«Há que recuperar os laços nas relações familiares».
Natural da Polónia, onde conheceu Karol Wojtyla (Papa João Paulo II), o padre Andrzej Blazkiewicz está em Macau para servir a missão do Caminho Neocatecumenal. Responsável pelo aconselhamento familiar, sustenta a’O CLARIM que o sucesso de um casal reside essencialmente na disponibilidade em ouvir o outro. E há também que dar atenção aos filhos, ou seja, às novas gerações.
O CLARIM – Veio para Macau com o propósito de servir a missão do Caminho Neocatecumenal. Pode explicar como tudo aconteceu?PE. ANDRZEJ BLAZKIEWICZ – Sou padre diocesano de Cracóvia, na Polónia, mas tenho permissão do meu bispo para durante cinco anos acompanhar as famílias do Caminho Neocatecumenal em Macau. Em 2011 soube que estavam a precisar de padres. Ofereci-me para vir, até porque falo Português. Cheguei no ano passado, a 24 de Junho.
CL – Karol Wojtyla, depois Papa João Paulo II, desenvolveu um importante trabalho pastoral em Cracóvia…
P.A.B. – Quando o Papa Francisco canonizou João Paulo II, disse: «é um Papa da família». Para mim, como fui por ele [Karol Wojtyla] recebido no Seminário de Cracóvia, pois era o bispo da minha diocese em 1975, foi certamente uma pessoa que tinha o dom de escutar. Era alguém que sabia escutar, algo que se tornou tão evidente e tão visível. Essa foi uma das razões que me motivou a fazer este trabalho em Macau. E também ao ler a versão brasileira da obra “Homem e mulher o criou: catequeses sobre o amor humano”, de 2005. Trata-se de uma compilação das audiências das quartas-feiras, dadas por João Paulo II nos primeiros anos do seu pontificado, que abordam a realidade do Homem, do ser humano como ele é, tanto na condição pessoal, como teológica, moral, social… em tudo!
CL – Onde aprendeu a falar Português?
P.A.B. – Aprendi no Brasil, onde fui missionário durante 22 anos – seis no Rio de Janeiro e dezasseis em Salvador da Bahia.
CL – Como é o povo brasileiro em termos religiosos?
P.A.B. – A maior parte é católica e tem uma participação massiva. Quando cheguei ao Brasil os missionários estrangeiros estavam em maioria, sucedendo o mesmo no tempo em que fui para a Bahia. A situação mudou sensivelmente em 2000. Actualmente há bastantes padres brasileiros.
CL – E como caracteriza a comunidade portuguesa de Macau?
P.A.B. – A população do território é maioritariamente de etnia chinesa. A comunidade portuguesa tem uma participação marcante, mas não tão forte como esperava. Também ouvi dizer que há quem esteja a regressar a Portugal. Por outro lado, encontro ainda pouco brasileiros, seja a viver ou a trabalhar aqui. Quanto aos restantes países da lusofonia, encontro mais de Timor-Leste.
CL – A sua missão é promover a família, o matrimónio e a vida das pessoas…
P.A.B. – No pouco tempo em que aqui estou, e pela experiência que obtive no Brasil, percebi que quando normalmente as pessoas têm alguma necessidade muito pessoal procuram mais as confissões, mas não é no espaço do confessionário que temos a oportunidade de ajudá-las, seja por causa de um pecado ou de alguma coisa má que as atinge. Por isso surgiu isto, na comunidade que sirvo e também de acordo com o bispo [D. Stephen Lee], de abrir um local de atendimento fora do confessionário.
CL – Onde se localiza?
P.A.B. – É no cartório, em frente à Sé Catedral, no Largo da Sé. Está aberto às segundas, terças e sextas-feiras, a partir das 18 horas e 45 minutos. Celebro a missa das 18 horas, em Português, de segunda a sexta-feira, na Sé Catedral. As pessoas podem procurar-me depois da missa. Os atendimentos são feitos em Português. Vamos ver como vão progredir as consultas de modo a servirmos outras comunidades.
CL – Quais são os principais problemas das famílias em geral?
P.A.B. – Na experiência individual, e também no relacionamento, é certamente o de não se ser escutado… Alguém tenha tempo para escutar! É preciso haver diálogo entre o homem e a mulher, principalmente porque um deles chega a casa com problemas, com questões ou perguntas. É preciso dar-lhe atenção. Não é apenas a falta de diálogo. É também preciso escutar a palavra de Deus, não como pregação.
CL – Há casais em Macau que não são cristãos. Qual é a receita?
P.A.B. – Jesus Cristo, como palavra encarnada, fala como homem não apenas para os crentes. Ele fala pela sua humanidade para cada pessoa.
CL – Haverá mais problemas aos quais os casais devem ter em atenção?
P.A.B. – Num casal também pode entrar a questão dos filhos. Neste caso, já se forma uma comunidade de gerações. Não são apenas os adultos. Há que recuperar, restaurar, os laços nas relações.
CL – Será que os valores antigos das famílias estão a perder-se nos tempos modernos?
P.A.B. – As transformações são hoje tão rápidas e a vida tão agitada que as pessoas praticamente não têm tempo para pensar. Alguém pensa por elas, alguém manda nelas. Pode-se dizer que são levadas pela avalanche dos acontecimentos, das notícias e de sucessivos problemas. A pessoa é como se fosse uma bola, que é jogada. No entanto, ela é um mistério, tem o seu valor, embora esteja inserida numa realidade muito complexa, muito complicada. Nesta realidade, Jesus Cristo escuta essa pessoa, transformando-a como um “homem” novo.
PEDRO DANIEL OLIVEIRA