EXPOSIÇÃO EXTRAORDINÁRIA DOS RESTOS MORTAIS DE SÃO FRANCISCO XAVIER EM GOA

EXPOSIÇÃO EXTRAORDINÁRIA DOS RESTOS MORTAIS DE SÃO FRANCISCO XAVIER EM GOA

Venerar o gigante da evangelização

Este ano foi quebrada a tradição. Antecipando em dois anos a data oficial de 3 de Dezembro de 2024, foram expostos no passado fim-de-semana, em Goa, os restos mortais de São Francisco Xavier. Doravante, e até 5 de Janeiro de 2023, poderão ser venerados por todos os crentes. Pretendem as autoridades eclesiásticas locais – no rescaldo deste longo período de dificuldades geradas pela pandemia – evocar “a simplicidade e essencialidade da Fé em Deus Nosso Senhor”, bem expressas em vida pelo santo de Navarra. Sempre privou e tomou posição junto dos mais humildes, o padre Francisco.

Pretende ainda a Igreja na Índia chamar a atenção para “as antigas práticas de devoção popular, como a peregrinação, a oração, a veneração dos santos”. Ao longo de um mês poderão os peregrinos das mais proveniências aproximar-se do corpo de Xavier e invocar a sua protecção especial. Mas não apenas os fiéis católicos. Também os hindus e os muçulmanos o veneram. Há até quem, vindo dos Estados vizinhos de Maharashtra e Karnataka, marche em grupo rumo a Goa durante oito dias, tendo em vista o tão ansiado “encontro espiritual com o santo”. Esperam com essa experiência curarem-se de males físicos e espirituais, e aos auspícios do missionário se entregam em sentidas preces. Pouco importa a cultura, a tradição, a casta ou a religião – todos veneram e amam essa figura a quem chamam amigavelmente “Goencho Saib”, ou seja, “protector de Goa”.

Ainda hoje, por toda a Ásia, Francisco Xavier é o mais venerado dos santos. Além do seu papel de evangelizador por excelência, exerceu funções de “Legado Pontifício” para os entrepostos portugueses no Oriente. Levou com sucesso a Boa Nova aos sofredores, aos escravos, aos doentes, sendo de destacar a sua acção evangelizadora junto dos paravás, os pescadores de pérolas da Costa da Pescaria (Sul da Índia). Tal como os “cristãos de São Tomé”, assim designados em memória do apóstolo de Jesus que viveu, pregou e morreu na Índia, eram perseguidos pelos muçulmanos. Percorrendo incessantemente as diversas aldeias, para eles Francisco traduziu as orações mais singelas, baptizou, fundou igrejas e escolas. Ainda hoje a figura do homem da sotaina preta brandindo um pequeno sino e ensinando o Pai Nosso, a Avé Maria, o sinal da cruz e os Dez Mandamentos mantém-se gravada na memória colectiva dos indianos. Não sobram loas para aquele que é considerado “o maior missionário da era moderna”; na realidade: um verdadeiro gigante da evangelização.

Conservadas num caixão de prata depositado numa das capelas da Basílica do Bom Jesus, na Velha Goa, as sagradas relíquias são retiradas para exposição ao público de dez em dez anos. A última vez que isso ocorreu foi em 2014. No passado dia 3, após uma missa comemorativa liderada por arcebispos indianos, milhares de crentes fizeram fila para beijar as relíquias enquanto, uma vez mais, em procissão e sob apertadas medidas de segurança, foram levadas da Basílica até à Sé Catedral onde ficarão expostas durante 44 dias. «A importância deste evento é tentar trazer de volta a Cristo a alma de cada um dos fiéis, pedindo-lhes que reflictam sobre o caminho de Fé percorrido por Francisco Xavier e o tentem imitar no seu zelo em torno do anúncio do Evangelho», disse à agência noticiosa FIDES o cardeal D. Felipe Neri Ferrão, arcebispo de Goa e Damão, lembrando que cerca de quatro milhões de pessoas visitaram as relíquias durante a última exposição do corpo incorrupto ocorrida em 2014. A deste ano, «extraordinária por ser programada dois anos antes do calendário habitual», serve também para preparar a exposição agendada para 2024, que dará aos fiéis tempo para fazer «o seu próprio e profundo caminho espiritual interior».

Francisco Xavier faleceu a 3 de Dezembro de 1552 na ilha de Sanchoão, com apenas 46 anos de idade. Exposto pela primeira vez à veneração pública na igreja de São Paulo em Goa, de 16 a 18 de Março de 1554, pouco depois da sua chegada a esse enclave, o corpo do santo seria então transferido para a actual basílica, construída em 1594, e, finalmente, em 1637, colocado num sepulcro de prata e vidro. Francisco Xavier seria canonizado em 1622, setenta anos após a sua morte.

Joaquim Magalhães de Castro

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