Carlos Lobo, Presidente da Câmara de Comércio de Angola em Macau

«Esperamos que Xi Jinping continue a promover as relações entre a China e Angola».

Presidente da recém-criada Câmara de Comércio de Angola em Macau, Carlos Lobo está optimista quanto ao estreitar das relações comerciais entre a RAEM e o país africano. A’O CLARIM, falou sobre o novo Presidente angolano, a indústria do Jogo e a liderança de Xi Jinping.

O CLARIMNas últimas semanas a Imprensa local entrevistou o embaixador de Angola na República Popular da China e o delegado angolano junto do Fórum Macau. O país africano esteve também em destaque na MIF deste ano. Será que este súbito interesse está relacionado com as últimas eleições presidenciais?

CARLOS LOBO – Julgo que são projectos com visão a longo prazo. Julgo que o grande interesse na RAEM tem a ver com a diversificação económica por parte de Angola. Macau é a plataforma escolhida por Pequim para os Países de Língua Portuguesa. Por isso, é natural que os empresários angolanos pensem em Macau. Há um grande dinamismo do empresariado de Angola relativamente a Macau. Obviamente, é algo que também se traduz na recente vinda do senhor embaixador [de Angola na China] a Macau, pela segunda vez em menos de seis meses, o que denota a abnegação pessoal que tem votado a Macau, e também em zelar pelos interesses do próprio Governo angolano.

CLVê no novo Presidente uma continuidade ou um corte explícito com o anterior poder angolano?

C.L. – Há inovação relativamente ao passado. O novo Presidente João Lourenço preparou uma campanha baseada num programa político reformulado, mas a base é o MPLA.

CLDentro do MPLA há várias facções…

C.L. – Olhando de Macau, vejo o MPLA como uno, mas não quer dizer que não haja pessoas com ideias diferentes. O que há é uma vontade de trabalhar por parte de todos. Há uma forma diferente de estar, da Presidência de Angola para a sociedade e para os objectivos com o exterior. Há continuidade porque estamos a falar do mesmo partido político, mas há claramente diferenças, porque se trata de uma pessoa mais nova, diferente, jovem, dinâmica e com vontade, à imagem do que ele [João Lourenço] disse: “Melhorar o que está bem e corrigir o que está mal”.

CLDepois da constituição de várias Câmaras de Comércio em Macau, foi agora a vez de Angola. Em que aspectos podem diferenciar-se das demais?

C.L. – O objectivo principal da Câmara de Comércio será o de fomentar o crescimento das relações comerciais entre Angola e a RAEM. Esperamos que esse interesse cresça e que apareçam resultados concretos e encorajadores.

CLQue projectos têm em carteira?

C.L. – Estamos numa fase inicial. A cerimónia da tomada de posse dos órgãos sociais está agendada para 1 de Novembro. Este é um projecto que começou a ser formado em Abril deste ano, aquando da primeira visita do senhor embaixador [angolano] a Macau. E se havia pessoas que já tinham ideias para dinamizar a comunidade angolana em Macau, foi em Abril que se percebeu que também havia vontade política para se avançar nesse sentido. O apoio do senhor embaixador e do Consulado de Angola na RAEM foi crucial para o nascimento desta Câmara de Comércio. Sem este apoio, a Câmara não existiria hoje.

CLÉ do conhecimento público que está intimamente ligado à indústria do Jogo. Que retrato faz ao sector em Macau?

C.L. – A indústria do Jogo está fortemente ligada à História de Macau. Olhando para o passado recente, percebe-se que em 1962 se iniciou uma fase, com a atribuição da primeira concessão à STDM. Em 1982, foi a nova lei do Jogo: a Lei n.º 6/82/M. Vinte anos depois, em 2002, Macau mudou outra vez com a nova lei do Jogo, e temos as concessões, em cujo processo estive envolvido. Em breve, chegaremos a 2022… São fases de vinte anos que transformaram Macau. Temos todas as razões para acreditar que vamos entrar numa nova era. Há grandes planos para Macau. Percebe isso quem acompanha o discurso político. Há vontade em olhar para esta região do Delta do Rio das Pérolas como uma área crucial da China para o resto do mundo. E Macau tem o seu papel…

CLAcredita que nada se vai alterar no actual panorama das licenças de Jogo?

C.L. – Julgo que o Governo da RAEM e a Assembleia Legislativa vão ser pragmáticos. Julgo que vai haver o bom senso de perceber que toda a gente tem um papel em Macau e que todas estas entidades que estiveram a mudar a face do território nos últimos vinte anos poderão continuar a ter um papel relevante na RAEM. Por outro lado, há que reconhecer que as sub-concessionárias trouxeram mais-valias para Macau. Julgo que as seis operadoras de Jogo estão por direito próprio a operar em Macau. A diferença entre as sub-concessionárias e as concessionárias – diria – é mínima. Por isso, não me chocaria nada se as sub-concessões passassem a concessões.

CLTerminaram os trabalhos do 19º Congresso do Partido Comunista Chinês. Como seria de esperar, Xi Jinping e a sua facção de apoio saíram reforçados…

C.L. – Esperamos que o Presidente Xi Jinping continue na linha do que tem vindo a fazer desde há já muito tempo, ao promover as boas relações entre a China e Angola. E não há razões para crer que isso mude. Muito pelo contrário! Desejamos que esta nova fase à qual vai presidir seja caracterizada por um maior crescimento das relações comerciais entre Angola e a China.

CLSão fortes as relações da China em Angola. O contrário já não é uma realidade…

C.L. – Isso é o que o Presidente João Lourenço pretende mudar, ao criar um maior dinamismo no empresariado angolano, tentando fazer com que haja maior exportação de bens e serviços de Angola para outras jurisdições, obviamente também para Macau, em particular, e para a China, em geral.

 

Liberdade religiosa garantida (Caixa)

Instado a comentar a situação da Igreja Católica em Angola, Carlos Lobo disse que «há liberdade religiosa» e condenou ao mesmo tempo o aproveitamento de certas denominações e seitas religiosas, tendo em vista o lucro. «As relações são boas entre a Igreja Católica e a Presidência. Sei que há vontade do Governo angolano em garantir o direito à liberdade religiosa, algo que vai continuar na linha de garantir que não há restrições às pessoas de praticarem a sua fé», sublinhou.

No discurso da sessão solene de abertura da nova legislatura, o Presidente João Lourenço referiu que «as igrejas são importantes parceiros do Estado, sobretudo quando cumprem o seu papel espiritual e social. Devemos estudar as medidas necessárias para impedir que certas denominações e seitas religiosas confundam fé com negócio e actividade espiritual e social com actividade empresarial». Na óptica de Carlos Lobo, trata-se de «uma posição correcta que muito dificilmente poderá ser criticada».

PEDRO DANIEL OLIVEIRA

pedrodanielhk@hotmail.com

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