Máquinas ou Humanos?
O Vaticano apresentou, na passada terça-feira, uma conferência sobre a chamada “robô-ética”, que vai decorrer no final de Fevereiro, debatendo questões e potenciais da robótica ou da genética, por exemplo.
“Hoje é possível intervir muito profundamente na matéria viva, usando os resultados obtidos pela física, genética e neurociência, bem como pela capacidade de cálculo de máquinas cada vez mais poderosas”, escreve o Papa Francisco na carta com que se associa à próxima Assembleia Geral da Academia Pontifícia para a Vida (APV), no 25.º aniversário da instituição.
O texto, divulgado pela Santa Sé, tem como título “Humana communitas” (“A comunidade humana”), convidando à reflexão sobre as novas tecnologias, definidas hoje como “emergentes e convergentes”.
“Trata-se das tecnologias de informação e comunicação, as biotecnologias, as nanotecnologias e a robótica. O corpo humano também é susceptível a intervenções que podem modificar não apenas as suas funções e desempenhos, mas também as suas formas de relacionamento, a nível pessoal e social, expondo-o cada vez mais à lógica do mercado”, refere o Pontífice.
A APV vai promover, de 25 a 27 de Fevereiro, no Vaticano, uma assembleia dedicada ao tema “Robô-ética. Pessoas, máquinas e saúde”.
O Papa sublinha que é necessário “compreender as profundas mudanças que são anunciadas nessas novas fronteiras”, a fim de poder orientá-las para o serviço da pessoa, “respeitando e promovendo a sua dignidade intrínseca”.
“Uma tarefa muito exigente, que requer um discernimento ainda mais atento do que o habitual, devido à complexidade e incerteza de possíveis desenvolvimentos”, admite.
Francisco saúda os “numerosos e extraordinários recursos” que são postos à disposição da humanidade pela pesquisa científica e tecnológica, mas adverte que os mesmos “correm o risco de obscurecer a alegria que resulta da partilha fraterna e da beleza de iniciativas comuns”.
“A Igreja é chamada a relançar vigorosamente o humanismo da vida que surge da paixão de Deus pela criatura humana”, aponta a carta que assinala os 25 anos da criação da Academia Pontifícia para a Vida.
O organismo fundado por São João Paulo II tem novos estatutos de 2016, com o objectivo de fazer com que a sua reflexão tenha em conta “o crescente ritmo da inovação tecnológica e científica”.
Francisco denuncia o que classifica como “degradação do humano” e o paradoxo do “progresso”, falando num “estado de emergência”, que se estende ao plano ambiental. O Papa propõe ainda uma nova perspectiva ética universal, “atenta aos temas da criação e da vida humana”.
A APC, com 151 membros dos cinco continentes, é elogiada pelo “compromisso com a promoção e protecção da vida humana em todo o seu desenvolvimento, a denúncia do aborto e da eliminação do doente”.
Em 2020, o Vaticano vai promover uma assembleia sobre a Inteligência Artificial.
In ECCLESIA