NELSON ANTÓNIO, CHEFE DO GRUPO DE ESCUTEIROS LUSÓFONOS DE MACAU (GELMac)

NELSON ANTÓNIO, CHEFE DO GRUPO DE ESCUTEIROS LUSÓFONOS DE MACAU (GELMac)

«Há um conjunto de áreas de desenvolvimento a fomentar nos nossos jovens»

A zona do Carmo, na ilha da Taipa, acolhe este sábado a abertura do novo ano escutista. Agora com uma nova direcção, o GELMac – Grupo de Escuteiros Lusófonos de Macau está apostado em relançar as actividades regulares e a atrair sangue novo, não obstante as limitações com que a pandemia do Covid-19 confrontou o agrupamento. De regresso à liderança da única associação juvenil de matriz portuguesa do território, Nelson António faz do desenvolvimento integral dos jovens escuteiros a sua principal aposta.

O CLARIM– Regressa à liderança do Grupo de Escuteiros Lusófonos de Macau, um projecto que é original no contexto de Macau, território que funcionou quase como que um tubo de ensaio para o lançamento do movimento escutista em Portugal. Como é que encara este desafio?

NELSON ANTÓNIO– Sim, é verdade. Nós, de facto, somos a única associação juvenil de matriz portuguesa em Macau. Muita gente não faz ideia que o escutismo português se tenha iniciado aqui, mas foi com um dos governadores [Álvaro de Melo Machado], em 1911, se não estou em erro, que foram dados os primeiros passos em Macau. Depois de regressar a Portugal, este governador fundou a AEP – a Associação dos Escoteiros de Portugal – e só depois, mais tarde, é que o CNE, o Corpo Nacional de Escutas foi fundado. A semente, digamos, foi lançada aqui em Macau e depois criaram-se vários grupos. Esses primeiros grupos deram origem à actual Associação de Escoteiros de Macau e nós, GELMac, surgimos em 1997. Tínhamos dirigentes do CNE que estavam a trabalhar e a residir aqui em Macau. Estavam na altura a trabalhar com um grupo de crisma na Sé Catedral e acharam por bem organizar uma actividade ao ar livre; convocaram esses mesmos jovens que se estavam a preparar para o Crisma, desafiaram-nos a trazer mais amigos e quando deram conta tinham cerca de 160-180 jovens que estavam ávidos para fazer este tipo de coisas.

CL– Que tipo de apostas é que podemos esperar da nova direcção do GELMac?

N.A.– Nós temos previsto um leque muito variado de actividades, desde os habituais acampamentos, mas também actividades desportivas, a par de “workshops” e de actividades pedagógicas: queremos que os nossos jovens aprendam desde cozinha a marionetas, passando por uma série de outras coisas. São apostas que queremos fazer em várias áreas, desde o desenvolvimento do físico ao carácter intelectual e ao religioso também. Há todo um conjunto de áreas de desenvolvimento que queremos fomentar nos nossos jovens e, nesse sentido, escolhemos várias actividades, dentro das várias áreas de desenvolvimento para tentar chegar a esses objectivos. Esta diversidade, estamos convencidos, que vai ajudar a convencer os jovens a permanecer no grupo e a chamar mais jovens para o GELMac.

CL– O Grupo de Escuteiros Lusófonos de Macau é um agrupamento órfão porque não há no território nenhum outro agrupamento de matriz católica. Compensa, ainda assim, esta orfandade com uma grande conectividade internacional. Tem organizado actividades em conjunto com os escuteiros de Hong Kong e da Tailândia. Esta faceta mais internacional, que se reflecte também numa forte ligação institucional ao Corpo Nacional de Escutas português, é uma inevitabilidade?

N.A.– Sim, estamos filiados no Corpo Nacional de Escutas e, como tal, tentamos manter o contacto e sempre que possível participar em actividades importantes que o Corpo Nacional de Escutas realiza. Vamos, dentro do possível, aos acampamentos nacionais, a acampamentos regionais, e por vezes também tentamos participar noutras iniciativas que o CNE vai desenvolvendo. Procuramos que o Corpo Nacional de Escutas esteja presente também em Macau. Eles têm-se deslocado a Macau até com alguma regularidade. De dois em dois, de três em três anos, enviam uma equipa de formadores para dar formação aos adultos que cá estão e outros que, entretanto, tenham entrado e que possam estar interessados em fazer essa aprendizagem; mas devido à grande distância é claro que não podemos estar sempre lá ou eles cá. E apostamos nisso que referiu e que é a internacionalização. Procuramos parcerias com os grupos que nos estão mais próximos: a Associação de Escoteiros de Macau, claro, e depois Hong Kong, onde também vamos com muita regularidade. A Taiwan também já fomos algumas vezes, à Tailândia, à Malásia. Sempre que possível, tentamos estreitar relações com eles e fazer intercâmbio para que os nossos jovens possam, através deste intercâmbio, aprender com os outros grupos.

CL– Este ano, a pandemia do Covid-19 acabou por trocar as voltas a toda a gente e presumo que o GELMac não foi excepção. As actividades tiveram forçosamente de ser concentradas em Macau…

N.A.– Não só ser concentradas em Macau, mas também tivemos que fazer uma interrupção, como aconteceu com as escolas e outras entidades porque não podíamos estar reunidos, de acordo com as indicações dos Serviços de Saúde de Macau. Tínhamos que manter a distância, prestar grande atenção à possibilidade de eventualmente haver contágios. O que fizemos foi, a partir de uma determinada altura, cancelar todas as actividades, até que muitas das restrições pudessem ser levantadas, como acabou por acontecer em meados de Maio, inícios de Junho. Tivemos a nossa última acção em Janeiro, ainda antes do Ano Novo Chinês. Depois, a 2 ou 3 de Fevereiro foi anunciado que se tratava de uma pandemia a nível global. Depois disso, decidimos acautelarmo-nos e fizemos uma interrupção das actividades que se estendeu, portanto, até Junho. Em Junho voltámos a convocar novamente os jovens porque já estávamos em condições de nos poder reunir e poder fazer certo tipo de actividades. Durante o mês de Junho ainda conseguimos fazer algumas actividades antes do período das férias grandes. Aproveitámos o período de Verão, no qual os jovens também não tinham aulas. Nós, adultos, reunimo-nos e traçámos um plano, como disse, muito ambicioso, muito atractivo e, agora sim, vamos arrancar com as actividades já no próximo dia 10 de Outubro…

CL– O GELMac organizou entretanto uma espécie de pré-actividade, mas o novo ano escutista, na prática, arranca a partir do próximo sábado. Esta acção, que se realiza, se não estou em erro, nas Casas-Museu da Taipa consta exactamente do quê?

N.A.– Bom, pronto… Agora, para já, vamos fazer a recepção aos nossos escuteiros e também a possíveis candidatos que queiram entrar no nosso grupo. Aí – e para além das apresentações e inscrições – vamos ter também uma pequena dinâmica, nomeadamente no que toca à apresentação do jogo escutista: vamos estar com os jovens a brincar e a aprender coisas sobre o movimento escutista. No fundo, é só para nos conhecermos e darmos já uma pequena ideia aos jovens do que é isto de se ser escuteiro, através da aprendizagem e do jogo escutista. Vai ser uma actividade lúdica para já. Depois, nas próximas actividades, vamos começar a pôr em prática o plano que tínhamos estabelecido.

Marco Carvalho

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