PADRE KALI PIETRE LLAMADO

PADRE KALI PIETRE LLAMADO, VICE-REITOR DA CATEDRAL DE MANILA

«Os filipinos estão sacramentalizados, mas não estão evangelizados»

A pandemia de Covid-19 tem vindo a ganhar terreno nas Filipinas, mas as circunstâncias não roubaram entusiasmo a milhões de católicos do País, que assinalaram no final de Março os 500 anos da primeira missa celebrada no arquipélago. Cinco séculos depois, de terreno propício à evangelização, as Filipinas tornaram-se um berço de evangelizadores. Dali saem missionários para toda a Ásia, e Macau não é excepção. O padre Kali Pietre Llamado, vice-reitor da Catedral de Manila, em entrevista a’O CLARIM.

O CLARIM– Milhares de pessoas assinalaram, a 31 de Março, os 500 anos da primeira eucaristia celebrada em território filipino. Como é que os católicos do arquipélago estão a comemorar esta efeméride e este importante legado?

PADRE KALI LLAMADO– Os católicos filipinos estão a celebrar com uma ênfase bastante particular os acontecimentos de 1521. Primeiro, a 16 de Março, a chegada de Magalhães e da sua tripulação e o seu primeiro encontro com os filipinos na ilha de Homonhon, na região de Samar Oriental. De acordo com os relatos existentes, foram recebidos com grande hospitalidade pelos nossos antepassados, o que demonstra uma postura de grande humanidade no trato com os estrangeiros. A 31 de Março, a primeira missa pascal foi celebrada na ilha de Limasawa, na região de Leyte do Sul. E a 14 de Abril, cerca de oitocentos filipinos foram baptizados em Cebu, naqueles que foram os primeiro baptismos realizados nas Filipinas. A imagem do Santo Niño foi oferecido à rainha de Cebu. Essa imagem permanece até aos dias de hoje na basílica menor do Santo Niño de Cebu. Os católicos filipinos estão a comemorar estes acontecimentos com um sentido de gratidão, dão graças ao Senhor pelo dom da fé que aqui chegou há cinco séculos. Olhamos para trás, para a nossa história, e estamos agradecidos aos muitos missionários que trabalharam arduamente para semear a fé na nossa terra, mas também olhamos com gratidão para a missão que foi agora confiada aos filipinos, de espalhar a fé, em particular no continente asiático.

CL– Como é que a efeméride dos 500 anos da primeira missa foi celebrada na arquidiocese de Manila? E que outras celebrações estão previstas?

P.K.L.– Na arquidiocese de Manila começámos a promover o uso da “Cruz das Missões”, com o objectivo de reabilitar o que costumava ser uma tradição: o uso da cruz por parte dos católicos. Queremos promover o uso quotidiano da cruz, especialmente entre os mais jovens. É algo que vai ao encontro da nossa identidade como cristãos, mas mais importante é algo que simboliza a nossa missão, que nos lembra que fomos chamados a transmitir a Boa Nova a toda a gente. Apresentámos ainda o hino oficial da nossa Missão, com o título “Oferecemos-te o Nosso Sim”, composto pelo padre Carlo Magno Marcelo e interpretado por Jamie Rivera. A canção pretende ser um eco da nossa resposta perante o chamamento do Senhor. Durante este ano, os fiéis são encorajados a ir em peregrinação às igrejas que foram designadas como “Igrejas do Jubileu” e que nós denominamos de “centros de missão”. É uma forma de fazer com que as pessoas sejam parte activa do trabalho missionário da Igreja.

CL– De que forma é que a pandemia de Covid-19 prejudicou as celebrações de uma efeméride tão importante?

P.K.L.– A pandemia de Covid-19 levou a que as celebrações migrassem para a Internet e para as plataformas electrónicas. O ano de celebrações que estava previsto também sofreu alterações. O programa oficial arrancou este ano e termina em Abril de 2022, com o Congresso Nacional das Missões a realizar-se em Cebu.

CL– Os Filipinos preferem as celebrações presenciais às cerimónias virtuais. Como é que os católicos filipinos se adaptaram a esta nova realidade?

P.K.L.– As dioceses e as paróquias adaptaram-se muito rapidamente. Os responsáveis pela pastoral da Comunicação Social nas nossas comunidades foram mobilizados e trataram de actualizar de forma rápida e eficaz o trabalho que desenvolviam de modo a garantir a transmissão das celebrações. A presença da Igreja nos meios virtuais é hoje muito mais vasta e esses canais são usados para outros aspectos pastorais: para apelar à vacinação, para transmitir informações médicas, para promover palestras e conferências, para organizar campanhas de solidariedade para ajudar quem mais necessita, para oferecer conselho espiritual, para rezar pelos doentes ou até para a catequese. No entanto, as pessoas estão cada vez mais entusiasmadas com a possibilidade de se poderem voltar a reunir nas igrejas. Muitas paróquias estão a desenvolver projectos direccionados ao combate contra o Covid-19. Algumas igrejas e algumas escolas católicas transformaram-se em centros de quarentena, em centros de vacinação, ofereceram alojamento temporário a funcionários do sector da saúde e estão muito activas a fazer chegar ajuda e alimentos aos que foram mais afectados por esta crise sanitária.

