PADRE FRANCIS THAI, SCJ, MISSIONÁRIO DEHONIANO

PADRE FRANCIS THAI, SCJ, MISSIONÁRIO DEHONIANO, EM ENTREVISTA A’O CLARIM

Vocações no Vietname são sinal de Igreja viva

Na semana passada tivemos a oportunidade de visitar o Vietname e as comunidades dos Sacerdotes do Sagrado Coração. Esta Congregação iniciou a sua actividade no Vietname em 2004 e conta agora com mais de cem membros, entre irmãos, diáconos e padres. O superior, padre Francis Xavier Tran Duc Thai, SCJ, levou-nos à sua terra natal: uma pequena aldeia que fica quatrocentos quilómetros a norte da cidade de Ho Chi Minh, chamada Cam Hoa, onde habitam três mil e 500 católicos, sendo que há já 38 sacerdotes nascidos nesta aldeia. O padre Thai é o 33.º! O CLARIM deslocou-se até Cam Hoa, a fim de assistir à celebração do Jubileu de Prata de 24 religiosas, sete das quais foram colegas de liceu do padre Thai. De acordo com o sacerdote, do grupo de 43 estudantes de que fez parte, treze tornaram-se religiosas e três foram ordenados padres, ou seja, quase quarenta por cento! Estas irmãs pertencem à Congregação dos “Amantes da Santa Cruz”, fundada no Vietname do Norte pelo missionário francês monsenhor Pierre Marie Lambert de la Motte, em 1970. Actualmente, são mais de seiscentas irmãs, distribuídas por mais de sessenta comunidades, só no Vietname. Ao chegarmos à igreja paroquial, ficámos surpreendidos por vermos tantas jovens irmãs, padres e leigos, num ambiente cheio de alegria e fé. Mais de cem sacerdotes concelebraram com o bispo local. Neste contexto, entrevistámos o padre Francis Thai.

O CLARIM – Por que consideram que uma pequena aldeia como a vossa pode oferecer tantas vocações à Igreja?

PADRE FRANCIS THAI – Há uma promoção de novas vocações bem organizada na nossa diocese, que é levada a cabo pelos catequistas da nossa paróquia. As irmãs também servem na Paróquia e encorajam os paroquianos a apoiar as jovens vocações. Os seminaristas, padres e irmãs da nossa paróquia, quando regressam a casa, realizam algumas actividades com os adolescentes. Estes são encorajados a participar na liturgia, na qualidade de acólitos, sejam rapazes ou raparigas. Até vestem uma “t-shirt” que os identifica como candidatos à vida consagrada ou ao Sacerdócio. Também os pais destes adolescentes ficam muito orgulhosos se os seus filhos decidem seguir o chamamento do Senhor, pelo que os apoiam em todas as actividades vocacionais, como seminários, passeios, acampamentos, celebrações litúrgicas, etc.

CL – Pode dizer-nos alguma coisa sobre o seu chamamento ao Sacerdócio e à vida religiosa?

P.F.T. – Era muito jovem, tinha cerca de doze anos, quando me senti cativado tanto pelos seminaristas como pelas jovens irmãs que nos levavam a participar em actividades interessantes. O nosso pároco encorajava-nos a todos, rapazes e raparigas, a participar na Santa Missa como acólitos. Não lhe importava quantos éramos; todos éramos bem-vindos! Foi em 2002 que os dois primeiros candidatos vietnamitas foram para as Filipinas com o objectivo de se iniciaram no programa de formação dos Sacerdotes do Sagrado Coração. Eu faço parte do segundo grupo de três candidatos. Agora somos todos padres. Quatro de nós lideram a nossa comunidade no Vietname. Temos actualmente 118 irmãos, diáconos e padres vietnamitas, e ministramos todas as fases de formação aqui no Vietname: Aspirantado, Postulantado, Noviciado e Escolasticado.

CL – Qual o serviço que os Sacerdotes do Sagrado Coração prestam à Igreja e ao povo do Vietname?

