Natividade de Jesus segundo a visão da Beata Anna Catharina Emmerich (1774-1824)

«Vi o nosso Salvador resplandecente…».

Maria suspensa no ar em êxtase, com os braços cruzados sobre o peito, contemplava o Menino. O Filho do Homem, concebido pelo Espírito Santo, no ventre da Imaculada Virgem Maria, pela sua divina concepção – gerado, não criado – não poderia nascer como o comum dos mortais. O Senhor quis dar a Maria – Sua primeira morada, o primeiro “sacrário” – a perpétua virgindade, conservando-lhe a sua santidade e pureza, para toda a eternidade. Nossa Senhora teve um parto pelas “mãos” do Altíssimo, onde o céu desceu ao estábulo, e naquele humildade lugar resplandeceu a gloria de Deus, e os anjos em forma humana, representantes celestes, adoravam o menino, que nascia envolto em luz divina.

José acendeu uma luz, entrou na caverna e retirou algumas coisas de lá, a fim de arranjar um lugar de descanso para Maria. Depois levou-a para dentro e ela sentou-se no leito feito de mantas de viagem. José pediu-lhe humildemente desculpa pela pobre hospedagem, mas Maria, cheia de piedosa esperança e amor, estava feliz.

José foi à cidade buscar água num odre, algumas frutas, feixes de lenha miúda para acender o fogo e preparar uma refeição. Depois de ter comido e feito as suas orações, Maria deitou-se no seu leito. José pernoitou à entrada da gruta.

No dia seguinte, sábado, Maria rezou, meditando com grande devoção. De tarde, José levou-a, através do vale, a visitar a gruta que servira de sepulcro a Marabá, ama de Abraão. E no final do dia regressaram à gruta onde tinham pernoitado. Maria disse a José que à meia-noite desse dia, chegaria a hora do nascimento de seu Filho, pois já tinham passado nove meses desde a anunciação pelo Anjo. José ofereceu-se para chamar algumas mulheres piedosas de Belém para assisti-la, mas Maria recusou.

O Rei da eternidade quis nascer homem num lugar onde os animais se abrigavam. Para primeiro berço escolheu uma miserável manjedoura, na qual o gado costumava comer. Assim não lhe faltou nada da pobreza humana, mas uniu-se-lhe o esplendor da majestade divina. A piedosa vidente continua: “Quando Maria disse ao esposo que o tempo estava próximo e que a deixasse e fosse orar, José saiu, recolhendo-se ao leito, para rezar. Ao sair, voltou-se mais uma vez, para fitar a Santíssima Virgem e viu-a como rodeada de chamas; toda a gruta estava iluminada como por uma luz sobrenatural. Então entrou com santo respeito na sua cela e prostrou-se por terra, para orar.

Vi o esplendor em volta da Santíssima Virgem crescer mais e mais. Ela estava de joelhos, coberta de um vestido largo, estendido em redor, sem cinto. À meia-noite ficou extasiada e levantada acima do solo; tinha os braços cruzados sobre o peito. Não vi mais o tecto da gruta; uma estrada de luz abria-se-Ihe por cima, até o mais alto Céu, com crescente esplendor.

Maria, porém, levantada da terra em êxtase, olhava para baixo, adorando o seu Deus, cuja Mãe se tornara e que jazia deitado por terra, diante dela, qual criancinha nova e desamparada. Vi o nosso Salvador qual criancinha pequenina, resplandecente, cujo brilho excedia a toda a luz na gruta, deitado no tapete, diante dos joelhos de Maria. Parecia-me que era muito pequeno e crescia cada vez mais, diante dos meus olhos.

Depois de algum tempo vi o Menino Jesus mover-se e ouvi-o chorar. E foi nesse momento que Maria voltou a si. Tomou a criancinha e, cobrindo-a com um pano, apertou-a ao peito. Assim se sentou, envolvendo-se, com o Filhinho, no véu. Então vi em redor Anjos em forma humana, prostrados em adoração diante do Menino.

Cerca de uma hora após o nascimento, Maria chamou São José, que ainda estava a rezar. Chegando-se-Ihe perto, prostrou-se-Ihe o esposo em frente, em adoração, cheio de humildade e alegria. Só quando Maria lhe pediu que apertasse de encontro ao coração o santo dom de Deus, levantou-se, recebendo o Menino Jesus nos braços e louvando a Deus, com lágrimas de alegria.

A Santíssima Virgem envolveu então o Menino em panos e deitou-o na manjedoura, cheia de junco e ervas finas e coberta com uma manta. A manjedoura estava ao lado direito, na entrada da gruta. Os santos Pais, tendo deitado o menino no presepe, ficaram a seu lado, cantando salmos”.

Tinha chegado o tempo da consumação: O Verbo fizera-se carne – o Verbo Eterno e Divino do Pai Celestial Todo-Poderoso. Cumpria-se a profecia de Isaías: A Virgem concebera e dera à luz um filho, cujo nome é Emanuel, «Deus Connosco (Is. 7, 14)». Apareceu entre nós o Messias, prometido já no paraíso e por todos os povos tão ardentemente ansiado. Está deitado numa manjedoura, tal qual uma criança pobre e desamparada. Será reconhecido em tão humildes condições? A quem se revelará primeiro o Rei da glória? Não aos grandes e soberbos da terra! Os pastores, pobres e simples, foram os primeiros convidados por mensageiros celestiais à manjedoura, para adorar o Menino divino. Conta Catharina Emmerich: “Vi três pastores, que estavam juntos diante do rancho, admirando a maravilhosa noite; no céu vi uma nuvem luminosa, descendo até eles. Ouvi um doce canto. A princípio os pastores assustaram-se, mas de repente surgiu-lhes um Anjo, dizendo: ‘Não temais, anuncio-vos uma grande alegria, que é dada a todo o povo, pois nasceu hoje, na cidade de David, o Salvador, que é Cristo, Nosso Senhor… Eis o sinal para conhecê-Io: achareis uma criança envolta em panos e deitada num presépio’. Enquanto o Anjo falava aumentava o esplendor em redor e vi então cinco ou sete Anjos, grandes, luminosos e graciosos, diante dos pastores; seguravam nas mãos uma fita, como de papel, na qual estava escrita uma coisa, em letras do tamanho de um palmo e ouvi-os louvar a Deus e cantar: ‘Glória a Deus nas alturas e paz na terra aos homens de boa vontade’”.

Miguel Augusto 

Com livro: “Vida, Paixão e Glorificação do Cordeiro de Deus”,

de Clemens Brentano, segundo as visões de Anna Catharina Emmerich

 

NOTA: O Professor Felipe Aquino (Canção Nova) diz-nos que “o livro ‘Vida, Paixão e Glorificação do Cordeiro de Deus’, embora seja bonito, não recebeu total confirmação da Igreja, que é muito rigorosa nisto; mas também não foi proibido de ser lido. É preciso, portanto, ler com discernimento, e não como revelação divina, mas como meditação de Anna Catharina Emmerich. «Não deixa de ser edificante para a fé», é o que diz Dom Estevão Bettencourt”, conceituado teólogo e exegeta brasileiro do séc. XX.

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