LEONA NG UN-IENG

LEONA NG UN-IENG, PRESIDENTE DO CONSELHO GERAL DA ASSOCIAÇÃO DOS ASSISTENTES SOCIAIS DE MACAU

«Os assistentes sociais precisam de ser reconhecidos no mundo exterior»

A Associação dos Assistentes Sociais de Macau (MSWA, na sigla oficial) lançou o livro “Companheiro – O Caminho da Profissão de Assistente Social”, a 30 de Outubro. Na mesma ocasião, realizou-se a “Cerimónia de Entrega de Prémios a Assistentes Sociais de Destaque”, na qual foram premiados mais de quarenta profissionais do sector, alguns com mais de vinte anos de serviço. Estes dois momentos coincidiram com o 40.º Aniversário da Fundação da MSWA. A’O CLARIM, a Presidente do Conselho Geral, Leona Ng, concedeu uma entrevista, tendo analisado a situação actual dos assistentes sociais na RAEM e os desafios com que estes se deparam.

O CLARIM – Actualmente, quais as organizações que apoiam os assistentes sociais na RAEM? E que papel desempenha a Associação dos Assistentes Sociais de Macau?

LEONA NG – Em Macau há quatro associações relacionadas com a profissão de assistente social, nomeadamente: a Associação dos Assistentes Sociais de Macau, que estabelecemos em 1984; a Association of Professional Medical Social Work of Macao, dirigida essencialmente aos assistentes sociais que prestam serviço social médico (ou seja, assistentes sociais que actuam principalmente no Centro Hospitalar Conde de São Januário); a Macao Social Workers’ Union, que foi constituída em 2019; e, por último, a Federação dos Trabalhadores Sociais de Macau (tradução livre de 澳門社會工作者聯合會). Ao longo dos anos, desde o primeiro grupo de assistentes sociais (ainda na fase inicial da criação da MSWA), até aos sucessivos mandatos, houve professores e tutores de estudos em Serviço Social que se juntaram à MSWA. A nossa principal actividade consiste em assegurar formação profissional neste domínio. Para nós é muito importante crescermos em termos de conhecimentos; a MSWA proporciona uma plataforma para que os nossos colaboradores recebam a formação relevante. Para além da formação, esperamos também que várias unidades profissionais se possam representar e participar em comissões no seio do Governo, a fim de expressar alguns requisitos e enquadramentos profissionais, em nome da profissão. Actualmente, cerca de uma vez por mês, realizam-se diferentes cursos de formação profissional.

CL – Por que razão foi realizada uma cerimónia especial de entrega de prémios? Houve cerimónias semelhantes no passado?

L.N. – Em 2011 e 2016 organizámos entregas de prémios para os assistentes sociais que mais se destacaram – todos eles, assistentes sociais seniores. Todos os assistentes sociais têm uma característica: estão dispostos a fazer o que é intrínseco à sua actividade, mas nunca querem dar muito nas vistas, pois consideram que estão apenas a cumprir o seu dever. Por conseguinte, quando há a intenção de realizar cerimónias de louvor e de entrega de prémios, recusamos sempre. Isto explica a razão deste tipo de cerimónias não ter lugar com alguma regularidade. No entanto, após a pandemia, e tratando-se este ano da dupla comemoração dos aniversários da Implantação da República Popular da China e da constituição da RAEM, bem como do quadragésimo aniversário da MSWA, pensámos que seria uma boa altura para organizar uma espécie de cerimónia de condecoração. Foi muito agradável prepará-la. Muitos profissionais do sector da acção social e das organizações a ele afectas, nomearam os seus colegas assistentes sociais, a quem foram atribuídos os Prémios “Mérito”, “Profissional”, “Destaque” e “Honorário”. Assim, testemunhámos e reconhecemos o papel dos assistentes sociais na sociedade. Os assistentes sociais precisam de ser reconhecidos no mundo exterior, as suas histórias precisam de ser faladas, ouvidas e conhecidas pelas outras pessoas da sociedade.

