Farmácias chinesas nos hospitais portugueses
Os hospitais portugueses podem, muito em breve, passar a contar com farmácias de medicina chinesa, segundo adiantou a’O CLARIM o director do Instituto Confúcio da Universidade de Coimbra, João Corrêa-Cardoso. É uma medida que conta com o apoio do Ministério da Saúde de Portugal.
Doutorado em Linguística Portuguesa pela Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, onde é professor auxiliar, João Corrêa-Cardoso foi escolhido para presidir à parte portuguesa do Instituto Confúcio da Universidade de Coimbra (IC-UC) ainda antes deste ser inaugurado a 4 de Julho deste ano. Sendo o mais recente Instituto Confúcio de Portugal, assume-se «diferente»; uma diferença que passa pela aposta no campo da Medicina, em que Coimbra é o expoente máximo em Portugal.
A sua actividade, além de outras áreas mais tradicionais dos Institutos Confúcio, como é a disseminação da língua e cultura chinesas, irá focar-se, primordialmente, na promoção da Medicina Chinesa em Portugal e no meio dos clínicos portugueses, foi salientado pelo reitor da Universidade de Coimbra durante a cerimónia de criação do Instituto.
Mais do que retomar uma «ligação antiga entre a Universidade de Coimbra e a China», o reitor João Gabriel Silva afirmou, em palavras registadas pelo jornal interno da instituição de ensino, que o IC-UC «pretende ser um espaço de desenvolvimento da Medicina Tradicional Chinesa em Portugal».
Na cerimónia, onde marcaram presença os directores de todos os Institutos Confúcio da Lusofonia (quatro de Portugal, três do Brasil e um de Angola), ficou vincada a vontade de se criar uma plataforma Lusófona no seio da organização do Instituto Confúcio. Aliás, este tema já voltou a ser abordado numa reunião em Braga onde marcaram também presença todos os directores chineses dos Institutos Confúcio em Portugal.
A par da secular relação que existe entre a instituição de ensino de Coimbrã e o Oriente, nomeadamente com a China, há mais de uma década que existe um curso de pós-graduação em Acumpunctura, direccionado aos médicos portugueses que queiram aprofundar os seus conhecimentos. A Universidade de Coimbra é a única instituição de ensino superior em Portugal que credencia clínicos nesta área de conhecimento milenar.
Na conversa com João Corrêa-Cardoso ficámos a saber que está nos planos do IC-UC contribuir para que Coimbra continue a ser uma referência na prestação de serviços à terceira-idade, uma actividade que pode vir a ser um atractivo para a China.
A importância que a Universidade de Coimbra atribui ao novo Instituto Confúcio está bem patente no local que foi escolhido para albergar as instalações – nada mais, nada menos, do que o próprio edifício do Colégio de Jesus, de onde partiram grande parte dos Jesuítas para a Ásia, nomeadamente para a China. O nome mais marcante, entre muitos outros, é o de Mateus Ricci, que ali estudou antes de seguir para o Império do Meio onde deixou obra marcante até aos dias de hoje.
Ao disponibilizar parte das estruturas do Colégio de Jesus, junto à Sé Nova, no complexo da Universidade de Coimbra, a Reitoria quis enviar uma mensagem clara relativamente à importância que o Instituto Confúcio tem para a Universidade e para a própria cidade.
A Universidade de Coimbra tem uma relação secular com a China, que começou com a criação do primeiro colégio jesuíta no século XVI e que deu origem a um espólio riquíssimo de documentos, artefactos e outros objectos que retratam os contactos entre os dois países. O IC-UC pretende dar a conhecer este legado de forma mais abrangente, através de mostras constantes nas suas instalações.
De acordo com João Corrêa-Cardoso, o Instituto propõe-se a realizar, regularmente, uma série de iniciativas académicas, culturais e artísticas, envolvendo Portugal e a China, tendo igualmente no horizonte a criação de condições, em coordenação com a comunidade chinesa da região Centro de Portugal, que possibilitem leccionar Mandarim aos filhos dos chineses ultramarinos. No futuro poderá mesmo surgir a primeira escola chinesa de Portugal.
O IC-UC prepara-se para iniciar actividades no segundo semestre do presente ano lectivo. A par do curso de Medicina Chinesa vocacionado para os clínicos portugueses e dos cursos direccionados aos filhos da diáspora chinesa, está nos planos a criação de cursos de Chinês para funcionários administrativos da própria Universidade e cursos especiais de Mandarim e Cultura Chinesa para alunos de Coimbra que estejam envolvidos em projectos de intercâmbio com universidades da China. Para tudo isto, como nos esclareceu o responsável, será contratado um corpo docente nativo de língua chinesa, quase na sua totalidade proveniente da China. O processo de selecção já teve início e incide, na primeira fase, em bilingues de Mandarim e Português.
À semelhança dos outros Institutos Confúcio de Portugal e espalhados pelo mundo, o IC-UC quer estender o ensino do Mandarim e a divulgação da cultura chinesa às escolas públicas do Distrito de Coimbra. Ainda não existe nada em concreto, mas João Corrêa-Cardoso deixou escapar que há bastante interesse de várias escolas secundárias e primárias da zona de Coimbra.
JOÃO SANTOS GOMES