Uns em barcos a remos, outros em iates

Uns em barcos a remos, outros em iates

GOVERNO PORTUGUÊS PROÍBE ACTIVIDADES AO AR LIVRE… SALVO MUITAS EXCEPÇÕES

Nestes últimos dias, depois do relaxamento das medidas de confinamento do Governo português, temos assistido a um gradual retorno à normalidade. Os números oficiais parecem reflectir um pequeno agravamento da situação, mas nada que seja alarmante.

Porque a quarentena não resolveu o problema, tenho para mim que se deve voltar à normalidade (não à normalidade que se vivia antes da pandemia, mas a uma em que todos tenhamos de ser mais altruístas e preocupados com os outros), tendo sempre em atenção as medidas de higiene.

De facto, as medidas extremas que o Governo adoptou não surtiram os efeitos desejados. Claro que resultou em certa medida, pois no início se o recolher não tivesse sido imposto a situação seria agora bem pior. Acontece que mesmo durante o isolamento os indicadores foram-se mantendo nos mesmos níveis, pelo que considero que é tempo de olhar para outras prioridades, nomeadamente as económicas e sociais. As pessoas têm de comer, e para poderem comprar comida têm de ganhar dinheiro. É hora de colocar a economia a funcionar e tentar debelar os efeitos desta paragem forçada.

Acredito que durante as últimas semanas todos aprendemos que a realidade agora é outra e que temos de viver, principalmente nos tempos mais próximos, mais atentos e preocupados com os outros. Mantendo-se em vigor as medidas de prevenção, o contágio será muito menor e as actividades económicas podem começar, fazendo o País seguir em frente.

Neste contexto, na última semana foi anunciado um pacote de medidas com vista ao reatar da actividade económica, o qual tem sido alvo de imensas críticas. Por exemplo, o facto do Governo ter optado por fasear os sectores de actividade fez com que alguns sectores se sentissem menosprezados – uma insatisfação que tem vindo a ser veiculada de várias formas.

Quando nos estiver a ler, já deverá ter sido cumprida mais uma das etapas do relançamento da economia, que inclui a abertura de restaurantes e similares. Há dias foram autorizadas as feiras e outras actividades económicas ao ar livre. No entanto, continuam proibidos todos os eventos de música (festivais) até ao final de Setembro, bem como todas as romarias e feiras de grande escala (Expofacic, em Cantanhede; Feira de São Mateus, em Viseu; Feira de Março, em Aveiro, entre outras). Esta medida veio afectar-nos directamente, pois este ano não iremos conseguir atingir o pico de negócio. Ainda assim, como temos outras opções, não estamos muito preocupados. Não deixamos é de pensar nos nossos colegas que exploram os carrosséis e outras diversões que se vêem nas romarias e festas de Norte a Sul do País. Estão sem nada para fazer e não conseguem arranjar soluções para minimizar o impacto negativo das medidas do Governo. Até os apoios prometidos pelo Executivo são apenas uma gota de água. Não nos podemos esquecer que estas pequenas empresas são o sustento de muitas famílias.

Se os grandes festivais, como o MEO Sudoeste ou o Paredes de Coura, não tiveram qualquer problema em cancelar as suas programações, dando créditos para quem lhes havia comprado bilhete, outros não podem fazer o mesmo. Havia dois eventos agendados para Portimão, o AfroNation e o Rolling Loud (organizados pela mesma promotora, a britânica “Horizon”), em que iríamos participar e que foram cancelados, o que obrigou ao reembolso na ordem dos milhões de euros a quem já havia comprado os ingressos. Só para se ter um ideia, mais de oitenta por cento dos ingressos foram vendidos a jovens estrangeiros, sendo que muitos vinham de propósito ao nosso país para assistir aos dois eventos da “Horizon”. Cada bilhete, na versão mais barata, custava duzentas libras! Se juntarmos viagem de avião, estadia e alimentação, não será difícil compreender porque é que a “Horizon”, só no ano passado, pagou quinhentos mil euros ao Município de Portimão para ter acesso exclusivo à zona este do areal da Praia da Rocha, durante uma semana. De acordo com a “Horizon”, já foram reembolsados mais de vinte milhões de euros.

Ao mesmo tempo que tudo isto acontece, o Partido Comunista Português (PCP) finca o pé e mantém a intenção de organizar a Festa do Avante. É que segundo os comunistas, o Avante não é um festival de Verão. Tendo em conta os apoios de que o Governo socialista necessita para poder governar, é óbvio que o Executivo liderado por António Costa teve de ceder a mais esta exigência da esquerda parlamentar. Entretanto, também o Partido Social Democrata (PSD) anunciou que não irá cancelar a sua Universidade de Verão e outros partidos fizeram anúncios semelhantes. É caso para dizer que há medidas para uns e medidas para outros, ou melhor, que a maioria tem de cumprir o que é estipulado pelo Governo, havendo muitas minorias que estão isentas de o fazer.

Dado que a actual realidade se deverá manter por mais algum tempo, decidimos abrir ao público a carrinha de comida tailandesa num terreno da nossa família, que fica junto à estrada nacional. Felizmente, a aceitação tem sido muito boa. Ao mesmo tempo temos encetado esforços para encontrar outras soluções e para já agendámos mais presenças no AlfraPark, em Lisboa, onde iremos estar nos meses de Julho, Agosto, Setembro e Outubro. Se tudo correr como previsto, também em Outubro iremos a Córdoba, em Espanha, participar num evento que ali se vai organizar. Entretanto, esperamos por melhores dias, pois apesar de dizerem que “estamos todos no mesmo barco”, tal não é verdade! Quanto muito estamos todos na mesma tempestade. Só que uns em barcos a remos e outros em iates….

João Santos Gomes

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