CL – É também professora na Universidade de São José, onde lecciona Serviço Social. Na sua opinião, que qualidade e características devem ter hoje os assistentes sociais em Macau?

L.N. – Muitos assistentes sociais em Macau são realmente dedicados e empenhados. Daí que tenhamos convidado alguns estudantes do primeiro ano [da licenciatura] para se juntarem nós e aprenderem com o exemplo dos mais velhos. Trocaram-se experiências e opiniões por videoconferência, tendo a sessão também servido para partilhar testemunhos, muitos deles de antigos assistentes sociais de Macau. Muitas pessoas comentam que hoje em dia os jovens não são leais e não se empenham no trabalho. Precisamos, pois, de promover todos os bons exemplos, para que os jovens sintam a paixão com que trabalham os colegas do sector. Digo sempre aos meus alunos para não pensarem que por terem um “bom coração” isso fará deles assistentes sociais. Ser-se preocupado com os outros, é imprescindível! Depois, é preciso ter os alicerces, ou seja, bons conhecimentos profissionais. Sem bons conhecimentos profissionais, que reforcem os alicerces, o edifício desmorona, cai por terra. Construída uma base sólida, podemos então ajustar a nossa atitude, o nosso espírito e as nossas crenças, e assim consolidarmos o nosso amor e a nossa paixão. Então saberemos como nos desenvolvermos melhor.

CLNa sua opinião, qual o maior desafio que a profissão de assistente social enfrenta actualmente em Macau?

L.N. – Sem dúvida, o maior desafio é o estado da saúde mental. Se está totalmente relacionado com a pandemia ou não, temos de avançar com um estudo de modo a obter dados científicos antes de podermos fazer um juízo a esse respeito. No entanto, com base na minha observação, pessoalmente penso que de entre os casos que temos vindo a tratar nos últimos anos, o rápido desenvolvimento do fenómeno da globalização e a influência da Internet na nossa sociedade tornaram impossível conseguirmos analisar e compreender tanta informação vinculada por um sem número de meios e plataformas. A isto acresce todo um conjunto de problemas, que é fruto das sociedades modernas. A complexidade dos casos aumentou, em comparação com o passado. As condições emocionais e de “stress” dos nossos utentes são hoje muito diferentes. À medida que a sociedade vai prestando mais atenção à saúde mental, também os casos de perturbação emocional vão aumentando. Significa que os trabalhadores da linha da frente sentem hoje uma grande pressão, ainda para mais quando têm de desempenhar diferentes funções administrativas. Resultado: quando um assistente social se vê confrontado com tantas situações negativas, o seu colega de trabalho mais próximo deve, primeiro, continuar a prestar atenção a si mesmo, para depois ajudar no que mais for preciso.

CL – Há alguns dias, ocorreu uma tragédia em Macau. A assistente social responsável pelo caso sentiu-se mal em termos emocionais e teve de ser assistida no próprio local. Todo este incidente suscitou preocupação e discussão na sociedade. Que tipo de apoio e sugestões pode a MSWA prestar nestas situações?

L.N. – Nos últimos anos, para além de organizar sessões de formação, a MSWA também aumentou o número de “workshops” sobre cuidados a nível pessoal. Esperamos que seja dada especial atenção ao auto-cuidado e ao auto-equilíbrio dos assistentes sociais de Macau. Todos os dias somos invadidos com “lixo”; há necessidade de o limpar de vez em quando. Ora, o mesmo se aplica aos assistentes sociais. A MSWA tem partilhado muita informação acerca do auto-cuidado, esperando ser para os seus associados um espaço e uma plataforma para esse efeito. Efectivamente, queremos que dêem prioridade ao auto-cuidado, que cuidem bem de si próprios, a fim de serem melhores colegas e bem servirem as pessoas mais necessitadas.

Jasmin Yiu

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