Igreja tolerante, mas não mundana
A Igreja enfrenta uma crise de credibilidade, mas sujeitá-la «às práticas do mundo» não resolve qualquer um dos desafios com que se depara. O veredicto é do padre Grégory Woimbée, sacerdote diocesano francês, doutorado em História pela Universidade Sorbonne e em Teologia pela Pontifícia Universidade Gregoriana, em Roma.
Professor de Teologia no Instituto Católico de Toulouse – instituição da qual é vice-reitor –, o padre Grégory Woimbée direccionou o seu trabalho de investigação para o estudo da relação entre fé, razão e cultura, em particular para os actos de fé e a credibilidade do Cristianismo. O tema deu o mote, na passada terça-feira, a uma palestra nas instalações da Universidade de São José (USJ), em que o sacerdote e académico francês dissecou alguns dos principais desafios com que o Catolicismo contemporâneo se depara e a forma como se projectam na própria Doutrina da Igreja e colocam em causa a credibilidade da fé.
Três séculos de deísmo, ateísmo e indiferentismo, sustentou o padre Woimbée, provocaram danos iniludíveis e desgastaram a autoridade da Igreja, sendo que a única forma de restaurar a confiança entretanto perdida radica na sublimação da essência do Cristianismo: a mensagem de Jesus, constituído filho de Deus pelo Espírito Santo.
«Há uma crise da Igreja e a Igreja perdeu a sua credibilidade, mas a questão não é tanto a perda de credibilidade, mas sim a forma como podemos reconstruir essa credibilidade num contexto de perda de credibilidade por parte de muitas outras instituições. Não se trata apenas da Igreja. É óbvio que houve uma perda específica de credibilidade por parte da Igreja, em parte devido à questão dos abusos sexuais. Mas, aquilo que me parece importante sublinhar, é que a credibilidade advém não apenas da resposta a perguntas que necessitavam de ser respondidas, mas também em mostrar a verdadeira essência do Cristianismo», defendeu em declarações a’O CLARIM, acrescentando: «Concordo com o Papa quando diz que a Igreja não pode ser auto-referencial. Acho que por vezes a Igreja fala em demasia da Igreja. Também necessitamos de falar sobre Deus, falar sobre Cristo e sobre a verdadeira fonte da nossa fé. A Igreja é o local onde eu acredito, mas não é a fonte da minha crença. Isto devia estar bastante claro para a Igreja».
A redescoberta da essência do Cristianismo comporta desde logo, sublinhou o sacerdote, a rejeição da noção de que para recuperar a credibilidade perdida a Igreja se deve sujeitar e adaptar de forma indiferenciada às práticas do mundo. É necessário discernimento, argumentou, para que a Igreja mantenha intacto o sentido fundamental da sua missão. «O que significa fazer adaptações? Se a adaptação, neste contexto específico, serve para garantir que o Evangelho é melhor transmitido, então sim. Se significa importar o espírito do mundo para o seio da Igreja e sujeitar-se à mundanidade, não. Mas é necessário discernimento. Necessitamos, obviamente, de nos certificar que a mensagem é transmitida». Mais: «necessitamos de fazer tudo o que está ao nosso alcance para que missão seja bem-sucedida. Porque é de uma missão que se trata. A Igreja é a missão. Mas não podemos trazer para a Igreja todas as práticas do mundo: algumas são boas, mas outras de bom não têm nada», concluiu.
Marco Carvalho
LEGENDA: Padre Grégory Woimbée