A trombeta servia para anunciar a sua chegada a alguma estação de muda de cavalos, para que os cavalos frescos pudessem ser rapidamente atrelados à mala-posta.
O instrumento servia igualmente para dar sinal da sua chegada a um castelo, quinta ou localidade onde o correio era esperado, ou ainda em sinal de despedida, quando partia para o próximo destino.
Era uma figura emblemática do correio em todo o mundo, rapidamente confundido com a própria actividade. Quando se ouvia a trombeta logo se dizia “vem aí o correio”.
Talvez por isso mesmo esta figura passou dos tempos antigos para os modernos, em muitos países do mundo, como a “marca” mais visível do serviço postal. Os correios ingleses, alemães, espanhóis e portugueses (para citar apenas alguns) utilizam essa figura nos respectivos emblemas formais com que se apresentam ao público em geral.
Por norma, a “trombeta” ou “corneta” pode ser um instrumento de cano direito ou curvado. Porventura por maior familiaridade de uso, em Portugal o postilhão aparece com a “corneta militar”, de cano mais direito, enquanto noutros locais da Europa o instrumento de eleição é a “corneta enrolada”.
Como curiosidade refere-se que a Serenata n.º 9 de Mozart chama-se “A Corneta de Postilhão”, e foi escrita para a corte de Salzburgo sendo uma das mais apreciadas pelo seu virtuosismo. Pensa-se que a ideia do nome surgiu como um sinal de adeus, lembrando a partida do próprio Mozart da sua cidade natal com destino a Viena, onde passaria o resto da sua vida.
N.d.R.: Num momento em que a iconoclastia, principalmente (mas não só…) com a destruição de estátuas, alastra no mundo ocidental, partilhamos com os nossos leitores a tristeza que sentimos há umas semanas quando a empresa que hoje gere os Correios de Portugal decidiu reformular o logótipo dos CTT, retirando o homem a cavalo, empunhando uma corneta – instrumento musical da mesma “família” do clarim –, uma imagem de marca que a maioria de nós se habituou a ver desde tenra idade.
É verdade que a empresa gestora dos CTT – talvez já aguardando uma reacção negativa por parte dos portugueses – de imediato ressalvou que o logótipo tradicional se irá manter a nível institucional, mas o que se irá passar a ver nos postos dos correios é o novo logótipo, no qual apenas constam as letras CTT. Isto é, para a próxima geração será apenas mais uma sigla, como tantas outras hoje existentes.
Serviços de Filatelia dos CTT
FERNANDO MOURA
In Clube do Colecionador