P.F.T. – Para além de ajudarmos em algumas paróquias, temos uma “Escola de Caridade” com 190 crianças, filhos de trabalhadores migrantes que vêm de diferentes partes do País; muitos pertencem a famílias disfuncionais e muito pobres. Contamos com professores profissionais para os ensinar, ao mesmo que os nossos irmãos religiosos ajudam ao sábado, no que respeita às aulas de Inglês e Informática. Todos os sábados à tarde, os irmãos visitam as famílias das crianças, a fim de se informarem sobre a sua situação e encorajarem os pais a continuarem a enviá-las à escola. Sem a “Escola de Caridade”, a maioria dessas crianças não seria enviada à escola. A administração da escola assegura todos os documentos oficiais necessários para que cada criança possa fazer parte do sistema educativo do Vietname. Trata-se de uma escola muito singular, pois nós, os Sacerdotes do Sagrado Coração, fomos aprovados e somos encorajados pelo Governo a realizar este serviço. Todas as nossas actividades estão em total conformidade com o sistema educativo local. Mantemos o Governo bem informado sobre tudo o que fazemos e planeamos, sendo, claro está, que a escola é reconhecida pelo Governo. Após os cinco anos de Ensino Básico, os alunos têm de fazer o exame para o Ensino Secundário, juntamente com as crianças das escolas públicas. Todos os anos, mais de oitenta por cento dos nossos alunos, e nalguns anos até cem por cento dos alunos, passam no exame de admissão ao Ensino Secundário. É por isso que o Governo está mais do que satisfeito com o nosso trabalho. Apesar de os nossos alunos serem pobres, orgulhamo-nos deles, pois, no final, conseguem atingir um excelente nível de educação e conhecimento.

CL – Sois também uma comunidade missionária…

P.F.T. – Sim, hoje enviamos irmãos e padres para todo o mundo: temos dois irmãos em Espanha, dois na Venezuela, dois em Hong Kong, quinze nas Filipinas, dois no Brasil, três no Equador, três em Roma [Itália], três nos Estados Unidos, e em breve enviaremos um para a Finlândia.

CL – Qual a razão pela qual estão a crescer tão rapidamente no Vietname?

P.F.T. – Os primeiros missionários dehonianos chegaram aqui em 2004. Como os nossos primeiros membros foram formados nas Filipinas, onde a Congregação tinha uma comunidade internacional, pudemos abrir as nossas mentes a diferentes culturas e conseguimos adaptar-nos a uma sociedade em mudança. As Congregações locais no Vietname tendem a ser rígidas e fechadas a influências externas, o que as torna menos atraentes para os jovens vietnamitas. O nosso espírito missionário leva-nos a ir ao encontro das pessoas para o diálogo e a cooperação mútuas. Aprendemos muito com as pessoas simples, mesmo com as que não são católicas. Onde quer que vamos, mantemos boas relações com os nossos vizinhos e com as autoridades. Cultivamos a amizade e a harmonia. Os nossos irmãos são enviados para diferentes escolas de Teologia, dirigidas por diferentes Ordens, como a Jesuíta ou a Dominicana. As vocações estão agora a diminuir lentamente no Vietname, porque as famílias têm menos filhos e têm um melhor nível de vida. Mesmo assim, continuamos com a nossa promoção vocacional, com muitos jovens a candidatarem-se à nossa Congregação. Tratamos os nossos irmãos como a nossa própria família e encorajamo-los a viver como irmãos, preocupados uns com os outros. A amizade, o respeito mútuo e a partilha do que somos e temos são os nossos valores. Enviamos os nossos irmãos para missões no interior do País, mas sempre em grupos – eles precisam de rezar e trabalhar juntos. Esta ligação comunitária é a marca especial da nossa espiritualidade. A nossa missão vem de Deus, como membros da sua Igreja, não é um assunto pessoal. Durante o Covid-19, partilhámos a nossa comida com os nossos vizinhos, católicos e não católicos. Os responsáveis locais apreciam a nossa atitude. Esta fraternidade e o modo alegre como vivemos a nossa vocação, é a melhor forma de promover novas vocações!

Pe. Eduardo Emilio Agüero, SCJ no Vietname

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