A Vida Humana, acima de tudo.
O padre Luís Sequeira disse a’O CLARIM que se revê nas recentes declarações do Papa Francisco sobre a pena de morte, ao concordar que a punição «nunca é uma necessidade absoluta, nada pode justificá-la e deve ser condenada em absoluto».
«No meu entender, e na sua maneira de viver e de falar, o Papa Francisco está a conseguir trazer a fé e a dimensão de Deus para o contexto humano, procurando encarná-la no nosso dia-a-dia, nas nossas preocupações, em vez de permanecermos na fé, como uma realidade apenas doutrinal» frisou o jesuíta, pois tem «a impressão que a Igreja, como tal, perdeu um pouco o contacto com a humanidade».
«Sou contra a pena de morte quando um juiz decide tirar a vida a outra pessoa», referiu o padre Sequeira, acrescentando que tal não se põe nos casos em que «essa pessoa é morta quando ataca, fere e mata, e o outro ou os outros se defendem, como acontece com um polícia diante daquele que, numa praça, dispara a matar seja quem for». «São dois casos distintos», afiançou. «No primeiro caso, da decisão em tribunal de dar a morte a alguém, não deixa de ser uma transgressão contra o valor inviolável e absoluto da vida. No pensamento do próprio Papa, ele diz-nos: até mesmo naquilo que é admitido como possível, legalmente, não está de acordo. E eu também não estou, porque neste caso são os valores humanos da vida que estão em causa, enquanto no segundo caso nada mais é do que a defesa contra um perigo de morte para as pessoas, ou a uma escala maior, para nações e povos, ou até mesmo para a humanidade no sentido mais global e universal».
De igual forma, disse não compreender que, em pleno século XXI, se continue a aplicar a pena de morte em qualquer democracia ocidental, como sucede nos Estados Unidos.
«Pior ainda, quando se entra em sofismas: critica-se a China por aplicá-la. Mas é apenas uma questão de formalidade. Se tiverem tudo muito bem organizado no seu sistema legal, podem fazê-lo. Já na China, que é um pouco mais rústica e menos “segura” nos meios [judiciais], não pode fazê-lo», contrapôs o sacerdote, ao lembrar que «nos Estados Unidos houve casos em que a pena capital foi injustamente aplicada a pessoas que até eram inocentes».
Em jeito de conclusão: «Há que compreender a humanidade porque o homem não é perfeito. E, não sendo perfeito, pode conscientemente, e tantas vezes inconscientemente, tomar decisões criminosas que, com muita frequência, estão intimamente ligadas à evolução da sua personalidade e das tendências que vai adquirindo, as quais estão, por seu lado, profundamente relacionadas com o seu próprio percurso de vida, desde o ventre materno e, consoante os casos, passando pela infância e pela adolescência, até à idade adulta».
PEDRO DANIEL OLIVEIRA