CL– As celebrações dos 500 anos do início da evangelização das Filipinas estão subordinadas ao princípio “Missio ad Gentes”. Cinco séculos depois, ainda há espaço para a evangelização nas Filipinas?

P.K.L.– Sim, ainda há espaço para a evangelização. Como o Segundo Conselho Plenário das Filipinas bem concluiu: “os filipinos estão sacramentalizados, mas não estão evangelizados”. O objectivo de quem evangeliza é o de, mais do que promover o cumprimento dos ritos externos, garantir que a fé seja interiorizada, seja praticada no dia-a-dia e se manifeste perante preocupações de natureza pessoal.

CL– O Catolicismo ainda tem margem para crescer nas Filipinas?

P.K.L.– O Catolicismo está firmemente enraizado nas Filipinas. Está a crescer na medida em que estamos a conseguir mobilizar os jovens, temos uma presença forte nas redes sociais e estamos a concretizar o nosso sonho de nos tornarmos verdadeiramente uma “igreja ao serviço dos mais pobres”.

CL– Quinhentos anos depois da primeira Missa ter sido celebrada em Limasawa, quais diria que são os principais desafios com que a Igreja Católica se depara nas Filipinas?

P.K.L.– O Papa Francisco fez um apelo à Igreja nas Filipinas para que continue empenhada em chegar às periferias. A Igreja nas Filipinas continua a reflectir e a agir com o propósito de se tornar uma Igreja ao serviço dos mais pobres. Recentemente, a conferência episcopal das Filipinas decidiu eliminar o chamado “sistema de arancel”, que previa tarifas fixas para a administração dos Sacramentos. A decisão visa encorajar os mais pobres e garantir que podem aceder aos Sacramentos sempre que necessitarem. A Igreja vai focar-se ainda em programas de mordomia que encorajem os fiéis a tornarem-se co-responsáveis pela vida da Igreja. O Papa Francisco também encoraja os filipinos a continuarem a viver a fé com alegria e a pregarem a Boa Nova nos muitos países onde os filipinos trabalham. Outro desafio é o de responder à chamada que é feita na encíclica Laudato Si: proteger a nossa casa comum e de transmitir aos fiéis a ideia de que cuidar do Ambiente é uma parte importante de se ser católico.

PADRE KALI PIETRE LLAMADO, VICE-REITOR DA CATEDRAL DE MANILA

«Os filipinos estão sacramentalizados, mas não estão evangelizados»

A pandemia de Covid-19 tem vindo a ganhar terreno nas Filipinas, mas as circunstâncias não roubaram entusiasmo a milhões de católicos do País, que assinalaram no final de Março os 500 anos da primeira missa celebrada no arquipélago. Cinco séculos depois, de terreno propício à evangelização, as Filipinas tornaram-se um berço de evangelizadores. Dali saem missionários para toda a Ásia, e Macau não é excepção. O padre Kali Pietre Llamado, vice-reitor da Catedral de Manila, em entrevista a’O CLARIM.

O CLARIM– Milhares de pessoas assinalaram, a 31 de Março, os 500 anos da primeira eucaristia celebrada em território filipino. Como é que os católicos do arquipélago estão a comemorar esta efeméride e este importante legado?

PADRE KALI LLAMADO– Os católicos filipinos estão a celebrar com uma ênfase bastante particular os acontecimentos de 1521. Primeiro, a 16 de Março, a chegada de Magalhães e da sua tripulação e o seu primeiro encontro com os filipinos na ilha de Homonhon, na região de Samar Oriental. De acordo com os relatos existentes, foram recebidos com grande hospitalidade pelos nossos antepassados, o que demonstra uma postura de grande humanidade no trato com os estrangeiros. A 31 de Março, a primeira missa pascal foi celebrada na ilha de Limasawa, na região de Leyte do Sul. E a 14 de Abril, cerca de oitocentos filipinos foram baptizados em Cebu, naqueles que foram os primeiro baptismos realizados nas Filipinas. A imagem do Santo Niño foi oferecido à rainha de Cebu. Essa imagem permanece até aos dias de hoje na basílica menor do Santo Niño de Cebu. Os católicos filipinos estão a comemorar estes acontecimentos com um sentido de gratidão, dão graças ao Senhor pelo dom da fé que aqui chegou há cinco séculos. Olhamos para trás, para a nossa história, e estamos agradecidos aos muitos missionários que trabalharam arduamente para semear a fé na nossa terra, mas também olhamos com gratidão para a missão que foi agora confiada aos filipinos, de espalhar a fé, em particular no continente asiático.

CL– Como é que a efeméride dos 500 anos da primeira missa foi celebrada na arquidiocese de Manila? E que outras celebrações estão previstas?

