Professor Javier Cuervo dá receita para o impacto económico da China em Macau

Integração a par da diversificação

Apesar da crise bolsita na China, Javier Cuervo está confiante num bom desempenho económico do gigante asiático. Ao invés dos Estados Unidos, os países que mais sofrem com a instabilidade são o Brasil, a Rússia, a Austrália e a Alemanha. Quanto a Macau, o professor-assistente de Gestão de Empresas na UMAC salienta que há o duplo desafio das operadoras de Jogo não dependerem de quem chega do outro lado das Portas do Cerco e de captarem turistas do Sul e do Sudeste Asiático. Sobre o Governo da RAEM, tem de criar condições e incentivos para fazer face à nova realidade, sendo «a diversificação» económica «e a integração» no continente chinês «duas respostas para a queda de receitas».

O CLARIMO mundo ocidental e os países asiáticos estão em alerta máximo por causa da crise do mercado bolsita na China. Há razão para as economias mais poderosas estarem preocupadas?

JAVIER CUERVO – Havendo volatilidade, há incerteza. E onde há incerteza há adiamento de decisões que são tomadas por homens de negócios, investidores e multinacionais estrangeiras, sem esquecer os empresários do continente chinês. Não tomam decisões e preferem que o mercado estabilize, pois não conseguem medir o risco das suas decisões. É algo significativo ao nível do emprego e dos investimentos.

CLQue previsão para a economia chinesa?

J.C. – A previsão do PIB para o corrente ano está num bom nível, a rondar o crescimento de 7%. Trata-se de um bom desempenho se compararmos com outras economias mundiais. O mais importante são as estatísticas das exportações chinesas, que decaíram. Os países mais afectados são os que mais dependem do crescimento económico da China, tais como o Brasil (exporta soja e outros bens alimentares), a Rússia (petróleo), a Austrália (minerais) e a Alemanha (equipamento especializado, sendo o país da União Europeia que mais investe na China).

CLE os Estados Unidos?

J.C. – A economia americana é mais resiliente no sentido de estar mais diversificada e interligada com outros países à volta do mundo. Além disso, tem um grande apoio do sector empresarial no próprio país. Já algumas nações do Sudeste Asiático estão mais ligadas ao comércio e ao investimento com a RPC. Não tem sido, por exemplo, o caso das Filipinas, que é muito dependente de dois sectores não muito relacionados com a China: os “call centers” e as remessas dos filipinos no estrangeiro.

CLQue diferenças entre esta crise e a que resultou com a falência da instituição financeira norte-americana Lehman Brothers, em 2008?

J.C. – A crise na China é mais um problema interno que se deve ao facto das exportações liderarem o crescimento económico. O “crash” bolsita norte-americano de 2008 esteve relacionado com o que considero ter sido a atribuição de créditos excessivos e de empréstimos imprudentes. Também havia a falta de regulação de alguns produtos financeiros de alto risco. Nos Estados Unidos há o espírito empresarial e uma economia de mercado. Ambas ajudam sempre à recuperação económica quando o País está em crise, sendo esta uma forte característica dos Estados Unidos. Na China, a retoma económica tem um forte pendor governamental. Julgo que o Poder Central terá agora, mais do que nunca, que investir nos sectores dos transportes e tecnologia, entre outros.

CLO decréscimo de receitas brutas nos casinos de Macau é benéfica para a economia local?

J.C. – Antes desta queda de receitas havia o problema da capacidade de Macau em acolher tantas pessoas, dos preços excessivamente altos no mercado imobiliário, da falta de infra-estruturas para servir tantos turistas, etc. Face à actual situação a economia de Macau é forçada a diversificar-se e integrar-se cada vez mais na China. São disso exemplo os projectos na Ilha da Montanha, entre outros lugares do continente chinês. Haverá cada vez mais empresários de Macau que terão necessidade de investir e fazer negócios noutras partes da China. A diversificação e a integração são duas respostas importantes para a queda de receitas. A situação deverá melhorar para as PME, em termos do mercado laboral. Espero que as rendas baixem porque nada justifica que os preços continuem altos. É algo crucial para as PME.

CLQuais os desafios?

J.C. – Para quem opera na indústria do Jogo tem definitivamente pela frente o grande desafio de atrair potenciais clientes fora do mercado VIP. Não é ainda um problema, mas é certamente um desafio à gestão das operadoras, que não devem estar muito dependentes dos turistas do continente chinês porque há que encontrar formas de atrair cidadãos de outros países do Sul e do Sudeste Asiático.

CLA diversificação não foi ainda materializada na sua plenitude pelo Governo de Macau. Nem tudo pode depender do sector privado…

J.C. – O Governo pode criar condições e incentivos. Julgo que agora se está a esforçar ainda mais porque a situação criou oportunidades para as pessoas serem criativas. Estou esperançado que Macau encontre soluções para a diversificação e seja solidária com os que mais sofrem com a crise.

PEDRO DANIEL OLIVEIRA

pedrodanielhk@hotmail.com

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