Irmã Beatrice Leung, Professora e Investigadora da Universidade Ursulina Wenzao de Línguas de Taiwan

Liberdade religiosa difere da China para o Ocidente.

Estudiosa das relações do Vaticano com a República Popular da China e com Taiwan, a irmã Beatrice Leung desacredita as notícias distorcidas da Imprensa secular sobre a nomeação de bispos no continente chinês. A’O CLARIM, a professora e investigadora da Universidade Ursulina Wenzao de Línguas aconselha a Santa Sé a ter em atenção os prós e contras dentro da Igreja sobre a política chinesa antes de chegar a acordo com Pequim, dado que a equipa de negociação da Santa Sé não está preparada para entender a correcta mensagem do homólogo chinês. O Natal em Taiwan foi outro tema de conversa.

O CLARIMPode descrever a natureza da sua missão em Taiwan?

IRMÃ BEATRICE LEUNG – Vim para Taiwan porque queira concluir a minha investigação sobre as relações Igreja-Estado na região da Grande China. Nos últimos trinta anos, não apenas eu, mas também alguns académicos católicos, realizámos alguma investigação nas relações católicas com os Governos de Hong Kong, de Macau e da China Continental, mas nada sobre Taiwan.

CLComo caracteriza as relações de Taiwan com o Vaticano?

I.B.L. – As relações Taiwan-Vaticano têm estado na sombra das relações Sino-Vaticano. É interessante ter a panorâmica completa destas relações triangulares. Também a Igreja Católica de Taiwan merece um olhar mais atento após a Revolução de 1949, com o despejar de dois milhões de habitantes da China continental em Taiwan, incluindo mil padres e irmãs que se tornaram nos maiores recursos humanos de desenvolvimento da Igreja Católica em Taiwan. É muito interessante desenterrar os tesouros da Igreja de Taiwan e a sua contribuição para os católicos chineses à volta do mundo com a sua teologia indígena e a tradução dos texto litúrgicos de Latim na renovação litúrgica após o Vat II [Concílio do Vaticano II].

CLDe que forma os católicos taiwaneses celebram Natal?

I.B.L. – Em Taiwan apenas 1 por cento da população é católica. Todavia, as instituições católicas, tais como hospitais, escolas e três universidades, têm a sua influências. O Governo não concede feriado no dia de Natal. No entanto, as celebrações podem ser vistas nas zonas comerciais e nas igrejas com jovens para o almoço de Natal.

CLHá a tradição do Pai Natal, do Presépio e da troca de presentes?

I.B.L. – Os presépios existem nas instituições geridas pelas Igrejas Protestante e Católica. No início do Advento há a celebração da Cerimónia da Iluminação. Por baixo de uma árvore de Natal, com quase sete metros de altura, que é posta num local importante do recreio, os estudantes e funcionários reúnem-se para as cerimónias religiosas (pequenos documentários inspirativos de vídeo, leitura das Escrituras, iluminação das velas e troca de experiências) para os preparar espiritualmente e fisicamente para a vinda de Cristo, ao intensificarem os seus trabalhos de caridade através dos mais pequenos e dos debilitados. É algo que não encontro nas escolas ou nas universidades de Hong Kong e de Macau. Nas universidades cristãs e católicas de Taiwan há esta emocionante Cerimónia da Iluminação.

CLQue percepção tem quanto à forma como os católicos celebram a quadra natalícia na China Continental?

I.B.L. – A China mudou rapidamente e a Igreja Católica também está a passar por grandes mudanças e progressos. Não posso dizer nada sobre isso, até porque há muitos anos que não passo o Natal na China.

CLÉ especialista em Teologia, Ciência Política e Relações Igreja-Estado. Qual o ponto da situação entre a Santa Sé e a República Popular da China?

I.B.L. – Tenho acompanhado de perto o desenvolvimento das relações Sino-Vaticano. Recentemente, houve notícias seculares abordando um acordo preliminar para a questão dos bispos chineses, o que é algo realmente bastante crucial e complicado. Até ao anúncio oficial do Vaticano e do Governo de Pequim sobre o acordo dos bispos chineses e os métodos de selecção de futuros bispos, declino comentar quaisquer “notícias distorcidas” de Órgãos de Comunicação seculares, que nos poderão dar informação tendenciosa.

CLNão tece comentários, portanto…

I.B.L. – Contudo, tenho alguns comentários a fazer sobre a selecção da equipa de negociação do Vaticano, que não inclui qualquer representante chinês. Acredito que a política chinesa é difícil de compreender quando funciona numa caixa preta. Os meus amigos formados em escolas pró-comunistas a trabalhar há muito tempo em Hong Kong no comentário político consideram a política chinesa como um livro demasiado pesado sem palavras. Penso que os europeus da equipa de negociação têm dificuldades em entender a correcta mensagem da China quando têm que depender de tradução para ler os documentos chineses.

CLPode apontar um exemplo?

I.B.L. – Pegando na “liberdade religiosa” como exemplo: os comunistas e o Ocidente democrático têm diferentes conceitos e interpretações sobre este simples termo. Escrevi um artigo na “China Quarterly” para diferenciá-los.

CLO que pode ser feito?

I.B.L. – O Vaticano deve considerar os prós e contras de ideias dentro dos círculos da Igreja sobre a política chinesa. Se a autoridade eclesiástica da Igreja em Roma se inclinar apenas para o lado pró-China e conceder demasiado, o futuro acordo não vai poder cuidar dos interesses dos sectores clandestinos da Igreja e sancionados pelo Governo, o que irá criar mais problemas do que resolvê-los.

PEDRO DANIEL OLIVEIRA

pedrodanielhk@hotmail.com

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