P.K.L.– Na arquidiocese de Manila começámos a promover o uso da “Cruz das Missões”, com o objectivo de reabilitar o que costumava ser uma tradição: o uso da cruz por parte dos católicos. Queremos promover o uso quotidiano da cruz, especialmente entre os mais jovens. É algo que vai ao encontro da nossa identidade como cristãos, mas mais importante é algo que simboliza a nossa missão, que nos lembra que fomos chamados a transmitir a Boa Nova a toda a gente. Apresentámos ainda o hino oficial da nossa Missão, com o título “Oferecemos-te o Nosso Sim”, composto pelo padre Carlo Magno Marcelo e interpretado por Jamie Rivera. A canção pretende ser um eco da nossa resposta perante o chamamento do Senhor. Durante este ano, os fiéis são encorajados a ir em peregrinação às igrejas que foram designadas como “Igrejas do Jubileu” e que nós denominamos de “centros de missão”. É uma forma de fazer com que as pessoas sejam parte activa do trabalho missionário da Igreja.

CL– De que forma é que a pandemia de Covid-19 prejudicou as celebrações de uma efeméride tão importante?

P.K.L.– A pandemia de Covid-19 levou a que as celebrações migrassem para a Internet e para as plataformas electrónicas. O ano de celebrações que estava previsto também sofreu alterações. O programa oficial arrancou este ano e termina em Abril de 2022, com o Congresso Nacional das Missões a realizar-se em Cebu.

CL– Os Filipinos preferem as celebrações presenciais às cerimónias virtuais. Como é que os católicos filipinos se adaptaram a esta nova realidade?

P.K.L.– As dioceses e as paróquias adaptaram-se muito rapidamente. Os responsáveis pela pastoral da Comunicação Social nas nossas comunidades foram mobilizados e trataram de actualizar de forma rápida e eficaz o trabalho que desenvolviam de modo a garantir a transmissão das celebrações. A presença da Igreja nos meios virtuais é hoje muito mais vasta e esses canais são usados para outros aspectos pastorais: para apelar à vacinação, para transmitir informações médicas, para promover palestras e conferências, para organizar campanhas de solidariedade para ajudar quem mais necessita, para oferecer conselho espiritual, para rezar pelos doentes ou até para a catequese. No entanto, as pessoas estão cada vez mais entusiasmadas com a possibilidade de se poderem voltar a reunir nas igrejas. Muitas paróquias estão a desenvolver projectos direccionados ao combate contra o Covid-19. Algumas igrejas e algumas escolas católicas transformaram-se em centros de quarentena, em centros de vacinação, ofereceram alojamento temporário a funcionários do sector da saúde e estão muito activas a fazer chegar ajuda e alimentos aos que foram mais afectados por esta crise sanitária.

CL– As celebrações dos 500 anos do início da evangelização das Filipinas estão subordinadas ao princípio “Missio ad Gentes”. Cinco séculos depois, ainda há espaço para a evangelização nas Filipinas?

P.K.L.– Sim, ainda há espaço para a evangelização. Como o Segundo Conselho Plenário das Filipinas bem concluiu: “os filipinos estão sacramentalizados, mas não estão evangelizados”. O objectivo de quem evangeliza é o de, mais do que promover o cumprimento dos ritos externos, garantir que a fé seja interiorizada, seja praticada no dia-a-dia e se manifeste perante preocupações de natureza pessoal.

CL– O Catolicismo ainda tem margem para crescer nas Filipinas?

P.K.L.– O Catolicismo está firmemente enraizado nas Filipinas. Está a crescer na medida em que estamos a conseguir mobilizar os jovens, temos uma presença forte nas redes sociais e estamos a concretizar o nosso sonho de nos tornarmos verdadeiramente uma “igreja ao serviço dos mais pobres”.

CL– Quinhentos anos depois da primeira Missa ter sido celebrada em Limasawa, quais diria que são os principais desafios com que a Igreja Católica se depara nas Filipinas?

P.K.L.– O Papa Francisco fez um apelo à Igreja nas Filipinas para que continue empenhada em chegar às periferias. A Igreja nas Filipinas continua a reflectir e a agir com o propósito de se tornar uma Igreja ao serviço dos mais pobres. Recentemente, a conferência episcopal das Filipinas decidiu eliminar o chamado “sistema de arancel”, que previa tarifas fixas para a administração dos Sacramentos. A decisão visa encorajar os mais pobres e garantir que podem aceder aos Sacramentos sempre que necessitarem. A Igreja vai focar-se ainda em programas de mordomia que encorajem os fiéis a tornarem-se co-responsáveis pela vida da Igreja. O Papa Francisco também encoraja os filipinos a continuarem a viver a fé com alegria e a pregarem a Boa Nova nos muitos países onde os filipinos trabalham. Outro desafio é o de responder à chamada que é feita na encíclica Laudato Si: proteger a nossa casa comum e de transmitir aos fiéis a ideia de que cuidar do Ambiente é uma parte importante de se ser católico.

Marco Carvalho

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